SEGURANÇA PÚBLICA

Contarato contesta proposta controversa sobre coleta de DNA

Líder do PT alerta para desvirtuação promovida em projeto que estabelece obrigatoriedade de extração do perfil genético de condenados por crime doloso
Contarato contesta proposta controversa sobre coleta de DNA

Foto: Alessandro Dantas

A Comissão de Segurança Pública (CSP) do Senado realizou audiência pública nesta terça-feira (25) para debater o PL 1.496/2021, que que estabelece a obrigatoriedade de extração do perfil genético de condenados por crime doloso. O debate precedeu uma tentativa de o colegiado votar a proposta nesta manhã. Porém, por um pedido de vistas apresentado pelo líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), a análise foi adiada.

“A proposta original era positiva. Previa a extração do perfil genético para uma lista definida de crimes graves. O relator ampliou a coleta para dois mil crimes dolosos”, criticou Contarato.

“O Estado brasileiro tem condições de fazer isso? E, além dos condenados, prevê a extração para presos provisórios ou outras categorias de investigados, às vezes até sem inquérito. O STJ já determinou uma série de restrições para a coleta de dados orgânicos, e deixou claro que ela não é determinante”, emendou o líder do PT.

Ana Lúcia Castro, representante do Ministério dos Direitos Humanos, questionou a possibilidade – prevista no texto – de substituição dos peritos por funcionários públicos na coleta de amostras e a possibilidade de contaminação das amostras.

Ela também lembrou que o Supremo Tribunal Federal vem debatendo se a prática seria constitucional ou não. Ou seja, uma eventual nova lei sobre o tema poderia ser “natimorta”, dependendo do posicionamento do STF.

O tema também esbarra no debate acerca do direito do cidadão de não se autoincriminar. Ana Lúcia também questionou a possibilidade, existente no PL 1.496/2021, de coletar amostras de condenados sem trânsito em julgado.

Já Isabel Seixas, do Ministério da Justiça, advertiu que a coleta de perfis genéticos não pode ser vendida como uma “panaceia” capaz de resolver a criminalidade no Brasil.

“Isso não adianta muita coisa se a gente não alimentar o banco com os vestígios coletados nos locais de crimes, de pessoas que foram vítimas de crimes sexuais, por exemplo, porque eu não tenho o que cotejar, não tenho o que vincular com o quê. Vai chegar um momento em que vou ter 800 mil perfis genéticos, e a chance de o banco me dar bons resultados é nenhuma, se eu não estiver no mesmo passo, com a mesma velocidade e com o mesmo investimento, inserindo nesse banco os vestígios. É aí que a gente tem o encontro do que eu achei no criminoso, no crime, no local, na vítima, com as pessoas que, supostamente, podem ter sido as autoras do crime”, alertou.

Foto: Alessandro Dantas

Isabel Seixas ainda citou o Innocence Project, existente nos EUA, que conseguiu a absolvição de pessoas que tinham sido condenadas injustamente devido a erros judiciais. A partir da perícia de DNA, foi comprovado que elas não eram os autores de muitos crimes.

“Seja para um lado que eu olhe, seja para o outro lado, seja para conseguir a condenação, seja para conseguir que a pessoa não seja condenada indevidamente, é de uma questão de direitos humanos que a gente está falando”, observou.

Professor de direito penal na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e vice-presidente da Associação Internacional de Direito Penal, Carlos Japiassú também advertiu os parlamentares e a sociedade de que a coleta de dados genéticos, embora seja um consenso como método válido visando à elucidação de crimes, não pode ser vendida como um “método infalível”.

“A literatura contém diversos exemplos onde há falsos-positivos ou falsos-negativos, normalmente por problemas de falhas no método de coleta. E há também o risco de coincidência casual entre dois perfis de DNA. Isso é muito raro, a probabilidade é baixa, mas não é zero, de duas pessoas terem segmentos no DNA idênticos para os locais examinados”, alertou.

Com informações da Agência Senado

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