Os senadores da bancada do PT reagiram com veemência à atitude criminosa do ex-deputado Roberto Jefferson, aliado de Jair Bolsonaro, que atacou com tiros de fuzil e granadas agentes da Polícia Federal nesse domingo (23). Para os parlamentares, o amigo de Bolsonaro colocou em prática o discurso golpista e violento propagado pelo atual Presidente da República.
“Bolsonaro diz que nem sequer tem fotos com o seu aliado Roberto Jefferson. Ele [Bolsonaro] defende armar a população. Agora sabemos para quê: para que seus aliados atirem em policiais trabalhadores que estavam fazendo seu dever”, disse o senador Paulo Rocha (PA), líder da bancada do PT.
O senador Jean Paul (PT-RN), líder da Minora, disse que a ação criminosa de Jefferson representa “uma escalada da violência política e do clima de ódio”, resultado direto do discurso de Bolsonaro.
“A sociedade democrática exige diálogo. O estímulo à violência é nocivo ao Brasil, e não pode fazer parte de debate público, justamente por aniquilar o diálogo. É preciso que permaneçamos atentos para repudiar essa manifestação de violência, reforçando nosso compromisso com a manutenção do Estado Democrático de Direito”, defendeu o senador.
O senador Jaques Wagner (PT-BA) reforçou a crítica e classificou como “deplorável” a atitude.
“Ele [Jefferson] já havia xingado a ministra Carmen Lúcia, o ministro Alexandre de Moraes e, ontem, partiu para a agressão contra a Polícia Federal que estava trabalhando e levando uma ordem de prisão. Ninguém precisa concordar com as decisões do STF, mas é a suprema corte e precisa ser respeitada, disse.
Bolsonaro tentou se desvencilhar de seu parceiro, mas durante o dia chegou a enviar o ministro da Justiça, Anderson Torres, para tratar pessoalmente do caso. Manifestação de preocupação que não ocorre nas demais ocorrências policiais existentes no Brasil. Além disso, a prisão só foi, de fato, efetuada após nova deliberação de Alexandre de Moraes alertando para o fato de aqueles que trabalhassem contra a ordem de prisão estariam prevaricando, ou seja, retardando um ato de ofício.
De acordo com reportagem da jornalista Malu Gaspar, de O Globo, Jefferson, que estava em prisão domiciliar, tentou convencer durante meses o aliado Jair Bolsonaro a conceder-lhe o perdão presidencial, o mesmo dado ao deputado Daniel Silveira, em abril. Jefferson foi preso em agosto do ano passado após ataques contra o STF.
“Roberto Jefferson é um terrorista. Atenta contra a vida de policiais para incendiar o golpismo bolsonarista com a fagulha que falta e aposta, para isso, num indulto presidencial. É preciso dar um basta à desordem fascista nesse país, antes que seja tarde demais”, disse o senador Fabiano Contarato (PT-ES).
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) lembrou o fato de Roberto Jefferson ser uma espécie de coordenador informal da campanha de Jair Bolsonaro e classificou o episódio do último domingo como uma “distopia”.
“Que distopia é essa em que um político reage com tiros e granadas? Chega de desespero e violência. Nosso Brasil não é esse, queremos paz, queremos esperança”, disse.
O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), enfatizou que Jefferson não é apenas aliado de Bolsonaro, mas “representa tudo aquilo que o presidente defende”.
“Os bolsonaristas dizem defender a polícia, mas atiram em policiais. Eles dizem defender a igreja, mas atacam até padres. Eles dizem defender a família, mas os lares brasileiros sofrem com a fome. É preciso dar um basta em quem mente para tentar ganhar o seu voto”, finalizou.
Policiais e ex-ministros reagem
Um grupo formado por policiais, ex-ministros e juristas divulgou, nesta segunda-feira (24), uma carta intitulada “Segurança Pública: em defesa da Vida e da Cidadania”. No documento, eles se solidarizam com os policiais feridos por Roberto Jefferson e criticam as políticas de segurança de Jair Bolsonaro.
Segundo o painel da Folha de S. Paulo, o documento foi articulado pelo presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima. Assinam a carta 91 pessoas, entre elas os ex-ministros Miguel Reale Jr. (Justiça) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente), advogados como Pedro Abramovay e Pierpaolo Bottini, a cientista política Ilona Szabó de Carvalho e o procurador de São Paulo aposentado José Afonso da Silva.
Em trecho do documento, eles dizem que a gestão Bolsonaro não possui uma política nacional de segurança pública efetiva e “fomenta a insegurança com seu discurso de armar a população e o de incentivar a truculência e a violência estatal.”
Eles citam desmontes em políticas de enfrentamento à lavagem de dinheiro e de rastreamento dos bens das organizações criminosas, além da fragilização das políticas de prevenção e de combate à violência contra mulheres, crianças e adolescentes.