ARTIGO

No limite da insensatez

O governo tem que se abrir para o diálogo com os empresários, centrais sindicais, aposentados
No limite da insensatez

Alessandro Dantas

Estamos perplexos com tudo o que está acontecendo. Como uma noite sem fim, nos deparamos com a nossa própria incapacidade de entendimento. Perdemos o rumo neste labirinto de ódios e ideologias que virou o nosso País. Somos frágeis como cristais órfãos em brechós e afins.

Há uma total falta de sintonia entre os Poderes. Cada um segue um caminho diferente. E todos querem ser protagonistas. Isso é um equívoco que vai nos custar caro. Há uma crise na saúde sem precedentes. Idem no social, na economia e na política. Todos tinham que estar sentados à mesa, discutindo soluções viáveis.

A saúde do nosso povo é prioridade. O Covid 19 é uma realidade. Faça-se o que tiver de ser feito. E tudo o que for feito ainda será pouco: fechamento das fronteiras, restrição de voos internacionais, triagem em aeroportos, portos e rodoviárias, isolamento social (físico). Temos que redirecionar o Orçamento da União.

Não podemos pecar pela negligência e pela rigidez fiscal. É preciso salvar vidas. É urgente o investimento em respiradores artificiais. Temos que por fim ao teto dos gastos, fortalecer o SUS, criar mais leitos de UTIs, expandir o Bolsa Família, os benefícios da previdência e fazer cumprir a Lei que criou a renda básica de cidadania.

Enquanto vários países caminham na direção do bem estar, criando resguardo e agindo pela manutenção dos direitos sociais – cito aqui o Reino Unido que vai pagar os salários de trabalhadores para evitar demissões – o governo brasileiro edita uma medida provisória (MP 927/2020) que penaliza os trabalhadores.

Felizmente ele caiu na real e revogou o artigo 18, que permite a suspensão do contrato de trabalho por quatro meses sem salário. Mas há mais crueldades nessa MP que precisam ser barradas: celebração de acordos individuais entre empregado e empregador, passando por cima da CLT e acordos coletivos e a fragilização da fiscalização, o que atingiria, em cheio, a segurança e a saúde do trabalhador.

Ora, ora… por que não baixar as taxas de juros, não permitir cortes de água e luz por quatro meses e congelar o pagamento de empréstimos consignados dos aposentados pelo mesmo período?  O governo tem que se abrir para o diálogo com os empresários, centrais sindicais, aposentados.

Se o Brasil insistir no caminho inverso, diferentemente do que o mundo está fazendo, teremos cerca de 40 milhões de desempregados. E isso seria o caos. Não estou nem falando nos 45 milhões que trabalham hoje na informalidade, sem direito algum. Neste momento, não podemos dar as costas à nossa gente. Por isso, creio eu, estamos no limite da insensatez.

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