Em discurso nesta sexta-feira (1º/12) na sessão de abertura da Presidência da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em Dubai, o presidente Lula cobrou das potências mundiais, responsáveis pelas maiores emissões de gases poluentes do planeta, o cumprimento dos compromissos estabelecidos para o enfrentamento do aquecimento global.
“O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. De discursos eloquentes e vazios. Precisamos de atitudes concretas. Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?”, questionou o presidente. “O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial”, criticou.
Ao falar sobre a gravidade da crise climática, Lula chamou a atenção para o fato de 2023 ter sido considerado o ano mais quente em 125 mil anos, com a humanidade sofrendo com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes. “No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte”, relatou.
Lula criticou a lentidão dos países no cumprimento das metas ambientais. “É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis. Temos de fazê-lo de forma urgente e justa”, declarou.
O presidente lembrou que quando participou da COP 15, em Copenhague, em 2009, a arquitetura da Convenção do Clima já “estava à beira do colapso”, o que levou ao fracasso das negociações, sendo preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015. “Ao retornar à presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante”, lamentou o presidente.
Ele afirmou ainda que “o não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime” e que “é preciso resgatar a crença no multilateralismo”.
“É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra. É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados. Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades”, cobrou Lula.
Em mais uma crítica às potências, o presidente afirmou que os gastos com armas deveriam ser voltados ao combate à fome e à mudança climática. “Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática. Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas?”, disse.
Desigualdades
Lula também defendeu um esforço global contra as desigualdades, afirmando que reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa criar condições para redirecionar esforços na luta contra o aquecimento global.
Segundo ele, a injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que afligem a humanidade. “A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres”, afirmou o presidente.
“O mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça. Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades. Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. Torna-se incapaz de pensar no amanhã. Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos”, disse, acrescentando que nenhum país resolverá seus problemas sozinho e que todos são obrigados a atuar juntos, além de suas fronteiras.
“O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo. Ajustamos nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos. Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030. Formulamos um plano de transformação ecológica, para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia”, detalhou Lula.
“Forjamos uma visão comum com os países amazônicos e criamos pontes com outros países detentores de florestas tropicais. O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis”, afirmou o presidente. Ele assegurou que o Brasil vai trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre a COP 28 e a COP 30, que vai ser realizada em Belém (PA), em 2025.
“Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade. Todos almejamos tornar o mundo capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada”, enfatizou o presidente
Discurso contundente é elogiado pelos senadores
O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado parabenizou o presidente Lula pelo “contundente discurso” na COP 28. O senador chamou a atenção para o trecho do discurso em que Lula alertou para o fato de o mundo ter aceitado de maneira natural disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça, e afirmou ser impossível enfrentar a mudança climática sem abordar a desigualdade.
“Pesquisas mostram que a cada quatro segundos uma pessoa morre devido à fome no mundo. São 870 milhões em condições de extrema miséria. A insegurança alimentar afeta aproximadamente 2,3 bilhões de pessoas”, apontou o senador.
Já o presidente da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), senador Humberto Costa (PT-PE) destacou a atenção dada por Lula à pauta ambiental e o chamado feito pelo presidente à união das nações em torno da preservação.
“Na COP, Lula defendeu a unidade dos países em torno de uma pauta comum e da preservação do meio ambiente. Ele afirmou que ‘se não deixarmos nossas diferenças de lado em nome de um bem maior, a vida no planeta estará em perigo’”.
Em outro trecho destacado por Humberto Costa, o presidente chamou os líderes mundiais à responsabilidade na COP 28 com críticas ao mundo que tem travado guerras, alimentado divisões e aprofundado a pobreza e as desigualdades ao invés de unir forças.
A senadora Teresa Leitão (PE), vice-líder do PT no Senado, destacou a retomada do lugar de protagonismo com a volta do presidente Lula ao cenário global.
Com informações da Agência PT de Notícias