ARTIGO

A prioridade deve ser a vacinação, rápida e para todos

"É dever do Congresso Nacional agir, apontar caminhos por meio do debate e do diálogo; não deixando que a crise da pandemia, do desemprego, do social, da economia, suma em meio a irresponsabilidades e desvios de atenção por parte do governo junto à sociedade", aponta, em artigo, o senador Paulo Paim
A prioridade deve ser a vacinação, rápida e para todos

Foto: Alessandro Dantas

Quantos mais precisarão morrer para que o governo federal entenda que não há nada mais valioso do que a vida humana? Mais de 240 mil pessoas já morreram devido à Covid-19. Temos 10 milhões de infectados, o que representa 10% de todos os casos do mundo inteiro.

Para vergonha nacional, levantamento recente do Lowy Institute da Austrália apontou a gestão pública brasileira como a pior do mundo no combate à pandemia. Foram analisados 98 países, levando em conta vários critérios. Num total de 100 pontos possíveis, ficamos com 4.3.

Até o momento, foram 5,6 milhões de vacinados. Um número baixíssimo para uma população de 211,8 milhões e considerando que a curva de infectados aumenta de forma rápida todos os dias; e há também outra variante do vírus. A situação é gravíssima e requer urgência urgentíssima na solução do problema.

A Frente Nacional de Prefeitos registra “os sucessivos equívocos do governo federal na coordenação do enfrentamento à Covid-19, e também na condução do Plano Nacional de Imunizações”. Em carta à sociedade, os prefeitos apontam a escassez e a falta de doses de vacinas em cidades de todo o país. Eles exigem respostas.

Quem não tem competência que não se estabeleça, assim diz o adágio popular. O que se espera de um governo é o mínimo de planejamento eficaz, com prioridades para o momento, médio e longo prazo, de forma coletiva, buscando o bem estar de todos. Isso é ação de governo responsável. Aliás, sequer temos uma campanha nacional de vacinação.

Os fatos me levam a crer que o Brasil está criando um cenário de “mortes anunciadas”. Sabemos que o problema existe e que, se nada fizermos, ele tende a piorar. O descaso leva à morte. Depois de nada adiantará chorarmos as vidas ceifadas. O caminho que o Brasil está percorrendo é perigosíssimo.

O filósofo camaronês Achille Mbembe, no início dos anos 2000, já alertava para a existência de governos que usam o poder para “administrar a morte”. Segundo ele, a “necropolítica” define quem deve viver e quem deve morrer. Isso é cruel, característico de governos contrários aos direitos humanos.

Nessa convergência se dá, evidentemente, o ataque à democracia e a todas as instituições do Estado Democrático de Direito. Inadmissível que ocorra coro para o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Poderes independentes e atuando com harmonia são fundamentais para o andamento da vida política do país. Nós sabemos o resultado de ditaduras, sejam de qualquer espectro ideológico.

É dever do Congresso Nacional agir, apontar caminhos por meio do debate e do diálogo; não deixando que a crise da pandemia, do desemprego, do social, da economia, suma em meio a irresponsabilidades e desvios de atenção por parte do governo junto à sociedade.

Que tempos vivemos! Socorro-me de Dostoievski para uma pequena reflexão: eles usam as governantas para incendiar as casas (…). Incrível! O fogo não está no telhado, está na mente das pessoas. Como eu disse no início: não há nada mais valioso do que a vida humana.

Artigo originalmente publicado no Brasil 247

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