Após quatro horas e cinquenta minutos de uma reunião de muitos debates, polêmicas, demonstrações de conhecimento constitucional e administrativo e alguns bate-bocas, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações criminosas do contraventor Carlos Cachoeira aprovou seu plano de trabalho.
Apenas três parlamentares votaram contra a proposta apresentada pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG). A reunião de trabalho também serviu para aprovar o pedido de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Cachoeira, que está preso em Brasília, no presídio da Papuda.
A necessidade de convocação do procurador Geral da República, Roberto Gurgel, e a não-limitação das investigações sobre a atuação da Delta à Região Centro-Oeste foram os temas mais polêmicos. Alguns parlamentares defenderam que os trabalhos não podiam iniciar sem que o procurador explicasse por que deixou engavetado o inquérito com as investigações sobre a atuação de Cachoeira por cerca de três anos. No final, prevaleceu o entendimento de que a presença do procurador no momento inicial poderia resultar em seu impedimento como responsável pelo inquérito sobre o contraventor.
Sobre a compreensão de que investigação poderia ficar restrita à atuação da construtora Delta no Centro-Oeste, o relator esclareceu que sua proposta não delimitava o raio de ação da comissão, apenas especificava a região como ponto de partida para as investigações. O argumento foi aceito pela maioria dos integrantes da CPMI.
Aos 167 requerimentos de convocação e quebra de sigilo apresentados por diversos parlamentares somaram-se outros durante o andamento da sessão, chegando a um total de
Foco
Integrante da CPMI e relator do caso Demóstenes no Conselho de Ética, o senador Humberto Costa (PT-PE) pediu a seus colegas que não partidarizassem os trabalhos e mantivessem o foco das investigações . “Se esta comissão centrar suas investigações na rede criminosa, vai prestar um grande serviço à sociedade. Mas partidarização dos não serve aos intereses da sociedade”, alertou.
Humberto lembrou que, ao contrário de todas as outras Comissões Parlamentares de Inquérito já realizadas, essa parte de investigações já em andamento e não de uma única denúncia.
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o grande desafio dos trabalhos é descobrir quem era a organização criminosa formada por Cachoeira e “como ela conseguiu cooptar empresários, políticos e profissionais da mídia”.
O líder do Governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE) defendeu a necessidade de acesso imediato aos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo. Segundo informou o presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), apenas os dados da Vegas foram entregues ao Congresso. “Os da Operação Monte Carlo estão na 11ª Vara Federal”, explicou o presidente dos trabalhos.
Para Pimentel, se esses dados já tivessem sido disponibilizados, a CPMI estaria em outra fase dos trabalhos. Ele alerta que o material já fartamente divulgado pela internet pode não ser totalmente verdadeiro “e informações publicadas pela imprensa não são provas processuais”.
Calendário
Veja como ficou o plano de trabalho aprovado nesta quarta-feira
8/5 – Terça-feira
Delegado da Polícia Federal (PF) Raul Alexandre Marques Souza, responsável pela Operação Vegas.
10/5 – Quinta-feira
Delegado da PF Mateus Rodrigues e procuradores do Ministério Público Daniel Salgado e Lea Batista de Oliveira, responsáveis pela Operação Monte Carlo.
15/5 – Terça-feira
Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
22/5 – Terça-feira
Jose Olímpio de Queiroga, Gleib Ferreira da Cruz, Geovani Pereira da Silva, Vladimir Garcez e Lenine de Sousa, acusados de integrar a organização de Cachoeira.
24/5 – Quinta-feira
Idalberto Matias, o Dada, e Jairo Martins, considerados “espiões” do esquema de Cachoeira.
29/5 – Terça-feira
Cláudio Abreu, ex-diretor da empreiteira Delta Construções no Centro Oeste, acusado de envolvimento no esquema de Cachoeira.
31/5 – Quinta-feira
Senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), flagrado em conversas telefônicas com Cachoeira e seus auxiliares.
Giselle Chassot
Ouça entrevista do senador José Pimentel
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Ouça entrevista do senador Humberto Costa
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