Delação de Yousseff reúne elementos suficientes para se investigar Aécio

Delação de Yousseff reúne elementos suficientes para se investigar Aécio

Durval Ângelo: se as delações premiadas são provas conclusivas contra acusados do PP, do PMDB e do PT, logo, não estaria também provado o envolvimento de Aécio Neves no esquema de Furnas?O deputado mineiro Durval Ângelo (PT) cobra a investigação sobre o envolvimento do senador Aécio Neves na lista de Furnas. Em artigo publicado no jornal O Tempo, nesta quinta-feira (3), ele recorda o depoimento doleiro Alberto Youssef à CPI da Petrobras, no último dia 25 de Agosto, onde ele detalhou cifras desviadas pela família Neves da estatal Centrais Elétricas de Furnas.

Durval observa que delações premiadas menos consistentes têm sido usados como “provas conclusivas contra acusados do PP, PMDB e PT”, então o depoimento de Yousseff também deveria pautar uma investigação contra o tucano.

Confira a íntegra do artigo “E sobre Furnas? O que diz Aécio?” – Por Durval Ângelo
“Pau que dá em Chico dá em Francisco”, disse o procurador geral da República, Rodrigo Janot, no último dia 26, ao ser questionado sobre sua isenção no processo da Lava Jato, durante a sabatina no Senado que o reconduziu ao cargo por mais dois anos. A afirmação foi feita um dia após o doleiro Alberto Youssef reafirmar à CPI da Petrobras que o senador tucano Aécio Neves recebera propina da estatal Centrais Elétricas de Furnas. O envolvimento teria sido revelado por seu compadre, o ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010, um dos implicados na Lava Jato.

Youssef deu detalhes: quantia de R$ 150 mil seria repassada mensalmente à irmã do ex-governador de Minas, Andréa Neves, conforme já havia relatado à Polícia Federal. Denúncia oferecida em 2010 pela procuradora da República do Rio de Janeiro Andreia Baião também dava conta do esquema de financiamento de campanhas que já vinha sendo denunciado havia mais de dez anos.

Lembro-me bem de quando veio a público a chamada “lista de Furnas”, documento com autenticidade comprovada pela Polícia Federal que incluía dezenas de políticos como beneficiários dos recursos da estatal, entre eles Aécio Neves. Na Assembleia de Minas, vários deputados admitiram, nos bastidores, o recebimento das doações, e um deles, corajosamente, assumiu na imprensa. Desde então, o deputado Rogério Correia luta pela apuração e, em março deste ano, solicitou a investigação diretamente ao procurador geral da República. A representação, no entanto, foi arquivada.

A menção a Aécio no depoimento à CPI ganhou a imprensa internacional, noticiada em veículos como “The New York Times”, agência Reuters e “Clarín”. Mas aqui, por motivos óbvios, a repercussão na grande mídia foi quase nula. Também a Procuradoria Geral da República, até o momento, parece ter ignorado essa delação em especial, embora outras, bem mais vagas, tenham motivado denúncias e até prisões de políticos e empresários.

É bem verdade que tais acusações devem ser tratadas com prudência, a fim de não se incorrer no erro que se tornou tão comum em tempos de tentativa de golpe: o pré-julgamento, a partir do pressuposto de que as delações são, necessariamente, verdadeiras.

Por outro lado, se é verdade que “pau que dá em Chico dá em Francisco”, o benefício da dúvida também se aplicaria a outros réus da Lava Jato, independentemente de seus partidos. Não é o que temos visto.

O PSDB, agora que se trata do presidente nacional da legenda, alega inconsistência da delação. Atenta, assim, contra um princípio básico da lógica. Ora, se as delações premiadas são provas conclusivas contra acusados do PP, do PMDB e do PT, logo, não estaria também provado o envolvimento de Aécio Neves no esquema de Furnas?

Se a condenação prévia precisa ser combatida, não deixa de ser legítimo cobrar que acusação tão grave contra um senador, presidente nacional de partido, ex-candidato à Presidência e ex-governador seja, no mínimo, apurada. Aécio Neves, por sua vez, novamente se cala. Não seria de se esperar que quem sempre acusou viesse agora a público se explicar?

 

* Artigo originalmente publicado pelo jornal O Tempo em 3 de Setembro de 2015

To top