A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato, afirmou nesta quinta-feira à CPI da Covid que a ausência de uma campanha de vacinação com mensagem clara para a população e a politização promovida por Bolsonaro, pregando mensagens contrárias à eficácia das vacinas, prejudicaram o controle da pandemia no Brasil.
“A vacinação mudou o cenário epidemiológico do país há muitos anos. Não dá para colocar em dúvida. E ter uma politização do assunto por meio do líder da Nação, traz dúvidas para a população. Então, há necessidade de ter uma comunicação única”, disse.
“Para um programa de vacinação ter sucesso é simples. É necessário vacinas e campanha publicitária efetiva. E, infelizmente, eu não tive nenhum dos dois”, criticou a ex-coordenadora, que teve sua exoneração publicada ontem. Ela coordenava o PNI desde outubro de 2019.
O Brasil, lembrou o senador Rogério Carvalho (PT-SE), não contou com o apoio do presidente da República no que tange a proteção da população brasileira contra o novo Coronavírus. Para ele, Bolsonaro deveria ter dado exemplo e influenciar positivamente, como chefe do Poder Executivo, a população a confiar na eficácia das vacinas.
“O agente desta construção que provocou tanto sofrimento ao Brasil chama-se Jair Messias Bolsonaro. A falta de vacinas foi uma opção política cruel. Nós vimos em vários vídeos membros que aconselhavam o presidente questionarem a eficiência da vacina”, lamentou o senador Rogério.
O PNI é ligado ao Departamento de Imunização e doenças transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e é responsável por definir os calendários de vacinação considerando a situação epidemiológica, com orientações específicas para crianças adultos, gestantes, idosos e povos indígenas.
O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que o depoimento de Francieli deixou claro que o governo Bolsonaro errou ao não priorizar a compra de vacinas no primeiro momento para controle da pandemia. E, apesar do ritmo lento do processo de vacinação, os índices de mortes e contaminações por Covid-19 tem caído rapidamente neste ano, deixando explícito que a estratégia adotada por Bolsonaro ao estimular aglomerações e remédios ineficazes contribuiu para as mais de 500 mil mortes por Covid-19 no país.
“A cada vez que debatemos esse tema, nós ficamos mais convencidos de que a condução que esse governo deu ao tema ‘aquisição de vacinas’ foi trágica. Nós sequer superamos 14% da população vacinada com as duas doses e a quantidade de casos e de mortes reduziu significativamente. A postura e o procedimento que o governo teve foram marcados por equívocos”, destacou o Humberto.
Elcio Franco surge novamente
O nome do coronel Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, considerado número dois de Eduardo Pazuello, voltou a surgir na CPI como responsável por uma serie de atos, no mínimo, condenáveis tomados durante a pandemia.
Francieli informou durante seu depoimento que partiu do coronel a ordem para retirar do PNI pessoas privadas de liberdade (presidiários).
A servidora diz não recordar a data exata em que Elcio determinou a retirada. “O plano saiu no dia 16 de dezembro [de 2020]. Então, foi um pouco antes, na primeira quinzena de dezembro”, explicou Franciele.
Elcio Franco também foi apontado por Francieli como o responsável pela decisão do Brasil ter comprado apenas 10% de doses de vacinas por meio do consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, ela afirmou não ter sido consultada antes de o governo brasileiro ter tomado tal decisão.
O consórcio permitia a compra pelos países de vacinas para até 50% do tamanho da população.
“Essa gestão não foi do Pazuelo, foi do Elcio Franco. Quantos brasileiros ele não levou para o cemitério com esse procedimento? A mando de quem ele estava matando gente? A mando de quem ele estava levando os brasileiros a morte?”, questionou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI.
Francieli é retirada da lista de investigados
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, anunciou que decidiu retirar o nome da ex-coordenadora do PNI da lista de investigados da comissão. A sugestão partiu do vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues.
CPI vai cobrar posição de Bolsonaro
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), informou durante o depoimento de Francieli Fantinato que o colegiado enviará uma carta para Bolsonaro. O objetivo da iniciativa é cobrar uma posição sobre as acusações do deputado Luis Miranda (DEM-DF). Omar Aziz, destacou que Bolsonaro está há 12 dias sem dar uma resposta sobre a fala de Miranda.
“É só uma resposta, presidente. O Brasil quer ouvir de Vossa Excelência. Senhor presidente, chefe dessa grande nação brasileira, na qual vossa excelência, como presidente, tem várias pessoas que torcem pelo seu governo, como eu torço para que o Brasil dê certo. Por favor, presidente, diga para a gente que o deputado Luis Miranda é um mentiroso. Diga, diga à nação brasileira que o deputado Luis Miranda está mentindo, que seu líder na Câmara é um homem honesto”, cobrou Omar Aziz.