Direitos iguais

Obrigação de igualdade salarial entre homens e mulheres agora só depende do plenário

Proposta do governo Lula segue para análise em regime de urgência, depois de aprovação em três comissões no mesmo dia, mostrando compromisso do Senado com o tema
Obrigação de igualdade salarial entre homens e mulheres agora só depende do plenário

Mulheres comemoram aprovação do PL da igualdade salarial. Foto: Alessandro Dantas

As mulheres do Brasil estão mais próximas de obter uma vitória histórica, com o avanço na tramitação do Projeto de Lei (PL 1085/2023) – garantia de igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função. As comissões de Assuntos Econômicos (CAE), Assuntos Sociais (CAS) e Direitos Humanos (CDH) aprovaram, nesta quarta-feira (31/5), a proposta do governo Lula, que segue agora para análise do plenário.

A proposta, apresentada pelo presidente Lula no último Dia da Mulher (8/3), estabelece regras para o cumprimento da igualdade salarial entre homens e mulheres. O texto prevê multa de dez vezes o maior salário pago pela empresa em caso de descumprimento da igualdade salarial.

Em caso de reincidência, a multa será elevada em 100%. A mulher prejudicada ainda poderá ser indenizada por danos morais, e a Justiça poderá emitir decisão liminar até que o processo seja finalizado para forçar a empresa ao pagamento imediato do salário. A proposta ainda prevê regulamentação, por parte do governo, acerca dos critérios remuneratórios de que trata o projeto.

“Que a gente comemore o Dia da Mulher de 2024 de uma forma diferenciada. Mulheres e homens, direitos iguais e salários iguais”, comemora a senadora Teresa Leitão (PT-PE), relatora da matéria na CAE e na CAS.

Senadora Teresa Leitão (PT-PE) realiza defesa do projeto na Comissão de Assuntos Econômicos. Foto: Alessandro Dantas

Para a senadora Augusta Brito (PT-CE), é lamentável o Brasil necessitar, no ano de 2023, aprovar uma proposta dessa natureza para pôr fim a desigualdade existente. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um homem.

No caso de mulheres pretas ou pardas, que seguem na base da desigualdade social e de renda no Brasil, o cenário é ainda mais grave: elas recebem, em média, menos da metade dos salários dos homens brancos (46%).

“Eu tenho até vergonha de falar que nos dias de hoje precisamos aprovar um projeto para que as pessoas entendam que mulheres e homens têm que ganhar o mesmo salário se estiverem na mesma função. Isso chega a doer”, disse Augusta.

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, esteve no Senado para acompanhar a votação nas comissões, e destacou a “urgência” da pauta para as mulheres do país.

“Não podemos tirar a igualdade salarial, em hipótese nenhuma, da urgência. Não podemos aceitar que a desigualdade com as mulheres saia da pauta. Isso é crucial, estratégico. Queremos estabelecer que este é um país que respeita as mulheres, garantindo a igualdade, estabelecer parâmetros para que, de fato, as mulheres se sintam cidadãs”, enfatiza.

O líder do Governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também agradeceu a postura da ministra Cida Gonçalves na construção do consenso que possibilitou o avanço do projeto.

“Houve uma evolução significativa na construção da proposta, e agradeço à ministra Cida Gonçalves. A igualdade de critérios remuneratórios contida no projeto se restringe aos fatores que podem ser objetiva e integralmente definidos pelo empregador. Foi feito um esforço para encontrar uma saída. A saída encontrada, por todos, retira as preocupações anteriores e vai ao encontro do que as mulheres querem. Que não haja um critério subjetivo de discriminação pela questão de gênero”, detalha.

80 anos depois da CLT

A Constituição, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e acordos internacionais dos quais o Brasil faz parte estabelecem que, sendo idêntica a função no mesmo estabelecimento empresarial, o salário tem de ser igual, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade. Apesar disso, a realidade no Brasil se mostra alheia às legislações.

“É importante que empresas, governo e sociedade trabalhem juntos para eliminar a discriminação de gênero no ambiente de trabalho e garantir salários justos e equitativos para todos, independentemente do gênero”, apela o senador Paulo Paim (PT-RS).

Mulheres acompanham votação da proposta em comissão do Senado. Foto: Alessandro Dantas

Além de aumentar as penalidades às empresas com práticas discriminatórias, o projeto também estabelece mecanismos para permitir a comparação objetiva dos salários e das remunerações de homens e das mulheres. O objetivo é básico: atingir a igualdade de direitos no mundo do trabalho.

“Esse é um tema central para nós equilibrarmos as relações sociais no país. Não é o gênero que diferencia uma pessoa da outra. O que deve diferenciar uma pessoa da outra é aquilo que ela faz, ou não, na sociedade. Aquilo que ela contribui, ou não. Gênero e raça não pode ser instrumento de diferenciação para a vida em sociedade”, justifica o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

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