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Coronel negacionista confirma que buscou negociação de compra de vacinas

Coronel Helcio Bruno tentou se esquivar de responder questionamentos de senadores, mas contradições ficaram expostas. Negacionista viabilizou negociação entre Ministério da Saúde e representantes da Davati na qual ocorreu pedido de propina
Coronel negacionista confirma que buscou negociação de compra de vacinas

Foto: Alessandro Dantas

O coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida usou o poder dado pelo habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para esconder o rastro de suas ações durante o depoimento concedido nesta terça-feira (10) na CPI da Covid, mas as poucas respostas que deu aos parlamentares foram suficientes para mostrar as contradições de suas ações e como elas foram motivadas pelo ganho pessoal enquanto milhares de pessoas morriam diariamente vítimas da Covid-19.

Logo no início da oitiva, o coronel informou que não responderia perguntas relacionadas a empresa Davati, intermediária de vacinas, e sobre o Ministério da Saúde. Helcio entrou na mira da CPI justamente por ter sido apontado como facilitador do encontro entre representantes do Ministério da Saúde, entre eles, o então secretário-executivo, coronel Elcio Franco e representantes da Davati. Foi justamente nessa negociação que surgiu a denúncia de pedido de propina de um dólar por dose de vacina.

Helcio Bruno é presidente do Instituto Força Brasil (IFB), uma instituição conservadora que se define como “pró-vida”, “pró-família”, “pró-armas” e “pró-liberdade”. Os senadores destacaram durante a oitiva do coronel a posição negacionista do IFB com relação as vacinas ao ponto de disseminar fake news com relação a eficácia de imunizantes e a sua repentina mudança de postura que chegou ao ponto de viabilizar a negociação de vacinas.

O coronel afirmou que teve apenas uma reunião no Ministério da Saúde em março deste ano para tratar da compra de vacinas para o setor privado. No entanto, ele partilhou a agenda no Ministério da Saúde com os representantes da Davati. O militar, então, se calou ao ser questionado sobre as suas relações com os representantes da empresa e com o reverendo Amilton Gomes de Paula.

Foto: Reprodução

Helcio também negou ter participado de qualquer tipo de “jantar” com o reverendo e os representantes da Davati. Mas ao ser confrontado com uma foto na qual estão todos reunidos, o coronel tentou justificar afirmando que aquilo não se tratava de um jantar.

“Estamos diante de um tenente coronel da reserva das Forças Armadas que veio aqui esconder o que, de fato, fez ao longo deste período intermediando a venda de vacinas, promovendo a distribuição de notícias falsas que desinformaram a população e que levaram milhares de brasileiros à morte. Mas, essas lorotas não são as Forças Armadas. Em cada sessão dessa CPI fica claro que os quase 600 mil mortos têm um grande responsável. É o próprio Bolsonaro. E quem com ele caminha junto”, disse o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Foto: Alessandro Dantas

Coronel se nega a dizer quem financia instituto
Questionado pelos senadores sobre quem financia o Instituto Força Brasil, Helcio Bruno se negou diversas vezes a dizer quem financia a ONG que administra. Ele se limitou a dizer que o órgão não recebe recurso público.

O vice-presidente do IFB é o empresário bolsonarista Otávio Fakhoury. Ele é investigado no inquérito das fake news no STF e já estava na mira da CPMI das Fake News.

Durante o depoimento, quando diversas postagens negacionistas e antidemocráticas e ataques ao STF e a própria CPI da Covid eram apresentadas pelos senadores, o site do IFB foi retirado do ar.

O senador Rogério Carvalho enfatizou, inclusive, que a disseminação de notícias falsas no contexto de pandemia é “sinônimo de morte”. “Muitos foram levados pela desinformação dolosa”, disse.

Foto: Alessandro Dantas

O senador Humberto Costa (PT-PE) questionou se Helcio teria se vacinado e o coronel afirmou que ainda estava aguardando, alegando ter contraído a Covid-19.

CPI reage à ameaça golpista
Os membros da CPI reagiram à tentativa de intimidação por parte de Jair Bolsonaro com o desfile de tanques na Esplanada dos Ministérios na manhã de hoje. Diversos senadores manifestaram contrariedade com mais um arroubo golpista de Bolsonaro que se mostra cada vez mais frágil na Presidência da República.

O senador Humberto Costa (PT-PE) destacou o fato de que, ao invés de trabalhar para solucionar os crescentes problemas do País, Bolsonaro passa o dia criando outros conflitos para o país.

“O presidente, ao invés de trabalhar, passa 24 horas por dia gerando conflitos, fazendo campanha eleitoral antecipada e gastando dinheiro público. É verdade que essa operação acontece há muitos anos, mas nenhuma vez tivemos a passagem de tanques, de lança foguetes, pela frente do Congresso e do Supremo. Ninguém tem o direito de ganhar no grito, ninguém tem o direito de intimidar o Parlamento brasileiro por conta de uma posição política”, disse.

Desigualdade na distribuição de vacinas
O senador Rogério Carvalho cobrou explicações do Ministério da Saúde sobre a disparidade em relação a distribuição das vacinas contra a Covid-19 para diferentes regiões do Brasil.

Levantamento feito pelo Uol mostra que até o último dia 2, enquanto São Paulo teve direito a pouco mais de 46 milhões de doses, equivalente a 1,04 para cada habitante, Sergipe recebeu 1.756.550 de doses, 0,76 para cada residente no estado.

“Nós temos um problema que, enquanto CPI, deveríamos solicitar ao ministro da Saúde explicações dos motivos pelos quais os estados do Norte e Nordeste receberam menos vacinas. E qual a providência para garantir a compensação? É por que os estados do Sul e Sudeste tem mais idosos e mais profissionais de saúde? Agora que já ultrapassamos essa fase, seria correto que houvesse uma compensação dos estados do Norte e Nordeste”, argumentou o senador.

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