A Comissão de Direitos Humanos (CDH) ouviu nesta segunda-feira (1º) especialistas sobre o impacto das notícias falsas (fake news) na sociedade brasileira. O presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS), lembrou que as notícias falsas chegaram ao seu auge nas últimas eleições. Mas não são apenas políticos que sofrem com a disseminação desse tipo de conteúdo.
Um caso que ficou conhecido, lembrou Paim, foi o da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, que morreu após ter sido espancada por dezenas de moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo, em 2014. A revolta dos moradores foi em virtude de informações publicadas em uma rede social, com um retrato falado de uma possível sequestradora de crianças para rituais de magia negra. A dona de casa foi confundida com a criminosa e acabou linchada por moradores.
“Elas [fake news] continuam após esse período [eleitoral] e tem causado enormes prejuízos interferindo negativamente em vários setores da sociedade. Aqui, por exemplo, teríamos de discutir a Previdência e as fake News, a reforma trabalhista e as fake news. Me lembro como se fosse hoje, disseram que com a reforma trabalhista a gente ia gerar 10 milhões de novos empregos e o desemprego aumentou”, disse em referência ao aumento do número de desempregados divulgado na última sexta-feira (29).
Para o professor de Direito Eleitoral e Empreendedorismo, Diogo Rais, as novas formas de comunicação (redes sociais e internet) facilitam a propagação das fake news. Além disso, o fator novidade e a capacidade de gerar assombro, surpresa nas pessoas, além do fator exclusividade de quem compartilha o conteúdo, ajudam a espalhar a mensagem rapidamente.
Na avaliação de Beatriz Barbosa, representante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, uma coisa é o cidadão compartilhar uma notícia falsa que ele recebeu e acabar repassando esse conteúdo sem checar se a informação é verdadeira. Outra coisa são empresas, grupos políticos e sociedades organizadas com o intuito de produzir desinformação e disseminá-lo massivamente na internet.
“Esses grupos precisam ser responsabilizados. É preciso investigar. As denúncias feitas sobre as fábricas de fake news durante o último processo eleitoral até hoje não foram concluídas e não levaram a responsabilização de quem produziu isso. Precisamos cobrar dos agentes que tem os mecanismos de investigação uma celeridade maior”, disse.
Representantes de plataformas como Facebook, Google e Twitter reconheceram a gravidade do problema e apresentaram informações acerca das medidas tomadas pelas plataformas para evitar abusos na distribuição desse conteúdo.
De acordo com Juliana Nolasco, gerente de políticas públicas da Google Brasil, a empresa interrompeu, em média, 6 milhões de anúncios ruins por dia em 2018. Além disso, a cada minuto são acrescentadas cerca de 400 novas horas de vídeo no Youtube. “Precisamos passar grande parte do nosso tempo avaliando esses conteúdos”, destacou.