Planos de saúde

Senadores protestam contra possível redução na cobertura de planos de saúde

STJ vai decidir se as operadoras continuam obrigadas a cobrir procedimentos não previstos na lista da ANS. Senadores do PT alertam que, se mudar esse entendimento pelo “rol taxativo”, milhares de pessoas com deficiência ou doenças raras serão excluídas
Senadores protestam contra possível redução na cobertura de planos de saúde

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu continuidade, nesta quarta-feira (23), ao julgamento que vai decidir se as operadoras dos planos de saúde podem ou não ser obrigadas a cobrir procedimentos que não constam na relação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Os tratamentos e os procedimentos que devem ser cobertos pelos planos estão listados no chamado “Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde”. Tecnicamente, os ministros vão definir se esse rol é exemplificativo ou taxativo. O placar está empatado 1 x 1. Um pedido de vista suspendeu outra vez o julgamento, ainda sem data marcada para retomar.

Há mais de duas décadas, predomina nos tribunais o entendimento de rol exemplificativo – mais favorável aos consumidores. A lista é uma referência mínima e outros procedimentos poderão ser incluídos para atender as necessidades dos pacientes. Já o taxativo é restritivo, deve ser seguido à risca. Se não tiver na lista, não tem obrigação de cobrir.

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) denuncia que o rol taxativo é excludente e atende apenas ao interesse privado. “Como Corte da Cidadania, o STJ deve se atentar ao interesse público e não à lucratividade de planos de saúde: se prevalecer o rol taxativo, milhares de brasileiros com deficiência e doenças raras ficarão sem assistência, mesmo pagando!”, critica.

Na mesma direção, o senador Paulo Paim (PT-RS) alerta que rol taxativo vai penalizar os mais vulneráveis.

Julgamento

O julgamento começou em setembro de 2021, mas foi suspenso após pedido de vista da ministra Nancy Andrighi. Antes disso, o relator, ministro Luis Felipe Salomão, votou pelo rol taxativo, ou seja, a favor dos planos de saúde.

Na sessão desta quarta (23), a ministra Nancy Andrighi desmontou o argumento de que o rol exemplificativo aumenta o risco de elevação de preço, tornando as mensalidades mais caras. Ela apresentou dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que revelam lucros bilionários do setor. Segundo a pesquisa, os planos de saúde faturaram R$ 192,1 bilhões em 2018. Em 2014, a receita do setor somou R$ 123,8 bilhões. No mesmo período, perderam cerca de 3,3 milhões no número de usuários. Mesmo assim, não deixaram de lucrar.

Segundo a ministra, a instituição do rol taxativo não teria outra finalidade se não aumentar ainda mais o lucro das operadoras de saúde, onerando os usuários de planos de saúde. No final da defesa do rol exemplificativo, concluiu:

“O rol dos procedimentos e eventos em saúde da ANS tem natureza meramente exemplificativa porque só dessa forma se concretiza a política de saúde idealizada pela Constituição, se realiza a partir das desigualdades havidas entre as partes contratantes a função social dos contratos e a assistência privada a saúde, bem como se mantém a harmonia e o equilíbrio nas relações entre fornecedores e consumidores de modo a satisfazer, substancialmente, o objetivo da política nacional das relações de consumo”.

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