Lindbergh desmonta clichês que potencializam epidemia de homicídios de jovens

Lindbergh desmonta clichês que potencializam epidemia de homicídios de jovens

Lindbergh apresenta balanço dos trabalhos da CPI que investiga assassinatos no BrasilO senador Lindbergh Farias (PT-RJ) apresentou ao plenário, nesta quinta-feira (5), um breve balanço dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado que investiga o assassinado de jovens, do qual é relator. Nesta sexta-feira (6) a CPI realiza uma audiência pública no Rio de Janeiro, encontro que o senador considera muito importante para as investigações em curso, especialmente sobre o papel da violência policial na verdadeira “epidemia de homicídios” que vive o Brasil.

Desde sua instalação, em maio deste ano, a CPI já realizou 21 audiências públicas, ouvindo representantes da sociedade civil, familiares de vítimas, gestores públicos, organismos internacionais, juristas, acadêmicos, policiais e entidades de defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Os depoimentos ajudam a montar um painel estarrecedor, onde se destaca a banalização do assassinato da juventude negra, pobre e moradora das periferias do País.

O estereótipo do negro como “traficante”’ ou “‘criminoso”, a criminalização da pobreza e a ideia de que nas favelas é aceitável um tipo de intervenção policial que não seria tolerada em nenhuma outra área das cidades estão expressos nas estatística: das 56 mil vítimas de homicídios registrados em 2012, 50% eram jovens e 77% desses jovens eram negros. “Chegamos a um ponto em que o risco de um jovem negro ser assassinado é 2,6 vezes maior que o risco que corre um jovem branco”, apontou Lindbergh.

Operações policiais

“As políticas de segurança pública no Brasil são marcadas por operações policiais repressivas nas favelas e nas áreas marginalizadas. A guerra às drogas para combater o comércio de drogas ilícitas, especialmente nas favelas, e a ausência de regras claras para o uso de veículos blindados e de armas pesadas em áreas urbanas densamente povoadas eleva o risco de morte da população local”, avalia o senador.

Ele rejeita a justificativa recorrente apresentada pela polícia em casos de uso de força letal contra a população. “Alega suspeitas de envolvimento das vítimas com grupos criminosos, ou que a morte ocorreu em confronto com a polícia. Frequentemente, o discurso oficial culpa as vítimas, já estigmatizadas por uma cultura de racismo, descriminalização e criminalização da pobreza”.

Operações militarizadas de larga escala têm resultado em um alto índice de mortes de cidadãos, especialmente no Rio de janeiro, onde, em uma década, a polícia do estado matou seis vezes mais do que toda as polícias dos Estados Unidos. Das 1.275 vítimas de homicídios decorrentes de intervenção policial, entre 2010 e 2013, na cidade do Rio de Janeiro, 99,5% eram homens, 79% eram negros, 75% tinham entre 15 e 29 anos de idade.

“Parte significativa da sociedade brasileira legitima essas mortes”, lamenta o senador. Segundo pesquisa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 43% dos brasileiros concordam com a afirmação de que “bandido bom é bandido morto”, enquanto 32% concordam totalmente com essa frase. “A lógica da execução não está somente entranhada nas instituições policiais. O policial acha que está fazendo um bem para a sociedade e uma parcela grande da sociedade apoia isso”, ressaltou Lindbergh.

Contribui para isso, também, sistema de justiça criminal, que raramente investiga abusos policiais. Em um período de dez anos, entre 2005 e 2014, foram registrados cerca de 8,5 mil casos de homicídios – apenas em 2014, os homicídios praticados por policiais em serviço correspondem a 15% do número total de homicídios na cidade do Rio de Janeiro. “Fica evidente que as instituições do Estado têm se mostrado incapazes de lidar com essa temática”, afirma o senador.

A audiência pública da CPI do Assassinato de Jovens será realizada às 9:30 desta sexta-feira, no auditório da OAB (Av. Marechal Câmara, 150 – Centro).

Cyntia Campos

Leia mais:

Especialistas bombardeiam proposta de redução da maioridade penal 

Não podemos assistir estatísticas aumentarem e não fazer nada,diz Humberto

Humberto inicia debate sobre assassinato de jovens no Estado de Pernambuco

É preciso mais educação do que repressão, defende Lindbergh em CPI

“É insanidade reduzir a maioridade penal para conter violência”, diz Fátima

To top