“Não foi a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito.” Essas foram algumas das palavras ditas pelo jogador do Real Madrid e da seleção brasileira Vinícius Júnior após mais um caso de racismo direcionado contra o atleta brasileiro em solo espanhol.
O caso mais recente ocorreu no último domingo (21/5), durante partida contra o Valencia pelo campeonato espanhol. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram que, mesmo antes de a partida começar, torcedores que aguardavam o ônibus do Real Madrid chegar ao Estádio Mestalla já proferiam xingamentos e ataques racistas direcionados ao brasileiro.
Durante a partida, os insultos se intensificaram. Após identificar torcedores que o ofendiam com ataques racistas, Vini Jr chegou a comunicar o árbitro. A partida ficou paralisada por alguns momentos, mas, após uma confusão generalizada no gramado, o árbitro acabou expulsando o jogador. O estádio, em quase sua totalidade, berrava ofensas raciais e palavrões.
“Nossa solidariedade ao jogador brasileiro, vítima, mais uma vez, de racismo na Espanha. Inaceitável que situações como essa continuem acontecendo. É necessário punir os responsáveis. As autoridades daquele país e a Fifa não podem se omitir mais”, disse o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado.
Líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), pai de duas crianças negras, também repudiou a atitude dos torcedores espanhóis e cobrou ações para o fim de tais crimes.
“Até quando vamos protestar por uma justiça racial tão elementar?! Como pai de duas crianças negras, espero que meus filhos possam viver em um mundo em que possam lutar por sucesso e felicidade e não puramente por existir. Força, Vini Júnior! Chega de racismo!”, cobrou Contarato.
O líder do Governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também exigiu atitudes da La Liga – organizadora do campeonato espanhol – e da Fifa.
“Infelizmente, o racismo se revela mais uma vez no futebol. Minha solidariedade ao jogador Vini Jr, que foi vítima de ofensas racistas e repugnantes. Esperamos que a Fifa responda com veemência a esse episódio inaceitável.”
O presidente da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), senador Humberto Costa (PT-PE), afirma que o racismo é “uma chaga que não dá tréguas”. “Seremos muito mais fortes e o combateremos em todos os fronts, incansavelmente. Nossa solidariedade ao bravo Vini Júnior.”
A senadora Teresa Leitão (PT-PE) destacou que os xingamentos contra Vini Jr “expõem um crime que precisa ser enfrentado e combatido”.
Rogério Carvalho (PT-SE), primeiro-secretário do Senado, apontou que a cada ataque racista contra um brasileiro, todos os mais de 118 milhões de pretos e pardos existentes no Brasil também são atacados.
“Quando um brasileiro chora pela violência do racismo, nossa Nação inteira chora junto. Basta de racismo! Minha solidariedade ao talentoso Vini Jr.”
Governo Lula anuncia medidas
O presidente Lula, que esteve no Japão nos últimos dias para participar da Cúpula do G7, cobrou, durante entrevista, ações efetivas por parte das autoridades do futebol espanhol e mundial.
“É importante que a Fifa e a liga espanhola tomem sérias providências, porque nós não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol”, disse.
Nota conjunta assinada pelos Ministérios do Esporte; da Igualdade Racial; das Relações Exteriores; da Justiça e Segurança Pública; e dos Direitos Humanos e da Cidadania repudia os reiterados ataques racistas sofridos pelo jogador brasileiro na Espanha.
No texto, o governo aponta para a necessidade de “as autoridades governamentais e esportivas da Espanha tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à Fifa e à La Liga a aplicar as medidas cabíveis”, diz trecho da nota.
Além disso, o Itamaraty chamará a embaixadora da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios, para dar explicações. No início do mês, Brasil e Espanha assinaram acordo bilateral para o combate ao racismo e à xenofobia.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, anunciou que as autoridades espanholas e a La Liga serão notificadas pelo governo brasileiro. Ela classificou os atos de racismo como “mal” que precisa ser combatido “na raiz”.
“O governo brasileiro não tolerará racismo nem aqui nem fora do Brasil! Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências.”
Via redes sociais, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, rebateu o posicionamento do presidente da La Liga, Javier Tebas, que acusou o jogador brasileiro de exagerar nas críticas à negligência da liga espanhola em relação aos casos de racismo.
“O futebol, especialmente na Europa, se converteu em um espaço de livre manifestação do ódio racial. As entidades esportivas e seus dirigentes ficam paralisados, e os patrocinadores convenientemente se calam. Há que se caminhar em direção a uma nova governança em relação ao esporte. Os casos de racismo e assédio têm evidenciado a falta de mecanismos institucionais que assegurem o respeito e a proteção aos direitos humanos na seara esportiva”, indica o ministro.
No Brasil, Lei Geral do Esporte representa avanço
Aprovada pelo plenário do Senado no último dia 9 de maio, a Lei Geral do Esporte (PL 1825/2022) traz um conjunto de medidas contra condutas discriminatórias no texto.
O projeto prevê, por exemplo, punição para as torcidas organizadas por condutas discriminatórias, racistas, xenófobas, homofóbicas ou transfóbicas. As torcidas podem ficar impedidas de comparecer a eventos esportivos pelo prazo de até cinco anos.
O texto aguarda a sanção do presidente Lula para entrar em vigor.