O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, admitiu aos senadores nesta quinta-feira (11) que o governo Bolsonaro “foi pego de surpresa” com os desdobramentos da pandemia entre o final de 2020 e o início deste ano. De acordo com o representante do governo, com a diminuição dos casos no segundo semestre do ano passado, o governo se preparava para retomar à normalidade, mas, “nos últimos 90 dias, países com capacidade de estrutura maiores que a nossa estão apresentando números de contágios e óbitos inacreditáveis”.
“Estamos colhendo parte do que semeamos. O presidente da República foi o principal agente propagador da pandemia no país. Ele banalizou a doença chamando de gripezinha. E uma gripezinha não mata mais de 230 mil. Isso é uma catástrofe sanitária. Bolsonaro estimulou aglomerações, negou o uso de máscaras. Além disso, estimulou o uso de medicamentos que não tem a menor eficácia contra o vírus”, destacou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
De acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa, o Brasil vacinou até o momento 4,4 milhões de pessoas, o equivalente a 2,69% da população acima de 18 anos – o país tem 211,7 milhões de pessoas. Diversos estados têm anunciado alterações no calendário de vacinação por conta da quantidade insuficiente de doses de vacinas disponíveis. Apesar disso, o ministro garantiu que o governo vacinará toda a população brasileira até o final do ano. “50% até junho e 50% até dezembro”.
Reportagem de O Estado de S. Paulo aponta que no atual ritmo de vacinação mantido pelo Brasil, seria preciso quatro anos para imunizar toda a população.
O ministro da Saúde também ouviu críticas de senadores de diversos partidos acerca da lentidão do país na aquisição, distribuição e aplicação de vacinas. Também ocorreram críticas ao negacionismo no discurso adotado pelo governo federal e o estímulo a utilização de medicamentos comprovadamente ineficazes no combate ao vírus, como a cloroquina, a ivermectina e a azitromicina.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) questionou sobre a posição oficial do ministério da Saúde acerca da utilização desses medicamentos que compõem o chamado “kit covid”. O senador, inclusive, mostrou vídeo do prefeito da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, orientando a população da cidade a tomar ivermectina quinzenalmente até estarem vacinadas.
“O ministério realmente recomenda esse coquetel de medicamentos? Isso [medicação ineficaz] faz as pessoas acharem que as coisas estão normais, que estão imunizadas. O Brasil tem o único governo nacional a comprar, recomendar e distribuir remédios como alternativa à vacina. Sendo que esses remédios já foram rejeitados por médicos, cientistas e, no caso da ivermectina, descredenciado pelo próprio fabricante. Espero que os senhores estejam preparados para serem responsabilizados cível e criminalmente”, enfatizou.
Em resposta ao senador Jean Paul, o ministro negou que o ministério da Saúde defenda a utilização de medicamentos para tratamento da Covid-19, apesar de o governo já ter feito propagandas em defesa do tratamento precoce contra o coronavírus. “As orientações que o ministério deu quanto a medicamentos tem a ver com o uso dos medicamentos, caso o médico prescreva. Atenção para as doses ideais, atenção para não haver excesso. A plataforma criada [TrateCov] estava induzindo as ações de medicamentos e afastamos o servidor [responsável]. O ministério não indica medicamento para essa ou aquela doença, orienta atendimento imediato”, disse.
Reportagem veiculada pelo Congresso em Foco mostra que o governo federal pagou ao menos R$ 6,1 milhões em propagandas defendendo o chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19, com um conjunto de remédios ineficazes contra a doença, conforme estudos e testes científicos. Os repasses, de acordo com o próprio governo, devem chegar a R$ 13 milhões. A campanha, que tinha como objetivo orientar a população, foi veiculada entre 16 de novembro e 30 de dezembro de 2020, em estações de rádio, programas de TV e outdoors.
Outra preocupação demonstrada pelos senadores é a circulação de uma nova variante do vírus descoberta em Manaus. Segundo Pazuello, a variante encontrada na capital do Amazonas já circula em todo o país e o seu potencial de contágio chega a ser três vezes maior do que o vírus original.
CPI da Covid
O Senado está prestes a abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as ações omissões do governo Bolsonaro no enfrentamento à pandemia de Covid-19 no país. O requerimento para instalação do colegiado feito pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destaca que Brasil é, hoje, o segundo país com mais mortes pela doença. O dado evidencia a falta de controle da crise sanitária.
“Foram recolhidas as 27 assinaturas suficientes para instalar a CPI que investigará todas as barbaridades ilegais cometidas pelo governo Bolsonaro durante a pandemia. Cobraremos do Senado responsabilidade para um tema tão importante”, disse o senador Paulo Rocha (PA), líder do PT no Senado.
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