ARTIGO

Vitória de Lula é saudada pela mídia de todo o planeta

Os veículos se desdobram para falar que o candidato do PT terá no governo o papel de resgatar o debate da agenda ambiental e que a democracia brasileira passou por um teste de força
Vitória de Lula é saudada pela mídia de todo o planeta

Foto: Ricardo Stuckert

O triunfo eleitoral de Lula nas eleições presidenciais de domingo é um dos principais assuntos do terça-feira na mídia internacional.

A vitória do petista está na capa de muitos jornais europeus, com alguns dando manchetes de primeira página.

Os veículos se desdobram para falar que o candidato do PT terá no governo o papel de resgatar o debate da agenda ambiental e que a democracia brasileira passou por um teste de força.

A vitória do velho líder da esquerda brasileira é a manchete principal do francês Le Monde: Lula vence em um país fraturado.

“Diante de um Congresso conservador, o presidente eleito terá que usar toda a sua capacidade de negociação e conciliação para forjar alianças”, escreve o correspondente Bruno Meyerfeld.

Em editorial, o Monde diz que a eleição de Lula traz alívio global.

“A proximidade da vitória do candidato presidencial contra Jair Bolsonaro diz o quão imensa é a tarefa, já que o bolsonarismo está agora ancorado no Congresso e em muitos estados do gigante sul-americano”, aponta. A vitória de Lula desperta alívio entre chefes de Estado estrangeiros, de Macron a Biden”.

O presidente da França foi o primeiro a cumprimentar o líder brasileiro, seguido por Joe Biden.

“Juntos, vamos unir forças”, assegurou o presidente francês, enquanto o seu homólogo americano saudou “eleições livres, justas e credíveis”.

O Libération também destacou a reação da comunidade internacional à vitória do esquerdista, eleito presidente pela terceira vez.

31 de outubro de 2022: Vitória de Lula saudada mundialmente.

Em longo perfil, o ex-presidente é chamado pelo diário francês de a fênix vermelha que derrotou a extrema direita brasileira.

“O ex-metalúrgico de 77 anos, duas vezes presidente do Brasil entre 2003 e 2011, venceu por pouco Jair Bolsanaro no segundo turno da eleição presidencial. Depois de passar 580 dias na prisão, depois de ter sua condenação anulada, seu retorno retumbante assume a aparência de uma ‘tragédia grega’”.

Depois de dar manchete de primeira página em sua edição de segunda — Brasil se parte em dois com o pulso entre Lula e Bolsonaro —, o espanhol El País mantém o foco sobre o presidente eleito na capa de terça-feira: Lula ante o desafio de liderar o Brasil em uma ampla aliança.

O diário madrilenho também destaca que a volta de Lula ao poder é um alívio para o planeta.

Em editorial, o jornal diz que no Brasil está o futuro do mundo: “País volta ao cenário internacional com Lula e reforça democracia contra derivas iliberais”, aponta.

Outro jornal espanhol a colocar os olhos sobre o Brasil é o La Vanguardia que destaca na manchete de capa o silêncio do líder da extrema direita diante da derrota: Bolsonaro se cala enquanto seus aliados aceitam a vitória de Lula.

O diário sediado em Barcelona também informa que o triunfo de Lula foi por uma margem muito estreita, mas o presidente eleito impôs uma derrota esmagadora ao rival no nordeste.

O jornal português Diário de Notícias também destaca na capa a vitória do líder esquerdista e aponta um horizonte de problemas para o vitorioso: E agora Brasil? Os 12 trabalhos de Lula da Silva.

“O presidente eleito terá de lidar com transição hostil de governo, Congresso virado à direita, rombo orçamental, rejeição alta. E ainda acomodar todos os velhos, novos e futuros”, detalha.

Em outra reportagem, o DN diz que Bolsonaro não felicita Lula mas reconhece ter perdido, e também fala da tentativa de se criar um tumulto no cenário político, com a baderna promovida por apoiadores do atual presidente: Justiça ordena intervenção da polícia nos protestos pró-Bolsonaro.

Reportagem do lusitano Público vai na mesma linha ao traçar quais são as dificuldades do eleito: Os oito maiores desafios de Lula no novo governo.

O jornal ainda aborda o isolamento de Bolsonaro, que deixou seus apoiadores órgãos e relata que a vitória de Lula acentua a virada da América Latina para a esquerda.

O site do diário português ainda alerta que a terceira era do lulismo não tem margem para erros e informa que a justiça ordenou intervenção da polícia para desbloquear estradas cortadas por bolsonaristas.

O inglês The Times diz que Bolsonaro deve admitir derrota enquanto Lula promete que vai unir o Brasil.

“O presidente Bolsonaro parecia pronto na noite passada para admitir a derrota de seu rival de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva na eleição mais divisiva do país em sua história recente”, aponta o tradicional jornal inglês. “Bolsonaro disse ao seu gabinete que não pretende contestar o resultado da eleição, mas também não pretende parabenizar o vencedor”.

Em reportagem correlata, o diário britânico menciona a ‘onda rosa’ que está voltando na América Latina. “A conversa sobre uma ‘maré rosa’ está se espalhando pela América Latina mais uma vez, depois de anos em que se pensava que o movimento de esquerda estava em baixa”.

No New York Times, reportagem diz que a vitória de Lula no Brasil significa que a agenda ambiental será afetada.

Manuela Andreoni tenta explicar porque o triunfo do líder esquerdista brasileiro significa para o clima: “O presidente eleito já ajudou a reduzir as taxas de desmatamento na floresta amazônica. Ele diz que quer fazer de novo”, frisa.

“Neste momento, a floresta absorve o dióxido de carbono da atmosfera que aquece o planeta e o armazena nas raízes das árvores, galhos e no solo. De acordo com uma estimativa, existem 150 a 200 bilhões de toneladas métricas de carbono trancadas na floresta”, pontua. “Mas isso pode mudar. Se o desmatamento continuar, a selva poderá em breve se tornar um emissor líquido de gases de efeito estufa”.

A eleição de Lula também ganha a manchete do Financial Times, um dos mais influentes jornais do planeta: Lula pressiona pela unidade brasileira após vitória enquanto Bolsonaro permanece em silêncio.

De acordo com o diário financeiro britânico, Lula mantém investidores adivinhando sua visão econômica para o Brasil. “Mercados ansiosos por detalhes sobre como o presidente de esquerda pode seguir o caminho da responsabilidade fiscal”, aponta.

No Guardian, uma das notícias mais importantes da edição de terça-feira é a homenagem de Marina Silva ao repórter assassinado nos confins da floresta.

A matéria está no pé da primeira página do jornal: Aliada de Lula presta homenagem a Dom Phillips e promete proteger a Amazônia. “Com a saída de Bolsonaro, Marina Silva promete homenagear ativistas ambientais assassinados ao acabar com o desmatamento”, escreve o correspondente Tom Phillips.

O jornal ainda publica um cartum de Ben Jennings abordando a derrota de Bolsonaro.

No alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, a notícia da vitória de Lula é manchete de primeira página: Lula declara vitória eleitoral como vitória da democracia.

“Bolsonaro perde por pouco o segundo turno brasileiro”, informa.

E destaca que o premiê alemão, Olaf Scholz, espera cooperação com o novo governo. O jornal reproduz as primeiras declarações do novo presidente do gigante latino-americano.

“Esta é a vitória de um grande projeto democrático que está acima dos partidos e das ideologias”, disse. “Não há dois Brasis, mas um”.

O jornal ainda mostra o grau de tensão no país: Brasil é uma terra entre o júbilo e o silêncio.

“Terminada a eleição, Bolsonaro foi dormir. O vencedor Lula da Silva está olhando para frente
– ele quer restaurar a reputação do Brasil”, escreve o correspondente Tjerk Bruhwiller.

Reportagem aborda o silêncio presidencial diante do resultado das urnas. “Após as eleições presidenciais no Brasil, o titular Jair Bolsonaro, que costuma ser tão comunicativo, ainda se recusa a admitir a derrota. Seus seguidores bloquearam várias estradas em todo o país”, resume.

Na capa da home, o Sueddeutsche Zeitung destaca que Lula da Silva precisa de apoio agora, depois de sair vitorioso das urnas, no domingo, ao derrotar o rival, mas que não terá muito tempo para comemorar, já que o país tem muitos problemas. “Apesar de toda a campanha do candidato de direita Bolsonaro, Lula da Silva ganhou a presidência. Mas o ódio profundo contra ele e o Partido dos Trabalhadores persiste entre muitos brasileiros”.

A imprensa argentina também mantém o foco de suas atenções para a situação política brasileira, depois de dar a vitória espetacular de Lula nas manchetes dos principais jornais do país na segunda-feira (acima).

O Clarín relata na edição de hoje o encontro do brasileiro com o presidente Alberto Fernández, ontem, em São Paulo.

Segundo o jornal, foi acertado no encontro que a primeira visita de Lula após vitória será à Argentina.

“Ele o fará antes de assumir o cargo em 1º de janeiro de 2023”, disse o mandatário do país vizinho.

O Página 12 também destaca o encontro dos dois amigos e ainda reporta o silêncio pesado de Jair Bolsonaro.

O jornal informa que os bloqueios de caminhoneiros foram até agora única reação à derrota do presidente da República.

Reportagem repercute a saudação da América e Europa diante da vitória de Lula e anuncia que os países das regiões esperam trabalhar lado a lado com o novo presidente do Brasil.

Eric Nepomuceno fala do “silêncio sepulcral” do extremista da direita: “A sepultura se refere à trajetória política do homem desequilibrado que já foi o pior presidente da história do meu país”.

A mídia estatal chinesa destaca a eleição de Lula e mostra Xi Jinping parabenizando o presidente eleito pela vitória.

Ele declarou que espera reforçar os laços bilaterais entre China e Brasil.

O Global Times destaca que o líder chinês mencionou a amizade de longo prazo e disse esperar o aprofundamento da cooperação que atendem aos interesses fundamentais dos dois países. Xi declarou que a vitória de Lula é importante para manter a paz e a estabilidade regional e mundial e promover o desenvolvimento e a prosperidade comuns.

O Diário do Povo — órgão oficial do PC Chinês — deu destaque na primeira página: Xi parabeniza Lula da Silva por eleição como presidente brasileiro.

“O presidente chinês, Xi Jinping, enviou na segunda-feira uma mensagem de felicitações a Luiz Inácio Lula da Silva por sua eleição como presidente da República Federativa do Brasil”, diz a reportagem.

Desde que a China e o Brasil estabeleceram relações diplomáticas, há 48 anos, com o esforço conjunto dos sucessivos governos dos dois países e de todos os setores de suas sociedades, as relações bilaterais testemunharam um desenvolvimento de longo prazo, com a cooperação em diversos campos produzindo resultados frutíferos”.

A mídia russa também noticia a vitória do candidato da esquerda brasileira e o Sputnik traça um perfil de Lula: Quem é o novo presidente do Brasil?

“O recente triunfo eleitoral de Lula está longe de ser o primeiro em sua carreira política, já que ele já serviu dois mandatos como presidente do Brasil, de 2003 a 2010”, relata.

No Asia Times, Pepe Escobar escreve sobre a volta de Lula ao olho do furacão e os impactos de sua vitória na geopolítica global.

“Lula vence, mas seu espaço de manobra será limitado por forças poderosas alinhadas contra sua agenda do Sul Global”, avalia.

“Lula, sempre um negociador excepcional, conseguiu vencer o formidável aparato da máquina estatal desencadeada por Bolsonaro, que viu a distribuição de bilhões de dólares em compra de votos; uma avalanche de notícias falsas; intimidação direta e tentativas de repressão eleitoral contra os pobres por bolsonaristas raivosos; e inúmeros episódios de violência política”, descreve.

Diz o jornalista brasileiro, especialista em geopolítica e que atua como freelancer na imprensa asiática: “Lula herda uma nação devastada que, assim como os EUA, está completamente polarizada. De 2003 a 2010 – ele subiu ao poder, aliás, apenas dois meses antes do ‘choque e pavor’ dos Estados Unidos contra o Iraque – a história foi bem diferente”.

Escobar lembra a política do petista: “Lula conseguiu trazer à mesa prosperidade econômica, alívio maciço da pobreza e uma série de políticas sociais. Em oito anos, ele criou pelo menos 15 milhões de empregos”.

Artigo originalmente publicado no Viomundo

To top