Um dia após desistir de ir à Câmara dos Deputados, orientado por seus assessores, para debater a reforma da Previdência de Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve no Senado para falar, sem sucesso, sobre o endividamento dos estados e as compensações relacionadas a Lei Kandir. A maior parte do debate girou em torno da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 6/2019).
O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), já realizou oito audiências públicas para discutir a proposta de alteração das regras previdenciárias. Em nenhuma delas o governo Bolsonaro enviou representante para defender o projeto. Sem o devido diálogo, alertou Paim, o projeto não será aprovado nem pela Câmara.
“Estou aberto ao diálogo. Mas como está, não tem a mínima condição de passar esse projeto. Será um desastre para o País e não vamos pactuar com isso. Peço aos seus técnicos que venham aos debates para fazer o contraditório. A população tem que saber que reforma é essa. A população não sabe”, disse o senador.
Guedes se comprometeu a enviar representantes do governo aos próximos debates sobre o tema na CDH.
Paim ainda criticou o projeto apresentado pelo governo para reestruturação da Previdência das Forças Armadas. Na avaliação dele, o Executivo se equivocou ao misturar o debate previdenciário com a reestruturação das carreiras militares.
Já o senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu o fim da “ideologia exacerbada” por parte do governo que atrapalha a construção de caminhos razoáveis para solucionar os problemas do País.
“A gente não vê inovação, apenas muita ideologia de extrema direita. Precisamos achar um meio termo que não signifique a destruição daquilo que acumulamos ao longo do tempo, que é um pouco de dignidade ao nosso povo”, disse.
Para o ministro, o problema previdenciário brasileiro é muito sério, pois, o sistema “está quebrando antes da população envelhecer”. Além da deficiência de arrecadação que gera instabilidade financeira, Guedes afirmou que os “encargos sociais e trabalhistas são armas de destruição em massa de empregos”.
Rogério complementou pedindo mais debates sobre teses e ideias concretas e menos argumentos ideológicos para destravar uma série de áreas como o desenvolvimento regional, econômico, geração de empregos, aquecimento da economia e caminhos para a redução da taxa de juros.
Destempero do ministro
Ao ser corrigido pela senadora Katia Abreu (PDT-TO) por uma informação incorreta acerca do valor de aposentadoria dos parlamentares, Paulo Guedes subiu o tom e afirmou que a senadora teria o seu horário para falar e questionou se “todos [senadores] falariam ao mesmo tempo”.
O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Omar Aziz (PSD-AM), repreendeu Guedes afirmando que ele, na condição de convidado, não desrespeitaria os parlamentares.
“O senhor adiou a sua vinda por três vezes. Podemos ter divergências políticas, mas os senadores são os verdadeiros representantes da população. Mal ou bem, o governo atacando a velha política, a nova política, nós somos os representantes do povo”, disse.