Viana: em que página da História a sessão [do impeachment na Câmara] será inscrita?Foi a primeira vez que os brasileiros puderam assistir, via redes sociais e em tempo real, a uma sessão como a desse domingo (17). “Foi vexatório, foi vergonhoso nós vermos as recorrentes manifestações que se desvinculavam da seriedade, do momento importante que o Brasil estava vivendo: a possibilidade de retirada do poder, antes da conclusão do mandato, de uma presidenta dita – inclusive por seus maiores algozes e adversários – honesta, de um governo que recebeu 54 milhões de votos há menos de dois anos”. O resumo é do senador Jorge Viana (PT-AC), inconformado com a pouca seriedade e o descompromisso com que os deputados anunciaram seus votos na sessão que terminou com a autorização da Câmara dos Deputados para a abertura de processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff.
Nesta segunda-feira (17), ultrapassado o impacto do golpe, Viana foi ao plenário pedir serenidade aos senadores. “Temos a responsabilidade de tentar encontrar um caminho que não agrave mais ainda a crise brasileira, que possa pacificar o nosso País, que possa fazer um reencontro de todos nós na democracia”, disse
A preocupação de Viana é com a democracia. Ele explicou que acompanhou com atenção as manifestações contrárias e favoráveis e abertura do processo e concluiu que mesmo quem se colocou ao lado da presidente defendia, primordialmente, a democracia. “Muitos têm críticas, têm cobranças a fazer, mas sabem separar as críticas, as cobranças da defesa de um valor tão importante. O que está em jogo é o que acontecerá se for efetivado, por exemplo, esse atalho à Constituição e se for efetivada a retirada, antes do fim do mandato, de uma presidenta honesta”, alertou.
O senador disse que apear Dilma antes do mandato, sem acusação formal, abre um precedente muito perigoso. Fica criado um atalho à Constituição que permite que qualquer prefeito possa ser apeado do poder caso enfrente dificuldades ou seja mal avaliado. “O mesmo com o governo; a insegurança vai vir junto”, acredita.
Vexame
As longas horas de votação na sessão de domingo, segundo o vice-presidente do Congresso foram vexatórias. Tanto que a mídia internacional teceu duras críticas ao que Viana chamou de “espetáculo deprimente”. O senador citou alguns exemplos:
– O Financial Time: “Analistas e até mesmo alguns políticos da oposição temem que a votação de domingo contra Dilma possa ter dado início a uma transição arriscada.”
– O El País fala que, desde 1985, quando o Brasil estava se reencontrando com a democracia, nenhum relatório jurídico foi lido com base jurídica que poderia justificar o crime de responsabilidade para a presidenta Dilma cair.
– O The Guardian: “A presidenta Dilma Rousseff sofreu uma grande derrota nesse domingo, em um Congresso hostil e contaminado pela corrupção”
– O The New York Times: “O potencial impeachment representa um risco e cria um sério teste para a democracia do Brasil, um país há tempos envolto em crise econômica e em que, até agora, quatro dos oito presidentes eleitos desde 1950 não conseguem terminar seus mandatos”.
– La Nación: “Um cenário mais condizente com uma partida de futebol do que com um dos momentos mais importantes da história da Câmara dos Deputados.”
– A CNN: “O pedido de impeachment da presidenta Dilma é uma vingança mesquinha orquestrada por políticos acusados de crimes muito mais graves e sérios que os da presidenta.”
– O Washington Post também faz uma citação, dizendo que o País atravessa um momento perigoso, e que, em circunstâncias duvidosas, uma presidenta pode ser afastada por um Congresso tão impopular quanto ela.
Viana manifestou a esperança de que o Senado – instituição com 190 anos – não fará coro e nem assinará embaixo do “plano executado com com maestria por Eduardo Cunha”.
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