“A mulher tem capacidade de transformar o seu caminho, independente do que foi planejado para ela ou do que a sociedade espera que ela faça”, afirma Regina SousaNo mês em que se comemora o dia da mulher, a senadora Regina Sousa (PT-PI) escolheu quatro personagens históricos que deixaram clara a condição feminina enquanto lutavam por liberdade e igualdade de direitos. Apenas uma delas é referência em livros escolares e, ainda assim, como personagem coadjuvante, associada à luta pelos escravos libertos do Quilombo dos Palmares. Mas, ao lado das piauienses Esperança Garcia, Genu Moraes e Francisca Trindade, foi exemplo de coragem, garra e contestação da mulher brasileira.
Nesta sexta-feira (13), o Piauí comemora a luta – também travada pelas mulheres – pela independência do estado. É o dia em que os piauienses relembram a Batalha do Jenipapo, travada em 13 de março de 1823. “Diante da desigualdade das armas, elas (as mulheres) se despojaram de suas jóias e as colocaram à venda para ajudar a comprar armas”, recordou.
A senadora, lembrou de Dandara, que dedicou sua vida a livrar os negros da escravidão e é símbolo da luta feminista. “A história do Brasil daquela época, escrita por homens, não lhe faz justiça, não lhe dá destaque e, até, chegam a dizer que a sua existência é uma lenda”, reclamou a senadora, lembrando que, embora não se conheça a verdadeira face da guerreira, seu rosto pode ser visto “em cada mulher que se identifica com suas origens, que luta por liberdade e que tem coragem de acreditar em seus sonhos”.
Regina também contou a história de outra escrava, Esperança Garcia, que viveu na região de Oeiras. Alfabetizada, Esperança escreveu uma carta para o governador do estado, em 1770, denunciando os maus tratos que os escravos sofriam. “É exemplo de que a mulher tem capacidade de transformar o seu caminho, independente do que foi planejado para ela ou do que a sociedade espera que ela faça”, exaltou a parlamentar.
A terceira homenageada foi a Dona Genu Moraes, contestadora de costumes que revolucionou o Piauí ao se envolver com a política local e trabalhar como jornalista. “Consta que foi a primeira mulher a dirigir automóvel no meu Estado, nos anos 40 do século passado”, recordou Regina.
Por fim, a senadora citou Francisca Trindade, militante petista nascida na periferia de Teresina, que se elegeu vereadora da capital piauiense, depois deputada estadual e, em 2002, tornou-se deputada federal com a maior votação do estado. “Ela (Trindade) deixou um legado político incontestável de ética, de campanha pé no chão e de transparência”, disse.
Mulheres e Desigualdade
A senadora lembrou que o aumento da participação feminina no mercado de trabalho foi determinante para a redução da pobreza e da desigualdade na América Latina e, mais especialmente, no Brasil. “As políticas sociais do governo brasileiro, nos últimos 12 anos, refletem bem essa realidade. O Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, por exemplo, são programas que priorizam a mulher como titular dos benefícios, de forma que, empoderada, ela tenha meios para tirar sua família da pobreza extrema”, destacou.
Apesar dessas conquistas, a mulher ainda precisa enfrentar problemas não resolvidos nas relações de gênero, como a violência contra a mulher e a cultura de que ela é inferior e subalterna ao homem. “Há uma espécie de ‘adonamento’, o homem se sente dono, quando começa uma relação afetiva, ao ponto de, se é a mulher tomar a iniciativa de por fim a relação, o homem sentir-se no direito de ameaçá-la, impor a ela a condição de não construir outra relação, de não poder se divertir sem ser seguida, até chegar ao extremo da ação assassina”, enumerou.
Outro ponto que, segundo ela, precisa ser enfrentado, é o aumento da participação nos espaços públicos. Para a senadora, a representação feminina na sociedade ainda é muito pequena e há imensas dificuldades para que uma mulher chegue a postos de comando. “Estamos em plena discussão da reforma política, momento oportuno de sairmos do discurso para a prática, de fazermos uma reforma política inclusiva, em que se garanta o espaço das mulheres não mais apenas como um percentual de candidaturas, mas como uma cota das cadeiras do Legislativo”, observou.
Giselle Chassot
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