Retrocesso

Saúde: Brasil anda para trás na vacinação dos cidadãos

Senadores cobram responsabilidades sobre retrocesso no setor, que recoloca o país diante de doenças já erradicadas
Saúde: Brasil anda para trás na vacinação dos cidadãos

Foto: Agência PT

Em qualquer setor, informação de qualidade é essencial ao planejamento. Imagine quando o assunto é a saúde da população, principalmente de crianças. Pois no país em que faltou vacina contra Covid a tempo de salvar milhares de vidas, faltam agora dados sobre a aplicação de outras vacinas na rede pública de Saúde.

A responsabilidade pela coleta dessas informações é do Ministério da Saúde, que deveria manter um sistema, o DataSUS, atualizado. Só que de acordo com denúncias de várias prefeituras, compiladas em reportagem da BBC Brasil, as estatísticas publicadas pelo Ministério da Saúde não batem com a realidade local, o que deixa em voo cego os gestores que planejam as políticas públicas e o orçamento do setor.

O DataSus afirma, por exemplo, que em quase um quinto dos municípios brasileiros a cobertura vacinal não chega a 50%, e que em algumas dezenas de cidades esse índice é de menos de 10%. É desatualização, garantem o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que cobram agilidade da Esplanada dos Ministérios num assunto tão sério e que pode prejudicar campanhas nacionais de vacinação e agravar um quadro que é de risco de volta de doenças erradicadas, controladas ou com poucos casos, como poliomielite, sarampo e febre amarela.

A médica e senadora Zenaide Maia (Pros-RN) vem chamando a atenção para esse risco: “em 2015, a cobertura vacinal contra a poliomielite foi de 98%. Ano passado, o percentual ficou abaixo de 70% pela primeira vez, com 69,9%. Isso é perigoso porque há a chance real da volta dessa doença que paralisa e pode matar”,  advertiu a senadora, sinalizando a falta de planejamento no setor, um dos efeitos do apagão de dados no Ministério da Saúde.

Brasil menos vacinado
Afora esse breu instalado pelo atual governo nas informações do setor, é verdade que a vacinação vem caindo no país. E isso pode ser reflexo de outra escuridão: o negacionismo instalado a partir da pandemia, acredita Fabiano Contarato (PT-ES).

“A campanha antivacina promovida pessoalmente por Bolsonaro na pandemia de Covid-19 entranhou-se na estrutura do Ministério da Saúde de forma sistêmica. Depois de décadas, o país volta a ser assombrado por doenças controladas por vacinação periódica, estratégia coordenada por movimentos radicais que encontraram refúgio na extrema-direita”, denunciou o senador.

Também compartilha dessa conclusão o ex-ministro da Saúde, Humberto Costa (PT-PE), para quem a queda da cobertura vacinal é “um dos componentes mais trágicos no cenário de terror pelo qual o Brasil passa hoje”. O senador não tem dúvidas de que o ataque de Bolsonaro às vacinas, na pandemia, afastou muita gente do compromisso com a imunização, especialmente de crianças, e levou o governo a desestruturar um trabalho reconhecido internacionalmente nessa área.

“O SUS chegou a vacinar 10 milhões de pessoas num mesmo dia, nos nossos governos. Hoje, chegamos aos menores patamares da série histórica, com o Ministério da Saúde promovendo um apagão no sistema de informações para, de um lado, omitir o seu fracasso e, de outro, estimular esse esquema criminoso. Esses gestores terão de ser responsabilizados na forma da lei porque é uma deliberada política de desmonte da saúde, em prejuízo da população, exposta ao risco de doenças já dadas como erradicadas em território nacional, como a poliomielite, ameaçando regressar com força”, denunciou Humberto Costa.

O retrocesso vivido pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), maior programa público de vacinação do mundo, preocupa igualmente Paulo Paim (PT-RS), que cobra ações urgentes do Ministério da Saúde.

“A falta de dados confiáveis é um gravíssimo problema, que poderá colocar em risco as doenças já erradicadas. Isso é inaceitável. Está evidente o descaso do atual governo com a saúde pública. O país precisa voltar a ter resultados expressivos e confiáveis, priorizando a vacinação da população, principalmente das crianças”, receitou Paim, acrescentando a necessidade de intensificar as campanhas nacionais de vacinação e valorizar os agentes públicos de saúde: “Isso se dá a partir de decisão política”.

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