Dignidade

Relatada por Teresa Leitão, política de trabalho digno para a população de rua avança no Senado

Além da promoção dos direitos humanos para as pessoas em situação de rua, política prevê realização de ações que visem o acesso ao trabalho, renda, qualificação profissional e elevação da escolaridade dessa parcela da população

Alessandro Dantas

Relatada por Teresa Leitão, política de trabalho digno para a população de rua avança no Senado

Efeitos da pandemia provocaram o aumento da população em situação de rua, apontou o senadora Teresa Leitão

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou nesta terça-feira (28/11) o relatório da senadora Teresa Leitão (PT-PE) ao Projeto de Lei 2245/23, da deputada Erika Hilton (Psol-SP), que cria a Política Nacional de Trabalho Digno e Cidadania para População em Situação de Rua (PNTC PopRua).

A ideia da proposta, que segue para análise da Comissão de Direitos Humanos (CDH), é promover acesso ao trabalho, à qualificação profissional e à elevação da escolaridade. Antes de ir ao plenário, a proposta ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). 

Além da promoção dos direitos humanos para as pessoas em situação de rua, o PNTC PopRua também prevê a realização de ações que visem o acesso ao trabalho, renda, qualificação profissional e elevação da escolaridade dessa parcela da população. 

A matéria define como em situação de rua a população que utiliza espaços públicos como moradia ou sustento ou unidades de acolhimento institucional para pernoite eventual ou provisório. 

A senadora Teresa Leitão lembrou o fato de o Brasil contar com uma política nacional sobre o tema há mais de uma década. Essa política, porém, foi instituída apenas em norma infralegal, por meio do Decreto 7.053/2009, que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Interssetorial de Acompanhamento e Monitoramento. 

“Os resultados dessa política, após dez anos de implementação, no entanto, foram insuficientes para dar uma solução adequada à questão”, destacou Teresa Leitão. 

Mercado de trabalho  

A PNTC PopRua deve criar mecanismos para garantir a inclusão de adolescentes e jovens, entre 15 e 29 anos, em situação de rua, nos programas de aprendizagem, de qualificação profissional e de inserção segura no mercado de trabalho. Além disso, a política deve adotar medidas para incentivar as empresas vencedoras de licitações públicas a priorizar a contratação de aprendizes adolescentes, entre 14 e 18 anos, em situação de rua. 

O poder público, em todas as esferas federativas que aderirem à PNTC PopRua, deve criar uma rede de Centros de Apoio ao Trabalhador em Situação de Rua (CatRua). O objetivo desses centros é prestar atendimento às pessoas em situação de rua que buscam orientação profissional e inserção no mercado de trabalho, bem como articular ações de empregabilidade, qualificação profissional e economia solidária com outras políticas públicas relevantes. 

Educação escolar  

Quem aderir ao programa deve criar bolsas de incentivo financeiro às pessoas em situação de rua participantes de cursos de qualificação profissional e que busquem a elevação de sua escolaridade, denominadas Bolsas de Qualificação para o Trabalho e Ensino da População em Situação de Rua (Bolsas QualisRua). O recebimento da Bolsa QualisRua não impede o recebimento de benefícios de outros programas de transferência de renda e de auxílios de quaisquer entes federativos. 

Também devem ser implementados, por todos os entes nacionais, programas de acesso, permanência e assistência estudantil à educação superior para as pessoas em situação de rua, de forma a assegurar-lhes meios que permitam a conclusão dos cursos por elas escolhidos. 

A PNTC PopRua deve criar mecanismos para que os estados, o Distrito Federal e os municípios possam garantir prioridade de vagas nas instituições públicas de educação infantil e nas escolas públicas de tempo integral dos ensinos fundamental e médio para crianças e adolescentes integrantes de famílias em situação de rua. 

Moradia 

A PNTC PopRua deve garantir o acesso imediato à moradia dos beneficiários, por meio de políticas de habitação ou por programas específicos para população em situação de rua, com o objetivo de promover a sustentabilidade do acesso ao trabalho, respeitadas a autonomia e a autodeterminação da pessoa em situação de rua. 

No caso de impossibilidade de disponibilizar imediatamente o acesso à moradia, o poder público, de forma subsidiaria e provisória, deverá garantir às pessoas em situação de rua e a seus núcleos familiares vagas fixas na rede socioassistencial, preferencialmente em modalidades de acolhimento provisório mais autônomas e privativas. 

Para a senadora Teresa Leitão esse é um tema de alta complexidade, não só́ pela magnitude do desafio, mas também pela necessidade de atuação articulada entre os vários níveis federativos, com participação da sociedade civil organizada e pela diversidade de aspectos a serem considerados. 

Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que mais de 280 mil pessoas vivem em situação de rua em todo o país, tendo esse número aumentado 38% somente entre 2019 e 2022.  

“Os efeitos nefastos da pandemia sobre a economia do país e a capacidade de geração de renda das pessoas encontram no aumento vertiginoso dessa população uma das suas faces mais cruéis”, destacou a senadora.  

Com informações da Agência Senado

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