Aumento da desigualdade

Lucro dos bancos aumenta, enquanto povo perde renda

Em ano de perdas econômicas, instituições bancárias lucram R$ 17,88 bilhões no terceiro trimestre. “Essa é a política neoliberal que desde 2016 dirige o Brasil”, aponta Gleisi Hoffmann
Lucro dos bancos aumenta, enquanto povo perde renda

Foto: Agência PT

Os bancos navegam em mar de brigadeiro no Brasil de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes, contornando o tsunami formado por alto desemprego, informalidade galopante, inflação descontrolada, queda da produção industrial e fome crescente. No terceiro trimestre deste ano, o lucro líquido de Itaú, Bradesco e Santander totalizou R$ 17,886 bilhões – uma alta anual de 28,5%.

Os balanços dos principais bancos privados do país foram divulgados nos últimos dias. O lucro somado das três instituições somou R$ 51,79 bilhões no acumulado de janeiro a setembro – um crescimento de 46,1% em relação ao mesmo período de 2020.

O Itaú puxou a alta, com resultado de R$ 6,78 bilhões. Subiu 34,8% em relação ao mesmo período de 2020, impulsionado por empréstimos para pessoas físicas e menores provisões. O retorno sobre o patrimônio líquido, um indicador de lucratividade, foi de 19,7% no trimestre, contra 15,7% em 2020. O lucro líquido recorrente, que exclui itens extraordinários, foi de R$ 6,779 bilhões. Um ano antes, havia sido de R$ 5,03 bilhões.

A rápida expansão dos empréstimos de varejo, juntamente com maiores ganhos comerciais, resultou em aumento de 15,3% na receita líquida de juros do Itaú, para R$19,5 bilhões. As receitas com tarifas cresceram 6,4%. As despesas operacionais subiram 1% em relação ao ano anterior, bem abaixo da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 10,25% em 12 meses até setembro.

O Bradesco registrou lucro líquido de R$ 6,767 bilhões no terceiro trimestre. O resultado representa aumento de 34,5% em relação ao mesmo período de 2020 e superou as projeções dos analistas, que apontavam para lucro de R$ 6,362 bilhões. Praticamente um “empate técnico” com o Itaú, mas o Bradesco é menor que o concorrente histórico.

Com o lucro maior, o retorno do Bradesco, segundo maior banco privado brasileiro, aumentou de 15,2% para 18,6% no terceiro trimestre. Apesar da melhora, a rentabilidade ficou abaixo tanto do Itaú quanto do Santander Brasil.

Há duas semanas, o espanhol Santander divulgou lucro de R$ 4,27 bilhões no trimestre, alta de 12% em relação ao mesmo período de 2020. Em comparação com o segundo trimestre, cresceu 4,1%.

A rentabilidade sobre o patrimônio líquido alcançou 22,4%, a maior da história do Santander, que aprovou a distribuição de R$ 3 bilhões aos acionistas – livres de impostos. O Brasil é um dos quatro países ao redor do mundo que não tributa o pagamento de dividendos aos acionistas, segundo levantamento da Tax Foundation.

O resultado consolida a volta dos resultados dos grandes bancos privados a níveis próximos aos de antes da crise da covid-19. “Os números demonstram nossa capacidade de reagir rapidamente às mudanças de cenário”, comemorou Octavio de Lazari Jr., presidente do Bradesco. No Brasil real das ruas, não há o que comemorar.

“As chamadas dos jornais expressam bem a tragédia econômica que vivemos nos país: os mais ricos cada vez mais ricos, bancos lucrando muito e povo desempregado, fazendo bico pra viver e enfrentando carestia. Essa é a política neoliberal que desde 2016 vem dirigindo o Brasil”, apontou a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), em postagem em seu perfil do Twitter.

 

Ilhas de prosperidade
A taxa de desemprego ficou em 13,2% no trimestre encerrado em agosto. Representa 13,7 milhões de pessoas em busca de uma vaga. A população fora da força de trabalho ficou em 73,4 milhões de pessoas.

O rendimento médio real dos trabalhadores recuou 4,3% frente ao trimestre encerrado em maio e 10,2% em relação ao mesmo trimestre de 2020. Foram as maiores quedas percentuais da série histórica, em ambas as comparações.

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas aponta que a maior taxa de inflação registrada nos últimos 27 anos tem punido as famílias brasileiras. De acordo com o levantamento, 70% dos trabalhadores e trabalhadoras do País recebem, hoje, menos do que recebiam antes da pandemia. A pesquisa mostra ainda que apenas os 10% dos brasileiros que mais recebem dinheiro estão aumentando a renda.

Já o crescimento da lucratividade dos bancos neste ano se deve ao avanço no crédito e aos provisionamentos, reservas criadas para cobrir perdas futuras, feitos em 2020. Menos de uma semana após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia de covid-19, o desgoverno Bolsonaro liberou R$ 1,2 trilhão para os bancos renegociarem prazos para créditos já concedidos. Mais de um ano após o início da pandemia, os bancos privados só haviam usado 23,7% desse valor.

“No ano passado, houve queda nos balanços, mas não necessariamente por problemas na atividade financeira. O que houve é que, diante de um cenário imprevisível, com a pandemia decretada, os bancos subiram o provisionamento, temendo uma explosão da inadimplência”, explicou Vivian Machado, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT), em entrevista ao Brasil de Fato.

O cenário para as instituições foi menos desastroso que o imaginado, devido aos planos emergenciais de crédito criados pelo Congresso Nacional e lançados pelo Banco Central (BC). O provisionamento excedente está sendo revertido em lucro.

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