devastação da amazônia

Desmatamento e incêndios batem recordes na Amazônia

Números revelam descaso do governo, denuncia senador; para especialista, situação pode piorar nos próximos meses
Desmatamento e incêndios batem recordes na Amazônia

Foto: Divulgação/Greenpeace

O Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) revelou o tamanho do estrago ambiental na Amazônia no recém-encerrado julho. Foram 5.373 focos de incêndio, volume 8% maior que no mesmo período no ano passado. É uma sucessão de recordes; meses antes, o Brasil registrou o maio com mais chamas na floresta em 18 anos. E olha que esse mês ainda é de chuvas na região.

No conhecido ciclo de destruição da floresta, as queimadas acontecem geralmente entre julho e outubro, mais secos, quando a mata já foi derrubada por grileiros, garimpeiros e outros criminosos. Até por isso, outro dado preocupa: o primeiro semestre de 2022 registrou recorde histórico de desmatamento, de acordo com o Deter, programa oficial de alertas de desmatamento do Brasil, tocado pelo Inpe. Significa que é maior o risco de queimadas nos próximos meses.

Em números, foram derrubados quase 4 mil km² de floresta amazônica – o equivalente a 2,6 mil campos de futebol por dia em 2022. Sob um governo que nega vacina, mas incentiva a motosserra, o Brasil já havia registrado, entre agosto de 2020 e julho de 2021, um aumento de 22% na derrubada de florestas na Amazônia em relação ao mesmo período nos dois anos anteriores.

“É a maior devastação dos últimos 15 anos para o período. Total descaso do governo para com o meio ambiente”, denunciou o senador Paulo Paim (PT-RS).

Porta-voz da Campanha da Amazônia, do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista explica que uma das causas desses sucessivos – e trágicos – recordes é a redução das fiscalizações e do combate ao desmatamento, queimadas e demais delitos ambientais nos últimos 3 anos.

“É reflexo direto da falta de uma política ambiental, financiamento dos órgãos de comando e controle e também de medidas do legislativo que apontam para aprovação de leis, como por exemplo o PL 2633, que favorece grileiros, e que dão a sensação de impunidade aos que estão dispostos a cometer crimes ambientais”, detalhou Rômulo. O PL da grilagem, que facilita a regularização de terras públicas invadidas, encontra-se em análise no Senado, depois de ter sido aprovado pela Câmara. Ele faz parte da “boiada”, como ficou conhecido o pacote de devastação ambiental do governo Bolsonaro.

Rômulo Batista confirma que o número de incêndios pode aumentar muito até a chegada das chuvas. “Temos ainda dois meses, pelo menos, de verão amazônico e vimos no último sobrevoo, realizado na semana passada, muitas áreas desmatadas ainda secando e que infelizmente ainda devem ser queimadas nos próximos meses”, projeta o membro do Greenpeace, que explica: “o desmatamento e as queimada devem ser vistos como duas faces da mesma moeda, e é importante entender que quase todos os incêndios florestais na Amazônia são causados pelo homem de forma proposital.” Segundo Rômulo, o fogo é usado principalmente para 3 coisas: limpeza de pasto; desmatamento; e finalização do desmatamento, depois da secagem da floresta derrubada.

É verdade que em anos de eleição as taxas de desmatamento e queimada costumam ficar acima da média. Para Rômulo Batista, isso tem relação com o desconhecimento sobre qual política ambiental será aplicada nos próximos anos. Mas no caso de 2022, há outro agravante. É público que, ao menos até o final do ano, a senha governamental é destruir. Desmonte de órgãos de fiscalização e de proteção do bioma, perdão de multas sobre crimes ambientais, impunidade, extinção de programas oficiais de educação e conscientização ambiental, entre outros retrocessos, devem refletir no agravamento do ciclo de desmate e de queimadas na Amazônia. Sem contar nos demais biomas.

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