Avança projeto que restringe o uso de psicofármacos por crianças

Ângela e Humberto: juntos, contra a medicalização infanto-juvenilA possibilidade de que o avanço da medicalização infanto-juvenil esteja associada muito mais a demandas sociais e familiares que a problemas de saúde levaram a senadora Ângela Portela (PT-RR) a apresentar um projeto (PLS 247/2012) para tentar frear o uso indiscriminado de psicofármacos por crianças e adolescentes. A iniciativa ganhou a simpatia do senador Humberto Costa (PT-PE) que orientou, como médico e relator, sua a aprovação na Comissão de Direitos Humanos (CDH) nesta quarta-feira (12).

 

“Não podemos querer que todas as crianças e adolescentes se comportem de maneira igual”, avalia Ângela Portela. “Existem as diferenças de caráter e de temperamento, que serão naturais nas pessoas e tentar normatizar o padrão de comportamento do ser humano é uma coisa absurda”, continua a senadora, ao explicar que a ideia de apresentar o projeto de lei surgiu após tomar conhecimento de estudos e ouvir relatos de educadores sobre o “boom dos psicofármacos”.  

Em ranking mundial, desde 2009, o Brasil ocupa o posto de segundo maior consumidor mundial da Ritalina – o psicofármaco mais popular, também apelidado como “droga da obediência”. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o número de caixas do remédio vendidas no Brasil passou de 2,1 milhões em 2010 para 2,6 milhões em 2013. E uma pesquisa do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) aponta que houve um aumento de 775% no consumo da droga.

Diante desses dados, Humberto entendeu como “meritória” a proposta da colega, por tentar sanar uma “grave tendência” de tentar transformar, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos. “Essa postura gera sofrimento psíquico nas crianças e nos adolescentes e em suas famílias. Tornando-se ‘doentes’ estigmatizados, muitas vezes ficam excluídos social, afetiva e educacionalmente”, alertou o senador.

Ao encaminhar a votação do projeto, Humberto Costa sugeriu que a iniciativa fosse aprovada com as melhorias apresentadas pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Inicialmente, o projeto sugeria um diagnóstico mais cauteloso e detalhado para a prescrição do remédio. Entretanto, por entender que a prescrição de medicamentos encontra-se devidamente regulamentada em outras dispositivos legais, a matéria foi modificada para prever, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a necessidade de campanhas de educação sanitárias, promovidas pelo poder público, para advertir sobre o uso indiscriminado, desnecessário ou excessivo desse tipo de medicação.

Tramitação

Aprovado em caráter terminativo na CDH, o PLS 247/2012 segue para a Câmara dos Deputados.

 

Catharine Rocha

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