assuntos econômicos

Comissão aprova proposta de Contarato com regras para impedir garimpo ilegal de ouro

Proposta do PT deve conferir maior transparência e controle nas operações relacionadas ao garimpo, transporte e comercialização de ouro em território nacional

Alessandro Dantas

Comissão aprova proposta de Contarato com regras para impedir garimpo ilegal de ouro

Proposta de Fabiano Contarato passará por mais uma votação antes de ir para a Câmara

O Brasil está mais próximo de ter regras claras destinadas a coibir a prática do garimpo ilegal de ouro no país, além de regulamentar toda a cadeia de comercialização de ouro. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou, por unanimidade, nesta terça-feira (12/3), substitutivo ao Projeto de Lei (PL 836/2021). Como passou por modificações, a proposta ainda passará por votação em turno suplementar no colegiado, antes de seguir para a Câmara dos Deputados.  

Além de proibir a comercialização de ouro retirado de territórios indígenas, independentemente do estágio em que se encontra o processo de demarcação da reserva, e de unidades de conservação de proteção integral, o texto altera a legislação associada ao sistema financeiro quanto à comercialização do metal. A intenção é conferir rastreabilidade à cadeia de produção e fechar o cerco contra a lavagem do dinheiro com ouro extraído em garimpo ilegal. A proposta ainda traz regras sobre a produção, a venda e o transporte de metal 

“Essa é uma realidade mundial. A rastreabilidade [do ouro] já ocorre em diversos segmentos, e isso vai afetar a relação do Brasil com o mundo. Também dará segurança e sustentabilidade para qualquer pessoa que esteja trabalhando diretamente com o ouro. O nosso foco é combater o garimpo ilegal”, destacou o senador Fabiano Contarato (PT-ES), autor do projeto. 

Antes da reunião que culminou na aprovação do projeto, a CAE realizou audiência pública com especialistas para esclarecer dúvidas dos parlamentares acerca da realidade atual do mercado do ouro no país.  

O representante do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), Giorgio de Tomi, relatou o fato de o Brasil perder recursos estratosféricos com a ilegalidade na exploração do ouro em território nacional. De acordo com o dado apresentado pelo especialista, o Brasil não arrecada praticamente nada com a exploração de ouro em solo nacional.  

“Esse é um caminho [da regulamentação] sem volta. Quem consome ouro é o setor joalheiro. No mundo, 70% do ouro produzido vai para a joalheira [de forma legal]. No Brasil, esse índice é de apenas 10%. O restante é exportado. Isso significa que temos uma oportunidade de ganho e fortalecimento da nossa cadeia de valor”, destacou Giorgio, ressaltando a importância da aprovação da proposta. 

Jaques Wagner alerta para volume de recursos perdidos pelo país com o garimpo ilegal

O líder do Governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também chamou a atenção para o dado exposto pelo especialista e apontou para a necessidade de o Brasil fechar o cerco contra o garimpo e a comercialização ilegal do ouro, ainda mais por se tratar de um ativo financeiro com alto valor e tão procurado no mundo.  

“Possivelmente o ouro tem sido contrabandeado, perdendo valor e ninguém sabe onde vai parar. E mesmo que saia legalmente [pela exportação], perdemos a oportunidade de desenvolver no país uma indústria de joalheria que é altamente agregadora e poderia empregar muita gente especializada. Estamos jogando dinheiro fora”, alertou o líder. 

Segundo a ONG Instituto Escolhas, entre 2015 e 2020, foram comercializadas 229 toneladas de ouro com graves indícios de ilegalidade, o que equivale a cerca de metade da produção nacional.  

Grupos organizados exploram o ouro ilegalmente 

O projeto do senador Fabiano Contarato, de acordo com o secretário-executivo adjunto do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Marivaldo de Castro Pereira, será uma importante ferramenta para coibir a exploração ilegal de ouro no país.  

Para Marivaldo Pereira, projeto é fundamental para coibir a extração ilegal de ouro

Ele relatou aos senadores que não é mais possível confundir os antigos garimpeiros com as megaestruturas organizadas nos dias de hoje para extrair ouro ilegalmente, inclusive, em territórios indígenas.  

“Não é à toa que tivemos, no Brasil, um boom do garimpo ilegal nos últimos anos. Rapidamente, quando a Polícia Federal se organizou para voltar a enfrentar o problema, logo detectou a presença de vários fatores que indicam a atuação do crime organizado na exploração do garimpo ilegal no Brasil. É dever do Estado regulamentar essa atividade para minimizar os danos causados à sociedade”, explicou.   

O que diz o projeto 

– O ouro será considerado ativo financeiro ou instrumento cambial até a sua primeira venda, que será exclusiva para instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil; 

– A primeira venda do ouro somente poderá ser realizada pelo titular da permissão de lavra garimpeira ou mandatário legalmente constituído, expressamente autorizado e devidamente registrado em sistema eletrônico da Agência Nacional de Mineração (ANM); 

– As instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil deverão registrar, junto à Agência Nacional de Mineração (ANM), todas as aquisições de ouro identificando a origem; 

– O transporte e a custódia de ouro, independentemente de sua natureza, para qualquer parte do território nacional, deverão ser acompanhadas da respectiva Guia de Transporte e Custódia de Ouro; 

– O ouro acompanhado por documentação fiscal irregular estará sujeito à apreensão e ao perdimento, sem prejuízo da responsabilização cível e criminal. 

Dentre as mudanças promovidas pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO), relator do projeto, está o uso de termos utilizados pelos órgãos que cuidam dos processos minerários, evitando novas expressões, como “lastro minerário” e “lastro ambiental”, presentes na redação original do projeto.  

O relator propôs, ainda, tornar obrigatória a exigência de emissão eletrônica da nota fiscal em operações de ouro, de modo a conferir maior controle a essas transações.  

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