ARTIGO

“O ódio entrou nas escolas”, por Paulo Cayres

O secretário Nacional Sindical e presidente da CNM/CUT fala sobre o ódio propagado pelo bolsonarismo, que contaminou amplos setores da sociedade brasileira e acabou invadindo as escolas do país de maneira trágica
“O ódio entrou nas escolas”, por Paulo Cayres

Foto: Adonis Guerra

Dois fatos trágicos ocorridos a poucos dias chocaram o Brasil, em São Paulo, uma criança de 13 anos vai a escola, armado de uma faca , promove um ataque que mata uma professora de 71 anos e fere diversas pessoas, em Santa Catarina , na cidade de Blumenau ,um homem de 25 anos pula o muro de uma creche e com uma machadinha mata 4 crianças e fere outras 4, todas entre 4 e 7 anos de idade.

Infelizmente outros casos de ataques ocorreram após esses acontecimentos, 1 em Manaus outro em Goiás, ataques feitos por adolescentes, que atacaram e feriram crianças e professores.

A brutalidade desses crimes violentos é estarrecedora, são crimes covardes, nada consegue explicar que crianças indefesas sejam atacadas e mortas de forma tão cruel.

Na mesma Santa Catarina, traumatizada, um professor em sala de aula diz que se fosse ele, com um facão em cada mão, mataria pelo menos 20, e que no mundo tem gente demais.

É preciso registrar que no Brasil nos últimos 3 anos registrou-se um crescimento de 270% de células nazistas, sendo a maioria no sul do pais e Santa Catarina é um dos estados em que mais esses núcleos de propagação do ódio avançou.

É também preciso registrar que o governador do estado, figura conhecida do bolsonarismo, que agora fala contra a violência ocorrida na creche de Blumenau, aparece orgulhoso, em uma foto amplamente divulgada nas redes sociais portando uma arma de grosso calibre e alto poder de fogo, num verdadeiro estimulo à política armamentista de Bolsonaro.

Esse ódio sem sentido foi cultivado pela extrema direita fascista ao longo dos últimos anos, em 2016, ano do golpe contra a presidenta Dilma, o MBL, movimento de extrema direita , invadiu escolas, atacou e ameaçou estudantes que estavam em luta contra a reforma do ensino médio.

O número de escolas em que ameaças racistas, apologia ao nazismo, perseguição a professores/as, sem que nenhuma providência tenha sido tomada para identificar e punir seus autores, é assustador.

Pais e alunos, que perseguem, atacam e denunciam professores, por ministrarem conteúdos com os quais não concordam tornaram-se parte do cotidiano das escolas, produzindo um ambiente de constrangimento e medo.

Em São Paulo, uma professora mandou um bilhete para os pais de um aluno pedindo que eles conversassem com o filho que não fez a lição de casa, a resposta dos pais foi um bilhete ameaçando a professora.

Faz parte dessa escalada de ódio, o movimento escola sem partido, que na verdade é um movimento político de extrema direita, com o objetivo de tornar o ambiente escolar um local de pensamento único, o da extrema direita radicalizada.

Mas a violência física não é a única forma de violência contra a educação, uma outra forma de violência foi a reforma do ensino médio feita nos governos Temer/Bolsonaro, uma reforma duramente criticada por especialistas em educação, por professores , por organizações estudantis e de educadores.

Entre as principais criticas esta a de que a reforma elimina aprendizados essenciais para a formação dos/as estudantes, criando uma formação de baixa qualidade , o que acaba promovendo um verdadeiro apartheid educacional, dando às classes populares um ensino precário, de baixo conteúdo, nas escolas públicas, enquanto os filhos das classes mais abastadas frequentam escolas particulares com elevado conteúdo formativo.

É a manutenção da política de manter os mais pobres na condição de continuarem sendo mão de obra barata e precária, sem chances de mobilidade social, e se possível anulando qualquer senso crítico por parte da população .

O ministro da educação suspendeu por 90 dias a aplicação da reforma, mas isso não basta, segundo especialistas em educação e as organizações estudantis e de educadores contrários á reforma , ela é tão ruim que remenda-la não resolve, ela precisa ser revogada.

É preciso com urgência, tomar todas as providências necessárias para impedir a violência nas escolas, seja a violência física causadora de traumas e mortes, identificando e punindo seus divulgadores e responsáveis, seja a violência de propor para a maioria da população uma educação de baixa qualidade cujo percurso formativo leva a um beco sem saída.

A criação uma força tarefa permanente, capaz de se antecipar a aos acontecimentos , monitorando redes sociais buscando detectar e identificar autores de ameaças, instituir nas escolas serviços eficazes de assistência psicológica e políticas contra o bullying, são providências urgentes.

A criação de um espaço de diálogo no governo envolvendo estudantes, educadores e representantes da sociedade para debater e aperfeiçoar o ensino em todas as suas dimensões, também é urgente e necessário, e faz parte do compromisso democrático assumido pelo presidente Lula.

Ao mesmo tempo é preciso estar atentos, para não cair na tentação da extrema direita, responsável pela onda de violência que ocorre no pais, que aproveita essa mesma violência para propor um estado autoritário, repressor e anti-democrático.

Por uma educação de paz e de qualidade e respeito aos profissionais da educação.

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