subemprego

No país do trabalho precarizado, carteira assinada é luxo

Apesar da discreta melhora no índice de ocupação, IBGE mostra que Brasil vive pior momento de informalidade em 10 anos
No país do trabalho precarizado, carteira assinada é luxo

Foto: Agência PT

Desde 2012, quando os dados começaram a ser medidos, não existem tantos empregados sem carteira assinada no setor privado. Do semestre anterior para este, 2,8% dos empregos criados estão na informalidade. São cerca de 355 mil postos de trabalho. Os números foram divulgados nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base na Pnad Contínua, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

O cenário em nada lembra o de uma década atrás, refresca a memória o senador Paulo Paim (PT-RS): “nos governos do PT foram criados 22 milhões de empregos de qualidade, com carteira assinada, com direitos sociais e trabalhistas assegurados. Isso é dignidade.”

Pelo menos houve leve aumento do número de vagas. O desemprego no Brasil recuou para 8,9% no trimestre que se encerrou em agosto, queda de 0,9 ponto em relação ao trimestre anterior, encerrado em maio. Mas longe da frieza percentual, importa que são 9,7 milhões de trabalhadores sem emprego, 30% deles há mais de dois anos procurando ocupação remunerada. E mais de um terço dessas pessoas que estão cansadas de tentar uma vaga não tem o ensino médio completo.

Também por isso, o crescimento do número de empregos no último trimestre se deu em postos de trabalho com menor exigência de qualificação. Consequentemente, com menor remuneração. O dado não passou despercebido pelo economista Bruno Moretti, assessor da bancada do PT no Senado. Ele também avalia que, embora tenha havido melhora do mercado de trabalho, ela não é sustentável.

“Espera-se uma desaceleração da economia neste segundo semestre e, principalmente, em 2023, ante os efeitos defasados do aumento da Selic. Perceba que crescem, especialmente, as ocupações com baixa remuneração, e os rendimentos seguem abaixo do mesmo período no ano passado. As famílias pobres ainda sofrem com uma inflação de alimentos de 13% em 12 meses. A taxa de informalidade é de quase 40%. O crescimento do setor de serviços, intensivo em ocupações, deve-se à reabertura da economia, e não ao aumento da renda. É neste sentido que ele não parece sustentável”, advertiu.

Voo de galinha
Para Bruno Moretti, a reabertura da economia fez com que o setor de serviços bombasse. De fato, boa parte das vagas que surgiram nos últimos meses está relacionada a serviços de limpeza, manutenção de escritórios, zeladoria e portarias de prédios de escritórios, o que coincide com a volta das atividades presenciais. “Como esse setor é muito intensivo em trabalho, o emprego reagiu fortemente. Mas, como disse, sem sustentação na renda, que segue baixa, e de forma efêmera”, acrescentou o economista, que aponta outra conta a ser cobrada no ano que vem.

“Há também o impacto dos estímulos temporários, como FGTS, o décimo terceiro do INSS e o aumento eleitoreiro do Auxílio Brasil, sem garantia de continuidade em 2023, conforme mostrado no Orçamento. Tudo feito pra gerar impacto no período eleitoral. Assim como a canetada do ICMS, que já está gerando uma fatura para os estados e municípios”, finalizou.

Em coro com Bruno Moretti, outros especialistas acreditam que a atual oferta de vagas está relacionada à redução gradativa da ociosidade na economia, e que o movimento de alta deve se esgotar. Ou seja, se nada for feito, a tendência, avaliam, é que haja uma reversão do atual movimento de queda já no fim do ano, com a possível volta aos dois dígitos do índice de desemprego em 2023. A previsão de novo desemprego em alta é, também, confirmada por estudo do Banco Itaú, publicado nesta semana.

Para evitar que a economia mantenha seu voo de galinha, esses economistas acreditam que solução, mesmo, só virá por meio do estímulo aos investimentos e ao crescimento econômico. E, no varejo, sugerem políticas públicas voltadas à inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, o que inclui, por exemplo, cursos de requalificação.

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