Reforma da Previdência

Erros da reforma provocarão vácuo jurídico, alertam especialistas

Estamos estudando uma PEC Paralela para corrigir uma PEC que está sendo aprovada contendo erros, aponta Diego Monteiro Cherulli
Erros da reforma provocarão vácuo jurídico, alertam especialistas

Foto: Alessandro Dantas

A negativa do Senado Federal em promover alterações significativas no projeto de Reforma da Previdência de Bolsonaro (PEC 6/2019) para acelerar a promulgação do projeto foi duramente criticada por especialistas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em audiência pública nesta quinta-feira. Segundo os técnicos, o projeto contém erros que serão inseridos no texto constitucional, o que exigirá correções futuramente. Os debates ocorreram durante a segunda audiência para debater a PEC Paralela à Reforma da Previdência (PEC 133/2019).

Exemplo dado pelo secretário-geral do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Diego Monteiro Cherulli, aponta para o período de contribuição mínimo para que o homem se habilite ao benefício da aposentadoria. Na PEC 6, aqueles que ingressarem no mercado de trabalho após a promulgação das novas regras precisarão ter 20 anos de contribuição. Já a PEC Paralela relatada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) deve propor o retorno do período contributivo para 15 anos.

“Aprovando-se a PEC 6 nós abrimos, infelizmente, um espaço de insegurança jurídica e um precedente muito perigoso. Estamos estudando uma PEC Paralela para corrigir uma PEC que está sendo aprovada contendo erros. Como o Judiciário vai resolver esse problema? Depois que aprovar a proposta com 15 anos de contribuição, essa norma vai retroagir? Olha o imbróglio jurídico que se vai gerar”, alertou.

Já a mestre em Direito Previdenciário, Thais Maria Riedel de Rezende Zuba, alertou para o cálculo geral adotado pelo governo Bolsonaro para promover alterações nas regras dos benefícios de aposentadoria programados e aqueles não-programados, como auxílio-doença e aposentadoria por invalidez.

Para ela, exigir que um trabalhador contribua por 40 anos para ter acesso à aposentadoria integral e fazer a mesma exigência ao trabalhador que venha a ficar inválido é penalizar o cidadão por ter tido o “azar de ficar doente”.

Outro ajuste que deve ser feito, na avaliação de Thais, é o cálculo que vincula a idade do trabalhador ao tempo de contribuição para concessão de aposentadorias especiais. “Esse é um erro técnico grave. O cálculo tem prejudicado essas situações específicas”, alertou.

“Quem trabalha em área periculosa, insalubre ou penosa vai perder tudo. Nossa aposentadoria é de 25 anos [de contribuição] e agora estão querendo vincular com a idade mínima. O cidadão começou a trabalhar com 20 anos, mais 25 de atividade, soma 45 anos. E daí? Como fica o restante do período? É tão absurda essa reforma. A população não sabe o que está acontecendo aqui dentro [no Congresso]”, criticou o senador Paulo Paim (PT-RS).

O deputado distrital Chico Vigilante (PT) afirmou que a nova regra penalizará cerca de 4 milhões de vigilantes que atuam pelo País. “Imaginem uma mulher vigilante com 62 anos de idade. A vida útil de um vigilante para uma empresa é muito curta. Com 45, 50 anos de idade ele está sendo substituído porque as empresas querem pessoas mais jovens. E esse idoso vai fazer o que? ”, questionou.

Foto: Alessandro Dantas

Punição aos mais pobres
O consultor legislativo Luiz Alberto dos Santos alertou para o fato de que o texto atual da PEC 6, após aprovação em primeiro turno no Senado, conseguirá obter R$ 800 bilhões em economia ao longo dos próximos dez anos, sendo que 78% desse valor será obtido por meio de impacto sobre os segurados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

“Daí a necessidade de o Senado cumprir seu papel e promover ajustes ainda na PEC 6 para evitar esse impacto, reduzir a perda para a sociedade brasileira e evitar os efeitos recessivos da PEC 6 com retirada de recursos da economia e o empobrecimento das famílias brasileiras”, destacou.

Luiz ainda destacou dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo aponta que em 2018, as aposentadorias e pensões representaram 20,5% da renda domiciliar per capita. Montante que tem aumentado em decorrência da crise econômica. No ano anterior esse percentual era de 19,9%.

“Sem a recuperação da economia, esse quadro se agravará ainda mais. Com a aprovação da PEC 6, sequer haverá esse colchão de segurança que os benefícios previdenciários ainda conseguem assegurar”, enfatizou Luiz Alberto.

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