ARTIGO

Paulo Paim: “Parem a guerra”

Ainda ressoam em nossas mentes os horrores da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, do Vietnã, do Camboja, do Iraque, do Afeganistão, da Bósnia e Herzegovina, conflitos na África...
Paulo Paim: “Parem a guerra”

Foto: Alessandro Dantas

A história mostra que toda guerra leva a tragédias e crises humanitárias, independentemente de quem a faça ou quais os motivos. Milhões de pessoas são mortas, famílias inteiras dizimadas, enormes contingentes de refugiados, cidades destruídas, culturas e sociedades aniquiladas.

Ainda ressoam em nossas mentes os horrores da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, do Vietnã, do Camboja, do Iraque, do Afeganistão, da Bósnia e Herzegovina, conflitos na África. Há 40 anos, ao sul do nosso continente, tivemos a questão das Malvinas ou Falklands. Jovens argentinos de 18 e 19 anos (“carito” como foram homenageados depois) foram levados à morte.

Agora temos a guerra Rússia/Ucrânia. Segundo analistas, ela já vinha sendo gestada há anos. Muitas questões, obviamente, estão por trás dela, econômicas, ideológicas, políticas, disputa pelo poder mundial, autodefesa, OTAN; mas absolutamente nada a justifica. A vida humana está acima de qualquer situação. Insanos aqueles que a defendem.

É fácil ser a favor de uma guerra quando se está a milhares de quilômetros de distância, se dizendo de um lado ou de outro, invocando ideologias e propagandeando a luta do bem contra o mal. O fato é que a guerra destrói, mata, estupra a dignidade humana, e somente as vítimas é que sabem da dor que sentem.

O choro de uma mãe que perdeu o filho em um bombardeio se encontra com o choro de uma mãe que perdeu o filho soldado. São duas vidas humanas que tombaram pela covardia e desumanidade dos “senhores da guerra”. Isso é a indecência moral e ética que atinge, de forma destrutiva, o processo e o progresso civilizatório.

Os refugiados saem pelo mundo afora, desesperados, deixando tudo para trás. Muitos sequer conseguem sepultar os seus entes queridos ou mesmo identificar os corpos mutilados de seus familiares. A ONU faz uma estimativa de que poderá haver, se essa guerra do leste europeu não cessar, 4 milhões deles. O Brasil precisa ser solidário, acolhê-los. Há no mundo hoje mais de 80 milhões de refugiados, um número recorde. Muitos fugiram devido a guerras civis, separatismos. Ainda, segundo a ONU, existem atualmente mais de 20 regiões do mundo em conflitos armados, mas as nações se calam, em silêncio premeditado.

Todos os refugiados devem ter os mesmos direitos, devem ser tratados como iguais. É inaceitável qualquer forma de discriminação e hostilidade, seja por origem, país, cor da pele, religião; se africano, se indiano, se sírio, se árabe; sem preconceito, sem racismo, que se respeitem os direitos humanos.

Há quase 60 anos, Bob Dylan, em plena Guerra Fria, cantava: “Vocês que fabricam as bombas. Vocês que se escondem atrás de muros. Vocês que se escondem atrás de mesas. Só quero que saibam. Que posso ver através de suas máscaras”. Djavan, em Solitude, alerta: “Guerra vende armas. Mantém cargos. Sensatez não tem vez”.

Mas há espaço para a insensatez, para a falta de bom senso, para a loucura. Enquanto, a cada minuto, conforme a Oxfam, 11 pessoas morrem por fome no mundo e, a cada 21 segundos, conforme a Water is Life, uma criança morre por falta de água potável, a indústria armamentista mundial movimenta cerca de 1,7 trilhões de dólares por ano, representando 2,7% do PIB mundial. Com mais uma guerra, a concentração de renda vai aumentar, bem como vai aumentar também a fome mundial. Já a pandemia da Covid-19 levou, até o momento, quase 6 milhões de vidas. Países pobres, principalmente do continente africano, não têm acesso a vacinas. Ah, para registrar, esses mesmos “senhores da guerra” detêm as patentes de vacinas, escolhendo quem deve viver ou morrer.

Guerras e mais guerras, guerras provocadas, guerras autorizadas, guerras pela televisão e redes sociais, guerras pela verdade (cada lado tem a sua). Almas envenenadas, dizia Charles Chaplin. Guerras diárias pela sobrevivência, pela vida, pelo direito de ser feliz. O certo é que pensamos demais, agimos pouco, ignoramos o sofrimento dos outros. O mundo precisa de diálogo e de paz, de humanidade. Parem a guerra, parem com todas as guerras.

Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil

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