Paim: “Estamos perdendo vidas pelo simples fato de que não há centros especializados em funcionamento em número suficiente”O senador Paulo Paim (PT-RS) mostrou preocupação, nesta terça-feira (22), em plenário, com a redução do número de cirurgias cardíacas realizadas em crianças no Brasil nos últimos anos. Em 2010, de acordo como o senador, foram realizadas 102 mil cirurgias cardíacas. Em 2014, 92 mil.
Atualmente, segundo ele, apenas oito dos 60 centros pediátricos brasileiros realizam todo o tipo de cirurgia em crianças. De acordo com Paim, a maioria desses centros foi desativado pelos hospitais por conta do alto custo e insuficiente compensação pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
No Brasil, nascem anualmente 28 mil crianças com defeitos congênitos do coração. Em torno de 23 mil necessitam cirurgia de correção já no primeiro ano. Mais de 80% das crianças sobrevivem ao procedimento.
Em 2002, relatou o senador, eram realizadas em torno de oito mil cirurgias cardíacas pediátricas. Em 2014, esse número diminuiu para cinco mil. “O problema continua o mesmo, mas não há estrutura para aumentar as cirurgias necessárias. Estamos perdendo vidas pelo simples fato de que não há centros especializados em funcionamento em número suficiente”, apontou. “Com UTI sempre lotadas, nossos médicos passam os dias a realizar escolhas absolutamente injustas de quem deve ou não sobreviver”, emendou.
Outro problema apontado pelo senador é a tabela de preço de procedimentos do SUS, que está congelada há 11 anos e com valores defasados. Os preços de válvulas e outros insumos, produzidos no Brasil, está congelado há 14 anos, de acordo com Paim. “É fácil entender porque nossas cinco indústrias [de produção de insumos] sucumbiram ao longo do tempo estando a última delas agonizando em recuperação judicial”.
Apesar dos problemas, o senador lembra que com o Programa Brasileiro de Transplantes, somos o País com o maior número de transplantes realizados com cobertura governamental. “O sucesso certamente se deve ao fato de que os transplantes não disputam orçamentos nos Estados e Municípios e são pagos por verba específica de Brasília não onerando o atendimento. A solução para a alta complexidade deve ser semelhante”, disse. “Sua centralização no Ministério da Saúde solucionaria as escolhas de Sofia, realizadas diariamente pelos especialistas brasileiros, pois não competiriam com a atenção básica e os procedimentos de baixa e média complexidade”, sugeriu.
Caso uma solução não seja encontrada, segundo Paim, “terminaremos sendo conhecidos como a geração que aumentou a mortalidade infantil por falta de acesso ao tratamento; que piorou os indicadores de saúde por ter subfinanciado um sistema único de saúde que tinha tudo para ser um exemplo internacional de sucesso”.
Rafael Noronha
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