O senador Paulo Paim (PT-RS) criticou a morosidade da justiça para julgar os responsáveis pela morte de 242 jovens no incêndio da Boate Kiss, no município gaúcho de Santa Maria. Ele visitou a cidade na semana passada e, em pronunciamento ao plenário, na noite de segunda-feira (24), relatou o encontro que teve com representantes das famílias das vítimas.
Paim esteve em Santa Maria representando a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, conduzindo uma audiência pública. “Vi uma indignação muito grande. Na reunião estava um grande número de pais e mães que perderam os seus filhos naquela noite trágica. Eles estão muito indignados pela morosidade da Justiça”. O senador relatou que o Ministério Público também foi muito criticado. Os familiares entendem que enquanto a Polícia Civil acelerou as investigações, as demais instâncias não têm agido com a mesma presteza.
Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, um sinalizador aceso por um integrante da banda “Gurizada Fandangueira”, que se apresentava na Boate Kiss, provocou o incêndio que matou 242 pessoas e feriu 116 outras. As más condições de segurança do estabelecimento, sem saídas de emergência e equipamentos adequados contribuíram para a tragédia, a maior já registrada no Rio Grande do Sul em número de vítimas.
O inquérito policial apontou muitos responsáveis pelo acidente, mas poucos foram denunciados pelo Ministério Público à Justiça.
Paim apresentará as conclusões finais de sua visita a Santa Maria em um relatório à Comissão de Direitos Humanos. Em seu pronunciamento, o senador adiantou que há um sentimento geral entre as famílias das vítimas de que “há um certo entrave de forças ocultas que fazem com que o processo não ande”. Ele manifestou solidariedade aos sobreviventes e aos parentes dos mortos e reafirmou a legitimidade da indignação manifestada por todos que até hoje sofrem os efeitos da imprudência praticada pelos donos da boate, pelos músicos e pelos órgãos responsáveis pela fiscalização de estabelecimentos públicos.
“Comprometi-me com eles de que o relatório que farei à CDH será entregue à presidenta Dilma, ao presidente do Supremo e ao presidente do Congresso Nacional, ou seja, aos Três Poderes”, afirmou Paim. Segundo o senador, a dor da cidade ainda é muito viva, mais de um ano após o episódio. “Deu para sentir que a cidade ainda está chorando. As lágrimas ainda não secaram”. Ele relatou a frase que ouviu de uma senhora, parente de uma das vítimas: “Senador, sim, você acertou em dizer que a cidade continua chorando. Nossas lágrimas não vão secar nunca. Queremos nos transformar num grande rio de lágrimas que vai lavar a maldade dos homens, daqueles que cometeram o crime de não garantir nenhuma segurança numa casa de espetáculo, onde 242 jovens morreram carbonizados, queimados, asfixiados, enfim, pelo gás que inalaram naquela construção que não tinha nenhum tipo de segurança”.
Cyntia Campos