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Diretor da Prevent Senior admite adulteração de diagnósticos

Pedro Benedito Batista Junior afirmou aos senadores que operadora alterava código de diagnóstico de doença de pacientes nos prontuários dias após detecção da Covid-19. Senadores apontam que fraude teria como objetivo burlar real número de mortes ocorridas pela doença nas dependências da operadora, que adotava preferencialmente medicamentos ineficazes
Diretor da Prevent Senior admite adulteração de diagnósticos

Foto: Alessandro Dantas

O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, confirmou durante depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (22) que operadora de saúde modificou o código de diagnóstico da doença (CID) de pacientes que deram entrada nos hospitais na rede com Covid-19 após alguns dias de internação.

De acordo com Pedro Benedito, a medida seria uma forma de “padronizar” a indicação dos pacientes que ainda poderiam transmitir a doença daqueles que, após 14 dias de internação – ou 21 dias, nos casos de UTI – não mais transmitiriam o vírus.

Para os senadores, no entanto, a prática na verdade constitui crime de fraude nos prontuários. Além disso, serviria para esconder o real número de mortes em decorrência da Covid-19 e de complicações oriundas da doença ocorridas em pacientes tratados pela operadora de saúde. Diante disso, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), elevou o representante da Prevent Senior para a condição de investigado.

“O paciente entra com o diagnóstico de Covid e, depois que passa o período da infecção, muda-se o código, o CID. Isso é de uma gravidade sem precedentes. Tem questões que só vão ser esclarecidas se o Conselho Regional de Medicina de São Paulo tomar a frente e avaliar 100% dos óbitos desta instituição e todas as mudanças de código de diagnóstico da doença original que levou o paciente a se internar e ao óbito. Estamos diante de uma situação muito grave”, alertou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Foto: Alessandro Dantas

Ex-funcionários da empresa denunciaram à CPI que a empresa pressionou médicos a receitar, para fins de um estudo interno, o “kit covid”, composto por medicamentos sem eficácia no tratamento da doença e amplamente divulgado por Bolsonaro e seus apoiadores. Segundo os documentos, alguns pacientes citados nem sequer consentiram com a prescrição dos medicamentos.

De acordo com a denúncia, a Prevent Senior teria ocultado a morte de pacientes ao longo do estudo para comprovar a tese de que os medicamentos são eficazes contra a doença.

Na avaliação do senador Humberto Costa (PT-PE), está claro a Prevent Senior serviu como um espaço de experimentação para tentar comprovar a tese governista de que o tratamento precoce era eficaz contra a Covid-19, como argumentavam integrantes do gabinete paralelo, dentre eles Nise Yamaguchi.

A médica apontada pela CPI como integrante do gabinete paralelo de assessoramento de Bolsonaro também atendia o médico negacionista Antony Wong nas dependências da Prevent Senior. De acordo com reportagem da revista Piauí, a operadora teria ocultado o verdadeiro motivo da morte do médico, que era adepto de práticas como ozonioterapia retal e metrotexato venoso, além dos medicamentos comumente defendidos por governistas.

Foto: Alessandro Dantas

“Um plano [de saúde] com essa dimensão foi considerado pelo governo um espaço importante para legitimar uma política. Naquela época, [início da pandemia], o governo queria desmoralizar o ministro [Luiz Henrique] Mandetta e todas as orientações que havia de isolamento social. Para isso, era preciso provar que esse tratamento que ele [Bolsonaro] preconizava era bom, todo mundo podia ir para rua e ninguém ia morrer”, disse o senador Humberto.

“Infelizmente, o dono do seu hospital aceitou ser o instrumento para dar legitimidade a essa ação criminosa. Pela primeira vez estamos vendo a comprovação de que o gabinete paralelo não só existia, como era operante”, completou, após a apresentação, na CPI, de vídeos de debates em que o depoente defende teses negacionistas.

Divulgação de informações falsas
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu a inclusão do colega Luiz Carlos Heinze (PP-RS) no relatório final de CPI da Covid pela “propagação de comunicação enganosa em massa”. O senador gaúcho é conhecido pelos colegas por ser um disseminador contumaz de notícias falsas sobre a Covid-19 no âmbito da comissão.

O senador Renan Calheiros afirmou que avaliará junto o colegiado a sugestão de Rogério Carvalho.

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