Pinheiro defende plano estratégico para ciência e tecnologia

Walter Pinheiro quer incluir no PPA projeto que combine ações sociais, inovação científica e tecnologia e desenvolvimento econômico. Assim como o senador, o cientista Miguel Nicolelis defende a adoção de políticas transversais para fortalecer ciência e tecnologia.

Pinheiro defende plano estratégico para ciência e tecnologia

miguel_nicolelisO cientista destacou a forte correlação entre a capacidade de inovação de uma nação e a geração de riquezas e defendeu a construção de “uma política de Estado capaz de acoplar a educação de alto nível à ciência de ponta” como forma de impulsionar não só o crescimento do PIB, mas as transformações sociais.

A construção de uma política estratégica de Estado para a área de Ciência e Tecnologia é um desafio que pode começar a ser vencido já na elaboração do Plano Plurianual (PPA), em tramitação no Congresso. “Temos que ter um projeto que combine as ações de Educação, Saúde e de estímulo à inovação científica, visando ao desenvolvimento econômico, tecnológico e social”.

É o que defende o senador Walter Pinheiro (PT-BA), relator do PPA. Ele acredita que o Plano pode apresentar as bases de uma política transversal, que articule os ministérios envolvidos nas ações e considera que a experiência conduzida no Rio Grande do Norte pelo neurocientista Miguel Nicolelis — apontado pela revista Scientific American como um dos 20 maiores cientistas do mundo, na atualidade — como um exemplo a ser replicado em todo o País.

Nicolelis foi um dos palestrantes convidados na audiência pública realizada, na manhã desta quarta-feira (30/11), pelas comissões de Educação e de Ciência e Tecnologia, por proposição de Pinheiro e do senador Wellington Dias (PT-PI). Ao lado do professor Arquimedes Ciloni, representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o neurocientista falou sobre a “Ciência como agente da transformação social e econômica”.

Ciência e transformação
Há oito anos, em dois bairros da periferia de Natal (RN) e no Município de Macaíba, na Região Metropolitana da capital potiguar, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal- Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), coordenado por Nicolelis, realiza pesquisas sobre neurociências — “como nos centros mais avançados do mundo”, na área — e desenvolve uma série de projetos sociais que oferecem às crianças da região oportunidades de desenvolver plenamente seu “potencial inovador”.

O projeto “Educação para Toda a Vida”, por exemplo, garante às crianças “educação desde a barriga da mãe”, como Nicolelis descreve a prestação de serviços de saúde materno-infantil que vão assegurar a esses brasileirinhos a possibilidade de “desenvolver todos os neurônios”, que, posteriormente, serão estimulados nas oficinas de Robótica, História, Informática e outras áreas do conhecimento.

O IINN-ELS terá, ainda, uma “Cidade do Cérebro”, parque neurotecnológico para a produção de conhecimentos, medicamentos e equipamentos para as diversas patologias neurológicas, e uma escola em tempo integral para 3 mil crianças, que serão atendidas desde os 15 dias de vida, numa creche-berçário.

Replicar a experiência
Os resultados alcançados no IINN- ELS — taxa zero de mortalidade materna, contra as 87 mortes para cada 100.000 partos da média nacional, e a quase erradicação da evasão escolar entre o ensino fundamental e o ensino médio — entusiasmaram os senadores presentes à audiência, interessados na possibilidade de replicar a experiência em outros municípios. Atualmente, 400 crianças de Serrinha (BA) já recebem aulas de ciências no turno oposto ao da escola regular.

Segundo Nicolelis, a tarefa é “perfeitamente possível”. Em oito anos, o Instituto recebeu investimentos de R$ 125 milhões, dois terços dos quais vindos de doações privadas. “Em ciência, quando se quer comprovar uma hipótese, a gente a testa nas piores condições possíveis. Escolhemos a região do semiárido, a periferia da capital do estado com os piores índices de educação básica do País e os resultados estão aí”.

O cientista destacou a forte correlação entre a capacidade de inovação de uma nação e a geração de riquezas e defendeu a construção de “uma política de Estado capaz de acoplar a educação de alto nível à ciência de ponta” como forma de impulsionar não só o crescimento do PIB, mas as transformações sociais.

Ele lembra, porém, que “inovação não se faz por decreto, mas com gente que pensa diferente da média”. O desafio, portanto, é estimular esse “pensar diferente”, que não é tão estranho à história brasileira. “Precisamos resgatar a tradição inovadora do Brasil, nossos novos Santos Dumont estão por aí, para serem descobertos e prontos para receberem um a oportunidade”.

Papel do parlamento
Para Walter Pinheiro, debates como os realizados nesta terça-feira, na audiência da CCT-CE, conferem um sentido muito mais profundo ao trabalho do Parlamento. “Nos acostumamos a simplesmente produzir leis, sem lembrar que nosso papel é aprofundar o conhecimento sobre as questões, refletir sobre esse conhecimento e formular políticas e estratégias a partir dessas reflexões. Quem sabe, se as votações que fazemos fossem o resultado desse processo, seu resultado fosse mais relevante para a sociedade”.

Cyntia Campos

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