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Investigação avança em direção a sócio oculto do escândalo Covaxin

CPI da Covid interrogou Roberto Pereira Ramos Júnior, presidente do FIB Bank, empresa que não é um banco, mas emitiu carta fiança como garantia na compra da vacina indiana Covaxin. Senadores investigam relação da empresa com Marcos Tolentino, amigo de Ricardo Barros e possível sócio oculto da companhia
Investigação avança em direção a sócio oculto do escândalo Covaxin

Foto: Alessandro Dantas

A CPI da Covid ouviu nesta quarta-feira (25) o presidente do FIB Bank, Roberto Pereira Dias, sobre as operações da empresa que, apesar do nome, não é um banco, mas forneceu garantias junto ao Ministério da Saúde para que a Precisa Medicamentos, de Francisco Maximiano, pudesse avançar nas tratativas para compra da vacina indiana Covaxin.

Além disso, os senadores investigam qual o relacionamento do FIB Bank com o líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). Roberto Pereira é apontado como “laranja” do empresário Marcos Tolentino, que seria o verdadeiro dono da empresa e que é amigo próximo do deputado. Tolentino esteve, inclusive, presente à CPI no dia do depoimento de Barros.

Logo no início do depoimento, houve uma polêmica envolvendo a remuneração de Pereira como diretor-presidente do FIB Bank. Ele apenas disse que sua renda era variável. Mas documentos em posse da CPI mostram que ele recebe cerca de R$ 4 mil mensais.

Daí em diante o depoimento apresentou inúmeras inconsistências. Por diversas oportunidades os senadores chegaram a chamar a atenção para a possibilidade de prisão por falso testemunho. Num destes momentos, Pereira chegou a afirmar que o FIB Bank era uma “pequena empresa”, apesar de o capital social da empresa ser de R$ 7,5 bilhões.

Para efeito de comparação, segundo o ranking da Forbes, divulgado em maio, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi a 12ª maior empresa de capital aberto do Brasil em 2020, enquanto a Magazine Luiza foi a 16ª. A CSN tem um capital integralizado de R$ 6 bilhões. A Magazine Luiza tem um capital integralizado de R$ 1,7 bilhão. O capital integralizado do FIB Bank é equivalente à soma do capital da CSN com o da Magazine Luiza.

Também chamou a atenção dos senadores o fato de o capital da empresa ser composto por dois terrenos, um localizado em São Paulo e outro no Paraná. Mas, de acordo com as investigações, o cartório no qual o terreno estaria registrado sequer existe. Outro fato que chamou a atenção dos parlamentares é que o endereço do escritório de uma das empresas de Marcos Tolentino é o mesmo de um dos imóveis que compõem o capital social do FIB Bank. Roberto Pereira acabou admitindo durante o depoimento que Tolentino é procurador de Ricardo Benetti, dono de uma das empresas que compõem o capital da FIB Bank.

“O senhor aqui está me parecendo um laranja do senhor Marcos Tolentino. O senhor não sabe responder as questões e as relações que a empresa têm com seus diversos parceiros comerciais. E, o tempo todo, o senhor tenta mostrar fatos que já desmascaramos. O senhor diz que não participou de nada do que aconteceu e não sabia do que estava acontecendo e preferiu vir com uma conversa mole de que não conhecia o [Marcos] Tolentino e que não sabia de nada. O Tolentino é tão amigo do Ricardo Barros que acompanhou o depoimento dele na CPI e facilitou, e muito, a vida dele com esse ‘Lorota Bank’ com o balcão de negócios instalado no Ministério da Saúde”, disse o senador Rogério Carvalho (PT-SE), referindo-se à tradução de “fib”, que significa “lorota” em inglês.

Apesar de Roberto Pereira ter afirmado à CPI que o faturamento do FIB Bank tenha sido de menos R$ 1 milhão em 2020, os senadores apontaram transferências da empresa para Tolentino que, somadas, chegam a R$ 1,9 milhão durante o ano.

CPI encontra laranja do FIB Bank em Alagoas
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodriigues (Rede-AP), apresentou um áudio em que Geraldo Rodrigues Machado, um vendedor que reside no interior de Alagoas, diz ter tido sua assinatura falsificada e utilizada indevidamente pelo FIB Bank. Desde então ele figura como sócio ativo da empresa.

De acordo com o vendedor, ele descobriu que constava como sócio do FIB Bank em 2015, quando, ao tentar financiar uma moto, descobriu ter restrição de crédito por participar do quadro societário de empresas de São Paulo.

O senador Humberto Costa (PT-PE) apresentou um documento que mostrava mais uma tentativa do FIB Bank para ludibriar seus clientes se passando por instituição financeira. Na construção do site, a empresa havia encomendado a inclusão do logotipo do Banco Central na página, cópia de informações do Banco Safra, inserção de imagens de moedas e jatinhos e horários de vários países.

“Nós estamos diante de uma situação que é a cara do governo Bolsonaro. Tudo é feito sem qualquer preocupação com a coisa pública, por pessoas e empresas que não têm idoneidade. Cada vez que a gente mexe, a coisa vai ficando mais complicada. Não há por parte desse governo nenhum tipo de preocupação com a coisa pública. Imagina o que ia acontecer se a Precisa Medicamentos não honrasse esse contrato. O governo ia ter que virar agente imobiliário para vender esse terreno de R$ 7,6 bilhões. É inacreditável. Ainda bem que falta pouco tempo pra esse governo acabar”, disse o senador.

Sócios mortos fizeram operações financeiras
A CPI constatou ainda que o capital social do FIB Bank é composto por duas companhias: Pico do Juazeiro e MP Guaçu. Esta última tem como sócios dois homens que já faleceram, sendo um em 2017 e outro em 2020. Mesmo assim, a MP Guaçu continuou fazendo movimentações.

Os sócios são Sebastião Fernandes de Lima, morto em 21 de agosto de 2017, e Francisco Valderi Fernandes de Lima, falecido em 10 de agosto de 2020.

Apesar de ter omitido diversas informações ao longo do depoimento, Roberto Pereira tinha se comprometido com os senadores a apresentar posteriormente dados e documentos que não tivesse em mãos durante a oitiva. Mas, questionado sobre movimentações ocorridas em agosto deste ano na MP Guaçu, Pereira utilizou o habeas corpus concedido pelo STF para evitar respostas que pudessem incriminá-lo e ficou em silêncio.

Outro contrato com Maximiano
Roberto Pereira caiu em contradição em outro ponto do depoimento ao afirmar não conhecer Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos. Mas, ao longo do depoimento, surgiu a informação de que o FIB Bank também foi garantidor de outro negócio envolvendo a empresa de Maximiano – um contrato de fornecimento de preservativos femininos para o Ministério da Saúde.

Antes do término do depoimento, o Ministério da Saúde enviou um ofício à Precisa Medicamentos pedindo para a farmacêutica substituir a carta de fiança do FIB Bank apresentada em seu contrato de preservativos femininos. “Mais uma vitória da CPI”, resumiu Humberto Costa.

Novos investigados
O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), informou no início dos trabalhos que incluiria mais três nomes na lista de investigados pela comissão.

São eles: Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, e Emanuel Catori, sócio da Belcher Farmacêutica.

Os três nomes que passam à condição de investigados pela CPI tiveram participação nas negociações na venda das vacinas Covaxin e Convidecia ao governo Bolsonaro por meio de empresas intermediárias.

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