Humberto Costa quer apuração sobre denúncias do livro “A Privataria Tucana”

Senhor presidente, senhoras senadoras, senhores senadores,

Caros ouvintes da Rádio Senado e telespectadores da Tevê Senado,

O Brasil tem uma oportunidade de revisitar, por esses dias, um dos mais tristes capítulos de sua história política e econômica: a entrega do patrimônio público durante o processo de privatização de empresas estatais conduzida pelo governo Fernando Henrique Cardoso.

Na última sexta-feira, saiu no mercado editorial nacional o livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, premiado repórter investigativo, dono de trinta prêmios nacionais de jornalismo com passagens por jornais importantes como O Globo, Correio Braziliense, Jornal do Brasil, Estado de Minas e pela revista Isto É.

Sei que alguns dos senadores não tiveram a oportunidade ainda de lê-lo. É que o livro está esgotado. Em 48 horas, vendeu nada menos do que 30 mil exemplares. Uma nova tiragem chega às livrarias do país até o final desta semana, de acordo com informações do editor Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, que ajudou Amaury a trazer à tona os bastidores da era das privatizações conduzidas pelo governo Fernando Henrique. O livro também já está sendo editado em formato eletrônico e pode ser comprado em alguns sites de livrarias digitais.

O livro, senhoras senadoras e senhores senadores, traz 112 páginas de documentos oficiais, a maioria inédita. São documentos obtidos de forma legal por Amaury Ribeiro Júnior em cartórios, juntas comerciais, na Justiça Federal e paulista, registros nos Estados Unidos e parte de alguns documentos inclusive da CPI do Banestado, aberta em 2002 aqui no Senado Federal.

Os documentos falam por si só. Mostram como alguns dos mais proeminentes líderes do PSDB, e pessoas próximas do ex-governador José Serra, conseguiram mandar para fora do país e trazer para o Brasil dinheiro supostamente proveniente de propinas. São bilhões de dólares. Eu disse isso mesmo: bilhões de dólares. Isso foi feito de maneira a escapar do Fisco e legalizar dinheiro de origem ilegal, unicamente com o propósito de enganar as autoridades brasileiras.

E quem são essas pessoas próximas de tucanos? Alguns são personagens conhecidos. É o caso do ex-tesoureiro de campanha de José Serra e do presidente Fernando Henrique Cardoso, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira. Ex-diretor internacional do Banco do Brasil, na época das privatizações, ele foi responsável pela engenharia e montagem do esquema que operou bilhões de dólares durante as privatizações. Os outros personagens listados no livro “A Privataria Tucana” são Verônica Allende Serra, filha do ex-governador de São Paulo, o marido dela, Alexandre Burgeois, e Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de Serra e sócio dele.

Amaury Ribeiro Júnior traz no livro as provas das fraudes e falcatruas ocorridas nas privatizações. Os documentos são contundentes e mostram como essas pessoas conseguiram lavar bilhões de dólares em operações engenhosas e interná-los novamente no Brasil, em negócios de aparência legal. Os documentos são claros e não deixam sombras de dúvidas quanto à participação de dirigentes tucanos e familiares do ex-governador José Serra em negócios escusos, com dinheiro sujo desviado da venda das estatais de telefonia nos anos 90 pelo governo Fernando Henrique Cardoso.

Vale lembrar que a CPI do Banestado só foi aberta por conta da publicação de uma reportagem de autoria de Amaury Ribeiro Júnior e Sônia Filgueiras, publicada pela revista IstoÉ em 2002, mostrando como a corrupção, o narcotráfico e o crime organizado estavam mandando dinheiro por intermédio do Banestado para fora do Brasil.

O livro vale a leitura e, imagino, será objeto de algumas providências legais a serem tomadas por procuradores da República. Até porque muitos dos crimes descritos no livro não prescreveram. E essa será uma oportunidade para mergulharmos neste submundo da privataria das nossas telefônicas, um termo cunhado pelo jornalista Elio Gaspari, influente colunista dos jornais O Globo e Folha de S.Paulo.

O livro mereceu pouca atenção da mídia, à exceção da revista Carta Capital, que deu capa esta semana para o lançamento da obra de Amaury Ribeiro Júnior. A reportagem “O escândalo Serra”, de autoria de Leandro Fortes, traz inclusive alguns trechos do livro.

Como já entrou na lista dos mais vendidos, imagino que nesses próximos dias, jornais e revistas devem dedicar algumas páginas ao livro “A Privataria Tucana”. Até porque muitas das primeiras denúncias sobre os bastidores das privatizações, e o livro de Amaury Ribeiro Júnior faz o registro, surgiram em reportagens da revista Veja e da Folha de S.Paulo.

Antes de encerrar, senhor presidente, quero parabenizar o jornalista Amaury Ribeiro Júnior e o editor Luiz Fernando Emediato, pelo belo trabalho realizado, sem dúvida a mais importante reportagem investigativa deste século 21 no Brasil.

Quero dizer que aguardo a oportunidade de debater as denúncias trazidas em “A Privataria Tucana” com os nobres colegas do PSDB. Esse vai ser um debate importante a ser feito em benefício da sociedade brasileira e mostrar a verdadeira natureza das privatizações realizadas pelo Brasil no final dos anos 90. É chegada a hora de o Congresso Nacional discutir a fundo uma legislação mais eficaz contra a lavagem de dinheiro.

Muito obrigado.

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