Paradigmas em trânsito – Por Marta Suplicy

Estou fascinada por estar vivendo neste momento privilegiado por que passa o mundo: uma mudança de ciclo histórico. Em si só, já seria interessante viver no século 21, mas o fenômeno que o torna especial é que nunca antes o mundo se comunicou tanto, em todos os países e classes.

 

As redes sociais criam uma exposição a tudo, em tempo real, o tempo todo. Há uma aceleração histórica, cada vez mais veloz, impulsionada por um mundo cujos paradigmas são difundidos de maneira “viral”, como em uma epidemia.

Instalou-se uma mudança radical com enorme potencial para transformações, que espero que sejam positivas para a humanidade. E também problemas não pensados na dimensão/repercussão que hoje a comunicação em tempo real propicia -seja para a pornografia, a pedofilia, o bullying, para sites falsos e chantagens, seja para a aquisição de conhecimento e informação ou para relacionamentos enriquecedores.

A história como um todo vai se modificando cada vez mais rapidamente até ultrapassar as possibilidades do cidadão comum compreendê-la.

Há 80 anos, nós, mulheres, não éramos consideradas capazes de discernir ou de eleger nossos representantes. Agora, elegemos uma presidenta. Esse tempo que levamos já foi muito mais rápido do que os milhões de anos que a humanidade levou para sair da pré-história, e maior do que as mudanças que virão com as novas tecnologias.

Um novo ritmo ou estrutura mental já está presente e deixa muitos filmes antigos “datados” pela lerdeza em contar uma história. Além disso, os que nasceram na era digital têm intimidade e medo zero da tecnologia, e já raciocinam com outros parâmetros.

Pouco a pouco, estamos atingindo um novo paradigma, no qual aspirações, sonhos, indignação, conquistas e ideias não precisam de séculos para se tornarem caldos culturais. A interatividade e a diversidade propõem reavaliações e condutas políticas e financeiras que exigem dos estadistas avaliações e ações sem tempo de maturação.

O tempo real exige um Estado democrático, uma política não corrupta, meritocracia, uma cabeça baseada na igualdade -e não no domínio do outro- e, principalmente, outros valores. O grande problema que vivemos é que usamos a violência, a guerra, os massacres e o antigo receituário econômico para reprimir um mundo novo nascente.

Nós não podemos combater esse mundo com mentes e métodos velhos. Ou chegamos a uma nova ordem econômica e social, uma representação política que absorva as novas tecnologias para outro tipo de participação, ou estaremos fechando os olhos para a nova era que pede mudanças drásticas.

A senadora Marta Suplicy escreve aos sábados para a Folha de S. Paulo

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