Danuza e Dilma – Por Marta Suplicy

Até o fim de outubro, terá nascido um bebê que será o habitante número 7 bilhões sobre a Terra. Como diz um anúncio das Nações Unidas, a humanidade continua crescendo, mas o planeta não.

  Na época do Império Romano, havia na Terra cerca de 50 milhões de habitantes. Para o bebê número 1 bilhão, tivemos que chegar até o ano de 1850. Com o sétimo bilionésimo agora, em 2011, multiplicamos em sete vezes o número de seres humanos em 160 anos. Chegaremos a 9 bilhões, número que a Terra não conseguirá mais alimentar nos atuais padrões, até 2030.   O que chama a atenção é que esse fenômeno depende mais do que tudo da mulher. O problema mais importante da humanidade é feminino, embora sejam necessários mulheres e homens para gerar bebês. Até meados do século 20, a mulher não podia ter quantos filhos quisesse, mas deveria ter quantos Deus mandasse ou o marido quisesse.
  A situação no mundo ainda é de enorme desigualdade e abusos, como pude ouvir, em viagem recente à ONU, e testemunho em meu país. Obviamente, vimos melhorando, ocupando cargos impensáveis há poucas décadas e temos até presidenta, o que já está provocando forte impacto na ascensão profissional das mulheres.   Dilma tem feito esforço ímpar para nomear mulheres em todas as situações em que teve chance. Diferentemente de Danuza Leão, que, em “Falando de igualdade” (Cotidiano, 16/10), pede “menos” à presidenta, afirmando que “esse excesso de proteção é incômodo”, penso exatamente o contrário.   Relatos da ONU, do Banco Mundial e do Unicef mostram o papel fundamental da mulher para a diminuição dos problemas sociais e da corrupção, sem contar a relação da escolaridade materna com a diminuição do número de filhos e o fato de que filhos de mães analfabetas têm 23 vezes mais chances de serem analfabetos do que os que têm mães com alta escolaridade.
  Sem ações afirmativas, e a maioria dos países já tem esta percepção, não chegaremos tão cedo à igualdade de gênero.   Querida Danuza, o “velho” não é “fazer discursos sobre as conquistas femininas”, mas ficar distante da realidade do quanto há ainda para fazer.   A humanidade terá outra oportunidade de sobrevivência quando as mulheres conseguirem avançar maciça e mais rapidamente do que nos séculos anteriores.   A presidenta Dilma tem total consciência de que corre atrás do atraso, da importância das ações afirmativas e de que tem condições excepcionais para intervir eficazmente na ascensão e na melhoria da condição da mulher brasileira. Seja com ênfase em programas sociais que beneficiam especialmente a mulher, seja nomeando-as para ministérios ou para o Judiciário, seja trocando por aeromoças os atendentes do avião presidencial.   A senadora Marta Suplicy escreve todos os sábados na Folha de S.Paulo

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