despedida de um ícone

Com despedida de Jô, Brasil perde muitos de uma só vez

Saída de cena do gênio criativo e provocativo, amante do Brasil, da Cultura, deixa país num luto diferente, maiúsculo e plural
Com despedida de Jô, Brasil perde muitos de uma só vez

Foto: Reprodução

Gênio do humor e da sátira política, ícone da apresentação televisiva, escritor envolvente. Além disso, ator, diretor, defensor intransigente da democracia e tantos outros substantivos e adjetivos que se espalham nesta sexta-feira (5) de homenagens por todo o país. A partida de Jô Soares, aos 84 anos, é sentida por gerações. Os mais antigos citam até hoje bordões de seus 300 personagens humorísticos em 15 programas de TV. Outros terão lido ao menos uma de suas nove obras literárias ou assistido a filmes, peças em que ele atuou ou dirigiu. Foram 46 películas e roteiros de teatro. Como apresentador, dominou e ensinou a arte da entrevista por 28 anos. Fãs, aprendizes, testemunhas e agraciados por sua conhecida generosidade. O Brasil todo, hoje, é que manda beijo para o Gordo.

O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), lamentou a perda de um dos melhores entrevistadores e artistas da nossa história. “Íntegro, competente e extremamente divertido. O Brasil sentirá muita falta de você, companheiro. Aos parentes, amigos e fãs, minha solidariedade”, compartilhou o senador nas redes sociais.

O talento plural de Jô foi também lembrado por Jaques Wagner (PT-BA) e Fabiano Contarato (PT-ES), ao externarem pesar pela partida do artista multifacetado. “Um grande humorista, apresentador de TV, escritor, dramaturgo, diretor e ator brasileiro: Jô Soares era um gigante! Que sua trajetória brilhante nos inspire a transformar e superar esse Brasil de tanta desesperança”, escreveu Contarato. “Figura marcante da TV brasileira, que deixa também um grande legado para o nosso teatro, cinema e literatura. Fará uma enorme falta”, anotou Jaques Wagner.

No momento em que o país assina manifestos em defesa da democracia e convive com ameaças às instituições e ao Estado de Direito, outro traço marcante de Jô Soares é destacado em todo o país: sua luta histórica contra o autoritarismo. Compôs dezenas de personagens e desafiou censores à base de criatividade e astúcia. Como na roupagem em que invocava Gandola, que em tudo mandava. A troça durou mais de ano, até censores entenderem que o termo gandola traduzia a túnica militar. Nas entrevistas e na vida pessoal, era eloquente na defesa de um país livre e diverso.

“Jô Soares usou o bom humor para abordar temas nem sempre agradáveis. Um grande comediante, apresentador e, sobretudo, defensor da democracia. Ele fará falta nesses tempos sombrios”, sintetizou Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado. O colega Paulo Paim (PT-RS) também enalteceu a importância de Jô Soares na construção da cidadania no país, dentro e fora das telas e dos palcos: “um marco da cultura brasileira. Um grande homem público, progressista e humanista. Sempre esteve ao lado da verdade. Falava para o Brasil e para o mundo.”

“Seus talentos e atividades eram tantos que desafiam categorias. Uma pessoa generosa que por anos conduziu entrevistas que foram um importante espaço de debate para o país”, exaltou o ex-presidente Lula.

O caldo intelectual com tempero popular de José Eugênio Soares verteu papéis como o do marido exilado que clamava pela ajuda da mulher para voltar ao Brasil em tempos cinzentos; do monarca anão, que expunha reais problemas nacionais enquanto distribuía ordens aos súditos; do torcedor apaixonado que ligava para o técnico da Seleção sugerindo a melhor escalação; dos vários personagens que dialogavam com públicos LGBTQIA+ com graça, até os vestindo de heróis. Um guarda-roupas diverso, que dialogou por décadas com os brasileiros e, aqui e ali, ajudou-os a mudar de figurino. E, seguramente, a fazê-los gargalhar.

Como sintetizou Rogério Carvalho (PT-SE), “um brasileiro talentosíssimo que dedicou sua vida à cultura e às artes! Vá em paz, Jô, com a certeza que vamos fazer o Brasil voltar a sorrir!” Jô concordava que o Brasil precisa disso. Ele, próprio, descartava a tristeza. Na autobiografia O Livro de Jô, de 1993, adotou a frase de Millôr Fernandes, que deu pitacos sobre o enterro de Jô Soares: “no dia em que morrer não deseja choro nem vela”. Saudade, pode?

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