Gleisi: As pessoas querem apostar num novo governo, querem achar que vai dar certo, mas não estão tendo a consciência do que está por trás disso, do desmonte do Estado brasileiro. Foto: Pedro França/Agência SenadoAs sucessivas demonstrações da gestão golpista de privilegiar às elites em detrimento dos mais pobres não deixa dúvida: isso só será possível por meio de um golpe de Estado. Para a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), essa é a saída para pôr em prática a tentativa do atual governo de priorizar os interesses dos patrões.
“Só há um jeito de implementar um programa que beneficie o setor financeiro e a elite brasileira: através de um golpe, em que a responsabilidade única do presidente da República é com o Congresso Nacional”, denunciou a senadora, nesta sexta-feira (22), em discurso ao plenário.
A gestão golpista tem sinalizado com retrocessos como a reforma da Previdência, privilegiar à negociação entre patrão e empregado ao invés do que está previsto na CLT e até mesmo acabar com o Sistema Único de Saúde (SUS) – o ministro interino da área, Ricardo Barros, é favorável à criação de um sistema privado “popular” destinado aos mais pobres, com muito menos serviços que os oferecidos atualmente de forma gratuita.
“Daqui a pouco, vem também uma reforma da assistência, porque afinal se gasta muito dinheiro com os pobres neste País”, ironizou Gleisi.
Ela lembrou ainda da preparação do governo interino de um “pacote de bondades” com o objetivo de aprovar as propostas econômicas de interesse da administração federal e de retirada de direitos dos trabalhadores. “Quer dizer, não tem dinheiro para as ações na área social, não tem dinheiro para a Previdência, não tem dinheiro para uma série de programas, mas tem para pagar emendas dos parlamentares”, disse.
Alerta
A parlamentar também destacou acontecimentos recentes, todos mostrando a necessidade de alertar à população para o que “está acontecendo” no País. Entre eles, ocorridos em pouco mais de uma semana, está a decisão do Ministério Público Federal de pedir o arquivamento parcial do processo das chamadas “pedaladas fiscais”, a condenação do processo de impeachment de Dilma pelo Tribunal Internacional da Democracia e a divulgação de uma pesquisa fraudulenta pela Folha de S.Paulo beneficiando Michel Temer.
“Eu espero, sinceramente, que nós consigamos alertar a sociedade do que está acontecendo. Às vezes, parece-me que há uma apatia, uma letargia. As pessoas querem apostar num novo governo, querem achar que vai dar certo, que as coisas podem melhorar, mas não estão tendo a consciência do que está por trás disso, do desmonte do Estado brasileiro, aliás, do estado mínimo de bem-estar social que nós construímos a partir da Constituição de 1988”, criticou Gleisi.
Sobre a decisão do Ministério Público Federal, Gleisi afirmou que ela enterra de vez o processo de impeachment no Senado. Segundo a senadora, órgão constatou que os atrasos não configuram operação de crédito de banco público à União, não havendo, portanto, crime de responsabilidade.
“Como o Senado vai julgar o impedimento da presidenta Dilma, se não tem crime? Nós não podemos permitir a retomada dos trabalhos na Comissão Especial de Impeachment, sem antes ouvir o Procurador Ivan Cláudio Marx. Não podemos fazê-lo. Ele tem de vir a esta Casa para falar como foi instaurado o procedimento penal, por que ele tomou essa decisão, por que não configura crime e por que esse processo foi arquivado”.
O rei das MPs
Gleisi registrou ainda, em plenário, o recorde recém-alcançado por Michel Temer: o de presidente com o maior número de edição de Medidas Provisórias (MPs) em um início de gestão: foram 16 nos primeiros dois meses à frente do Palácio do Planalto.
“Aliás, era o presidente interino Michel Temer um dos maiores críticos na edição de medidas provisórias. Ele e grande parte da Base do PMDB aqui afirmavam que a edição de medidas provisórias tirava a legitimidade do Congresso Nacional”, lembrou a parlamentar.
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