CPMI do Golpe

Fotógrafo desmonta fantasias bolsonaristas sobre invasão golpista

Em depoimento, Adriano Machado rebateu notícias falsas sobre seu trabalho. Apoiadores do ex-presidente abandonaram reunião antes do final. Para Fabiano Contarato, 8 de janeiro foi a eclosão de um ataque sistematizado por quatro anos pelo ex-presidente e seus apoiadores

Alessandro Dantas

Fotógrafo desmonta fantasias bolsonaristas sobre invasão golpista

Adriano Machado registrou bolsonaristas vandalizando Palácio do Planalto

Mais uma tese defendida por parlamentares bolsonaristas caiu por terra nesta terça-feira (15/8), durante o depoimento à CPMI do Golpe do fotojornalista Adriano Machado. O profissional, que estava de plantão no dia 8 de janeiro, conseguiu registrar a ação criminosa cometida por defensores de um golpe de Estado, mesmo tendo sua integridade física sob risco para obter as imagens dos vândalos.  

“Eles vinham de forma bem agressiva com a gente, identificavam que eu era fotógrafo e chegaram a dizer que queriam me jogar lá de cima, (diziam) que, se eu não saísse de lá, iam me bater, xingavam o tempo todo. Inclusive, teve um momento que uma pessoa – eu estava no mezanino – veio com esses tasers de choque para que eu descesse da rampa. Então, foi muito tenso”, relatou o fotógrafo aos parlamentares.

Além de tentar culpar o governo Lula pelos atos causados por apoiadores de Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro, parlamentares bolsonaristas espalharam a falsa notícia de que profissionais de imprensa atuaram em conjunto com pessoas infiltradas para criar os registros fotográficos. Chegaram a espalhar, até mesmo, que o jornalista seria filiado ao PT.

Adriano Machado relatou aos parlamentares ter ficado tenso após ter sido identificado pelos depredadores no momento em que registrava imagens do terceiro andar do Palácio do Planalto. Naquele momento, segundo ele, se identificou como fotógrafo da agência Reuters e passou a temer por sua segurança.

“Fui muitas vezes xingado, questionado e demandado a sair daquele ambiente por diversas pessoas. De todo modo, eu continuei fazendo o meu trabalho de forma profissional e neutra na medida do possível, até que fui retirado por um deles e concluí que ali seria um lugar inseguro demais para eu ficar”, explicou.

Ao longo do depoimento, Adriano Machado também relatou duas tentativas de entrar no acampamento golpista localizado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Nas duas vezes, foi impedido de acessar o local pelos bolsonaristas ao ser identificado como jornalista.  

O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) criticou duramente a tentativa bolsonarista de desviar o foco das investigações, que se aproximam daqueles que foram os mandantes e financiadores da tentativa de golpe, além dos falsos jornalistas que se camuflam no jornalismo para cometer crimes.

“Hoje nós estamos aqui, no anticlímax, escutando um repórter trabalhador que estava fotografando. Sabe a imagem que eu fico? O mundo está pegando fogo, o senhor vai lá e tira uma foto do incêndio. E o senhor é responsabilizado porque tirou a foto do incêndio, e não [se responsabiliza] quem botou fogo no mundo. É realmente hilariante, se não fosse trágica essa narrativa que eles tentaram fazer aqui e foram derrotados”, enfatizou o deputado.

O anticlímax proporcionado pelo jornalista foi tão grande que os parlamentares bolsonaristas, autores dos requerimentos, abandonaram a reunião bem antes do fim da oitiva. Importante ressaltar, ainda, que Adriano Machado foi o único convocado pela CPMI a comparecer sem um habeas corpus que lhe permitiria ficar em silêncio.

Ataques a jornalistas fizeram parte do enredo golpista

Os ataques a jornalistas no Brasil cresceram 23% em 2022 na comparação com 2021, segundo levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). A entidade identificou o envolvimento de membros da família Bolsonaro em 41,6% dos casos e registrou aumento no número de episódios considerados graves. Ocorreram, ao longo do ano, 557 ataques a jornalistas, meios de comunicação e imprensa em geral. No ano anterior, o número já tinha sido superlativo: 453. Como base de comparação, no primeiro ano do levantamento (2019) foram computados 130 episódios.

Na avaliação do senador Fabiano Contarato (ES), líder do PT no Senado, o que aconteceu no dia 8 de janeiro foi a eclosão de um ataque sistematizado por quatro anos pelo ex-presidente e seus apoiadores.

Fabiano Contarato
Fabiano Contarato lembra ataques sucessivos do ex-presidente Bolsonaro contra a democracia

“Bolsonaro não sabia viver numa democracia. Ele participava de movimentos antidemocráticos para fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Ele dizia que ‘supremo era o povo’. Seus apoiadores diziam que, no caso de o presidente Lula ser eleito, ele não subiria a rampa. Bolsonaro instigou aquilo que aconteceu por quatro anos, atacou sistematicamente a imprensa. Sua convocação (falando a Adriano Machado) representa que ele não sabe respeitar a liberdade de imprensa”, disse o senador.

Já o senador Rogério Carvalho (PT-SE) apontou que os atos criminosos de 8 de janeiro foram o resultado da frustração daqueles que estavam em frente aos quartéis aguardando o “chamado” de Bolsonaro para irem às ruas em função de um golpe.

Rogério Carvalho
Para Rogério Carvalho, forças democráticas impediram a efetivação de um golpe no país

“Existe uma ação dolosa em torno da intenção de praticar um ataque às instituições. E ataque dessa forma é um ataque terrorista. E o senhor, profissionalmente, acompanhou a manifestação e fez registros dos atos”, disse.

“Ao cumprir o seu papel, o senhor é chamado aqui [por bolsonaristas] para se explicar e [ser] chamado de infiltrado. Como se aquele ato terrorista não fosse decorrente de uma tentativa de golpe que as forças democráticas impediram que acontecesse”, completou o senador.

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