Uma questão de direitos humanos – Por Paulo Paim

Louvável. Assim eu defino a declaração da presidenta Dilma Rousseff feita nesta semana, diante do memorial José Martí, em Cuba, de que a questão dos direitos humanos deve ser tratada de forma abrangente e não apenas localizada. Ela lembrou que os Estados Unidos mantêm a base naval de Guantánamo na ilha, com diversos presos detidos há 10 anos e sem julgamento.

A presidenta Dilma Rousseff tratou de forma universal os direitos humanos, como deve ser feito. Parabéns, minha presidenta. A senhora foi certeira, correta e justa. No meu entendimento uma declaração de estadista. Sem preconceito ideológico. Creio que Raúl Castro e seu irmão Fidel, agora afastado da presidência, entenderam… Só há um “direitos humanos”: aquele que respeita e luta pela dignidade da vida das pessoas.

No Brasil, por exemplo, milhões de aposentados e pensionistas amargam reajustes pífios nos seus benefícios. Isto vem acontecendo nos últimos 25 anos. Sem dúvida nenhuma, esta também é uma questão de direitos humanos e, como tal, não é localizada, é abrangente. Ela envolve todo o nosso país, nossas crianças, nossos jovens e nossos adultos, pois eles serão os aposentados de amanhã. Aliás, nos próximos anos o nosso país terá a maior população de idosos do mundo.

Há anos venho defendendo os direitos dos aposentados e pensionistas. Às vezes, esta luta causa angústia, faz chorar, pois me deixa impossibilitado de agir. Fico de mãos amarradas, sozinho, tentando subir a montanha mesmo com desmoronamentos. Mas, vejam bem, jamais vou desistir.

A questão dos aposentados e pensionistas, esses mesmos que muitas vezes são figurinhas carimbadas dos comediantes e chargistas do nosso país, é de direitos humanos, sim! Sim, minha gente… direitos humanos porque todos conhecem a aquarela de tintas derretidas que é a situação deles. Eles, que deram o suor pelo desenvolvimento do país, que têm marcas nas mãos e sulcos no rosto, fazem das “tripas coração” para sobreviver… Muitos morrem, por não terem dinheiro para comprar medicamentos ou nas filas dos hospitais. Portanto, creio que está na hora de o Poder Executivo avançar e dar uma atenção maior à situação do fundo Aerus e aos projetos que propus, e que já aprovamos no Senado, para acabar com o fator previdenciário e para corrigir os benefícios dos aposentados e pensionistas pelo mesmo índice do salário mínimo.

E assim, podem crer, continuarei sempre cantarolando José Martí: Nos campos verdes,/ És campo de primavera./ De onde crescem as faunas,/ E antes de morrer espero,/ Cantar em versos minha alma,/ Meu verso de verde claro,/ Que sobre as cinzas da vida,/ Meu verso é um ser ferido,/ Que busca no monte, amparo.

Artigo publicado no jornal Zero Hora, em 02/02/12

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