Camila Lanes, da Ubes, e Iago Campos, da UNE, garantem que estudantes não vão aceitar retrocessos defendidos pelo governo Temer sem luta (Foto:Alessandro Dantas)Giselle Chassot
Ocupar escolas e universidades é uma maneira de mostrar à sociedade – e, especialmente, ao governo golpista – que os estudantes estão mobilizados e não aceitarão sem luta os retrocessos que se anunciam com a PEC da Maldade (PEC 55 no Senado, enquanto na Câmara tramitou com o número 241) e a Medida Provisória 746. Quem garante são os representantes dos movimentos sociais de secundaristas e de universitários no País.
Nesta terça-feira (31), a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes, e o diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Campos, participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos. E garantiram que os estudantes lutarão enquanto puderem, mas sem violência, para barrar as duas propostas. A primeira congela por 20 anos investimentos em áreas-chave como saúde e educação. A segunda, propõe a reforma do ensino médio sem qualquer discussão ou debate com professores e estudantes.
Os protestos contra os retrocessos propostos pelo governo golpista geraram manifestações por todo o País. Já são 1.174 escolas e 130 universidades ocupadas. “As ocupações representam a luta por um Brasil mais justo”, resumiu Iago Campos. “Pode até ser que saiamos derrotados desse processo. Mas ele certamente serviu para mostrar a conscientização da sociedade brasileira”, emendou.
O diretor da UNE disse que os estudantes estão conversando com representantes dos movimentos sociais, dos trabalhadores de Educação e dos líderes das ocupações. A ideia é organizar uma caravana para demonstrar a força da resistência contra as medidas antiensino público no Brasil. “Vamos construir um movimento em Brasília para dizer que não admitimos esse retrocesso no Brasil”, disse.
Para ele, a PEC 241 sequer pode ser considerada um remédio amargo. “Ela é uma mudança profunda no processo político do Brasil e uma para a construção de um programa neoliberal”, afirmou, lembrando que a proposta não apenas congela os orçamentos de saúde e educação, mas atinge duramente o desenvolvimento de projetos de infraestrutura e os investimentos no País.
“Nós, que participamos da construção do Plano Nacional de Educação, não podemos aceitar a destruição do processo de discussão e construção de propostas”, explicou.
Sem diálogo
A presidenta da Ubes enfatizou que o movimento dos estudantes foi solenemente ignorado tanto pelo Ministério da Educação (MEC) quanto pelas secretarias estaduais de educação. “Eles não fizeram o menor esforço para entender o que os estudantes estão reivindicando e estão tratando as ocupações como se fosse uma organização criminosa”, denunciou. Para Camila Lanes, a própria integridade física dos jovens que estão ocupando as escolas está sendo colocada em risco.
Ela disse que o Movimento Desocupa, que está forçando a saída dos manifestantes das escolas e universidades é financiado pelo Movimento Brasil Livre (MBL). “Queremos que o MBL responda pelos crimes que tem praticado, ferindo oito artigos do Código Penal e, por isso, pedimos aos estudantes que se sintam ameaçados de alguma forma que registrem boletim de ocorrência na delegacia mais próxima, para que os responsáveis possam ser investigados”.
Ela lembrou episódios como o atropelamento de um estudante no Paraná, agressões físicas e ameaças na Bahia e a tentativa de invasão de uma escola pelo teto no Distrito Federal. “Não aceitamos a violência e é mentira que estejamos prejudicando alguém ou tentando inviabilizar a realização das provas do Enem”, disse.
Nem mesmo o processo eleitoral foi prejudicado pelas ocupações, segundo Camila. Ela destacou que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) votou tranquilamente dentro de uma escola ocupada em Belo Horizonte. ”Ele não foi xingado nem hostilizado”, garantiu.
Os estudantes têm até esta segunda-feira para deixar as escolas ocupadas que servirão de locais de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo uma decisão do MEC. Caso as provas precisem ser reaplicadas em outra data, o órgão ameaçou até mesmo acionar na Justiça os alunos e entidades identificados como responsáveis pelas ocupações.
A senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que presidiu a audiência pública, repudiou a atitude do Ministério da Educação, que não se dispôs a conversar com as lideranças do movimento. “Os estudantes precisam de diálogo e não de métodos autoritários”, afirmou.
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