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Mayra Pinheiro desmente Eduardo Pazuello e expõe desvio de função em defesa do tratamento precoce

Conhecida como ‘capitã cloroquina’, Mayra Pinheiro desmentiu o ex-ministro Eduardo Pazuello sobre vazamento de dados do TrateCov, expôs método de busca por imunidade de rebanho e preferência do governo pelo dito tratamento precoce e de que forma seu desvio de função colocou a população e profissionais de saúde em risco na pandemia. “A senhora resolveu assumir a condição de defensora de um medicamento comprovadamente ineficaz para atender a Covid-19”, resumiu Humberto
Mayra Pinheiro desmente Eduardo Pazuello e expõe desvio de função em defesa do tratamento precoce

Foto: Alessandro Dantas

A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, prestou um depoimento repleto de contradições nesta terça-feira (25) à CPI da Covid.

A ‘capitã cloroquina’, como é conhecida, afirmou aos senadores não ter recebido informações sobre a falta de oxigênio em Manaus no início do ano, contradisse o ex-ministro Eduardo Pazuello acerca do funcionamento do aplicativo TrateCov e deixou claro que se desviou da função para a qual foi nomeada em nome da defesa do “tratamento precoce” e da tese da “imunidade de rebanho”, deixando a população brasileira exposta ao vírus causador da Covid-19.

O ex-ministro da Saúde, senador Humberto Costa (PT-PE), foi o responsável pela criação da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde no Ministério e afirmou que a ideia era, além de garantir a educação continuada na área da saúde, discutir junto com o Ministério da Educação a abertura de novas faculdades e a residência médica.

Também caberia à secretaria gerida por Mayra, explicou o senador, assegurar que os profissionais de saúde tivessem não somente garantia para fazer seu trabalho de forma adequada, mas também bom treinamento e condições de oferecer um serviço de qualidade em meio à pandemia.

“A senhora se desviou completamente daquilo que deveria ser sua função. A senhora resolveu assumir a condição de defensora de um medicamento comprovadamente ineficaz para atender a Covid-19”, resumiu Humberto.

Foto: Alessandro Dantas

O descaso de Mayra com os profissionais de saúde foi relatado pelo senador Humberto em números. Estudos coordenados pela professora Maria Helena Machado, da Fiocruz, mostram o impacto da gestão desastrosa do governo Bolsonaro diante da pandemia.

Até meados de março de 2021, foram registradas 1.292 mortes de profissionais de saúde. Dentre eles, 622 médicos, 200 enfermeiros e 470 auxiliares de enfermagem.

Por outro lado, entre metade de março e 22 de maio, no site do CFM já se registra 810 óbitos médicos, o que significa mais 150 novas mortes em apenas 2 meses; e o do Cofen contabiliza 783, ou seja, mais 103 óbitos. A soma dessas duas categorias profissionais representa 1.593 mortes no total.

Dados recentes do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (Conter), até 21 maio de 2021, mostram que foram a óbitos 76 auxiliares/técnicos. Também se estimam mais de 200 mortes de agentes comunitários de saúde e agentes de endemias.

O senador Humberto ainda questionou se a Secretaria fez algum acompanhamento ou alguma comparação entre o índice de mortes por Covid-19 entre profissionais de saúde no Brasil e outros países, atribuição de seu cargo. Ela informou não ter esse dado.

“A situação de abandono dos profissionais foi tão grande que, em 2020, foi feita uma pesquisa com 3.636 profissionais de saúde do SUS e 63% deles disseram que não havia EPI para troca e higienização durante a jornada [de trabalho]. 73,3% disseram que trabalhavam mais de 12 horas e não tinham como fazer a troca de EPI. Havia ausência de equipamento de segurança em mais de 50% dos casos em todas as áreas ¬– atenção básica, média complexidade e alta complexidade. 70% dos profissionais disseram que não participaram de nenhum treinamento para enfrentamento à Covid e 69,6% disseram que não tiveram treinamento sobre os protocolos para enfrentamento à Covid”, elencou o senador.

“A doutora mostrou sua incapacidade e incompetência em relação aos profissionais de saúde que estavam sob sua supervisão e foram abandonados em meio à pandemia”, completou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Foto: Alessandro Dantas

Defesa da imunidade de rebanho
A secretária tentou se desvincular da tese de imunidade de rebanho anteriormente defendida de forma ferrenha por diversas autoridades do governo, a começar por Bolsonaro.

Mayra foi confrontada pelo relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), com um vídeo onde aparece defendendo a imunização de rebanho. A secretária afirmou que falava apenas de crianças. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), rebateu, afirmando que ela citou também outros grupos de pessoas no vídeo e o impacto econômico do isolamento social.

Questionada por Renan se havia se manifestado em outras oportunidades em favor da imunidade de rebanho, Mayra se esquivou. “Não que eu me lembre”, respondeu, repetidas vezes.

“A senhora falou da teoria da imunidade de rebanho para crianças. Mas no mesmo vídeo fala das pessoas saudáveis que não tem comorbidades, que podem trabalhar. A senhora é um exemplo das pessoas que defendem a tese da imunidade de rebanho que nos trouxe a essa realidade que vivemos hoje no Brasil. 450 mil pessoas mortas. Porque a tese é a de que essa doença é simples, não causa nenhum dano grave, já existe um medicamento barato e é eficaz, quem não quer isso é porque quer vender vacina e ganhar dinheiro. Essas pessoas tomam remédio, vão para a rua adquirir o vírus, voltar para casa e transmitir para outras pessoas”, destacou o senador Humberto Costa.

Já o senador Rogério Carvalho exibiu uma série de vídeos que mostram Mayra visitando unidades de saúde e receitando medicamentos ineficazes contra a Covid-19, além de trabalhar em favor da tese de imunidade de rebanho.

“Esse governo, independente de quem opera ele, não faz prevenção e não tem efetividade no isolamento social, no uso de máscaras, no uso de vacinas. Não promove a saúde da população, não tem nenhuma campanha de orientação séria, honesta, transparente para falar a verdade sobre essa doença grave, que mata muitas pessoas e é altamente contagiosa. E quanto mais pessoas se contagiam, mais sobrecarrega o sistema de saúde”, destacou Rogério Carvalho.

Responsabilidade do TrateCov
Durante seu depoimento aos senadores, Mayra desmentiu o ex-ministro Eduardo Pazuello. De acordo com a secretária do Ministério da Saúde, o aplicativo TrateCov não foi hackeado, como havia dito o ex-ministro à CPI, mas o que ocorreu foi uma “extração indevida de dados”.

O Ministério da Saúde retirou o TrateCov do ar em janeiro após denúncias de que a ferramenta recomendava o “tratamento precoce” e medicamentos como cloroquina e ivermectina para pessoas que preenchessem a plataforma em busca de orientações sobre a Covid-19.

Situação em Manaus
Outro desencontro de informações se dá acerca da crise de desabastecimento de oxigênio na cidade de Manaus. Mayra informou que ex-ministro Eduardo Pazuello teve conhecimento do desabastecimento no dia 8 de janeiro. No entanto, Pazuello disse aos senadores que havia sido informado sobre a falta de oxigênio em Manaus apenas na noite do dia 10 de janeiro.

Mayra ainda afirmou aos senadores que não soube dos problemas de abastecimento de oxigênio em Manaus enquanto esteve na cidade. A representante do Ministério da Saúde esteve na capital do Amazonas entre os dias 3 e 5 de janeiro.

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