Paulo Rocha: indo no contrafluxo de conquistas sociais e trabalhistas, o governo usurpador mostra suas garrasNão levou uma semana para que o governo interino e usurpador começasse a mostrar suas garras e partisse para o ataque contra o ciclo de vitórias sociais, trabalhistas e ambientais iniciadas com a Constituição Cidadã. Em seu lugar, surge no horizonte o desmonte do Estado, a privatização de empresas públicas, ameaças à soberania nacional e ortodoxia econômica, que pode funcionar para os mais ricos, mas transfere a conta para os mais pobres. Assim o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), analisa os primeiros dias de (des)governo de Michel Temer que, segundo ele, é uma sucessão de erros e equívocos que já causa alarme até aos primeiros apoiadores.
Os desmentidos entre ministros, as posturas conservadoras, as prioridades mal escolhidas e, especialmente, o anúncio de que medidas que podem aumentar a carga tributária chocam até mesmo os que foram às ruas porque não queriam “pagar o pato”, como apregoava o slogan da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “O pato cresceu, foi inflado com tanta homenagem e ameaça comer todas as conquistas. Em vez de Ponte para o Futuro, teremos um grande tobogã para o passado, com propostas do século XIX”, previu.
Ele alertou ainda para os avanços sobre programas e projetos dos governos petistas, que atendem à parcela menos favorecida da população. Comportamento típico uma elite que jamais aceitou a ascensão dos miseráveis. Por isso, segundo afirmou, “lutar contra esse governo ilegítimo que está aí não é somente se opor à sua agenda para o País. É defender os princípios do regime democrático”.
O consolo, afirmou, é que nunca se viu um governo com início tão acidentado. “O que vale hoje, não vale nada amanhã. E o traidor-mor, no posto de presidente interino, com menos de uma semana de atuação, já parece bastante cansado de desmentir seus assessores mais próximos e desarmar armadilhas montadas por seus ministros”, observou.
Paulo Rocha está certo de que um projeto tão neoliberal e tão retrógrado de poder jamais chegaria ao Palácio do Planalto não fosse pela força de um golpe. Afinal, justificou, “ocupar o poder à força é a maneira pela qual, historicamente, os donos do dinheiro costumam consolidar seu projeto de poder”.
Não ficarão
Além de falar sobre a democracia sob ameaça nas mãos dos neogovernistas, o líder alertou para as novas “maldades” que estariam sendo gestadas. A justificativa dos interinos é de que não há dinheiro em caixa e de que a presidenta Dilma teria deixado um rombo de R$ 150 bilhões. “Eles só não explicam de onde tiraram esses números e muito menos se contabilizaram as “bondades” deles, como o reajuste de salários para o Judiciário, por exemplo, que nós bem que tentamos evitar por causa de seu efeito dominó devastador”, estranhou.
Até o momento, o que se sabe é que funcionários do governo interino estão passando um pente-fino e destruindo ações e decisões tomadas imediatamente antes do afastamento de Dilma. O foco está justamente nos programas sociais. Mas não foi só isso. Também estão na mira dos golpistas as demarcações de terra para fins de reforma agrária e para territórios quilombolas. “Mas (eles) não vão conseguir, porque para desmontar os programas sociais, esse governo vai enfrentar as ruas”, avisou.
As ameaças a direitos adquiridos e garantidos pela Constituição, como as regras para aposentadoria e benefícios trabalhistas, também serão enfrentadas, assegurou o líder. “Quando o ministro da Fazenda, em seu primeiro pronunciamento, diz que direitos adquiridos não prevalecem sobre a Constituição, o que devemos entender? Que podemos torcer a Carta Magna até que ela permita, por exemplo, que a reforma previdenciária pretendida incida sem dó nem piedade sobre os direitos dos aposentados ou de quem está na ativa há anos e anos?”, questionou.
O senador disse que as reformas pretendidas são como as feitas pela boneca Emília, do escritor Monteiro Lobato, que no livro A Reforma da Natureza tentou inverter a lógica do mundo. “Fez abóboras nascerem em jabuticabeiras e jabuticabas nascerem no pé de abóbora. Foi um desastre. Pois não é que a pobre boneca teve que se render à lógica de que mexer no que está consolidado e correto não dá certo?”, brincou o senador.
Ele reforçou que a literatura infantil também serve como alerta. “Essa história de mexer em tudo, de acabar com a vinculação orçamentária para saúde, educação, Previdência, assistência social e seguro-desemprego não tem como funcionar”.
Para ele, os golpistas não ficarão. “A fragilidade desse governo se mostra maior a cada dia. As idas e vindas sobressaltam o País por seu caráter arcaico, suas posturas preconceituosas, suas prioridades equivocadas. Tudo, desde o momento em que o vingativo Eduardo Cunha aceitou a denúncia contra a presidenta Dilma, é um grande erro, que ficará comprovado e claro quando Temer e sua turma voltarem aos bastidores”, concluiu
Giselle Chassot
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