fim da escala 6 por 1

Parlamentares do PT apoiam em massa PEC de redução da jornada de trabalho, luta antiga do partido

Luta histórica do PT, jornada menor já era defendida por nomes como Paulo Paim e Lula durante a Assembleia Constituinte. Hoje, várias propostas de deputados e senadores do PT tramitam no Congresso Nacional sobre o tema

Foto: Divulgação/VAT

Parlamentares do PT apoiam em massa PEC de redução da jornada de trabalho, luta antiga do partido

Manifestação a favor do fim da escala 6×1: PEC está sendo travada por parlamentares bolsonaristas

A discussão sobre a possibilidade da redução da jornada de trabalho no país tomou as redes sociais nos últimos dias com a iniciativa da deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) de conseguir, no mínimo, 171 assinaturas para protocolar e dar início à tramitação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que defende uma mudança na chamada escala 6 por 1 — em que o empregado cumpre seis dias de trabalho para ter direito a uma folga.

Logo no início de sua justificativa, a deputada menciona uma petição pública online criada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), liderado pelo vereador recém-eleito Rick Azevedo (Psol-RJ), que defende o fim dessa jornada.

Na manhã desta terça-feira (12/11), a proposta já havia recebido 134 assinaturas. Destas, 67 de deputados e deputadas do Partido dos Trabalhadores.

Na proposição protocolada em 1º de maio deste ano, Dia do Trabalhador, a parlamentar defende que o país adote a jornada de trabalho de quatro dias, e prevê mudanças no número de horas trabalhadas.

Hoje, a carga horária estabelecida pelo artigo 7º da Constituição Federal de 1988 determina ao trabalhador um expediente não superior a oito horas diárias e 44 horas semanais.

O texto inicial da PEC sugere que o limite caia para 36 horas semanais, sem alteração na carga máxima diária de oito horas e sem redução salarial. Isso permitiria que o país adotasse o modelo de quatro dias de trabalho. “É muito bom ver que novos parlamentares, como a deputada federal Erika Hilton, estão sintonizados com as demandas históricas dos trabalhadores”, elogia o senador Paulo Paim (PT-RS).

O próprio senador é autor de uma proposição sobre o tema. Em 2015, Paulo Paim apresentou uma PEC que estabelece a redução da jornada de trabalho semanal, de forma que a duração não ultrapasse oito horas diárias e o total semanal seja diminuído gradualmente: limitado a 40 horas, a partir da aprovação da emenda, seria reduzido em uma hora a cada ano, até chegar ao número de 36 horas semanais.

“A redução da jornada de trabalho sem redução salarial é uma luta muito antiga da classe trabalhadora. Quando o trabalhador tem mais tempo livre, ele pode se qualificar, passar mais tempo com a família, estudar, cuidar da sua saúde, ter lazer. Essa mudança pode melhorar a qualidade de vida de muita gente e gerar milhões de novos empregos”, aponta Paim.

Enviada à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a PEC 148/2015 não chegou a ser votada e acabou arquivada, em 2022. No ano passado, o senador pediu o desarquivamento, e a proposta voltou a tramitar. O texto aguarda análise na CCJ, sob relatoria de Rogério Carvalho (PT-SE).

“Estamos acompanhando o debate pelo fim da jornada 6 por 1. Temos uma PEC tramitando no Senado desde 2015, do senador Paulo Paim, que cria a jornada de 36 horas. Eu sou o relator na CCJ. Com essa PEC, vamos ter cinco dias de trabalho e dois de descanso com uma jornada máxima diária de oito horas e sem redução de salário”, explicou Rogério.

Na última quarta-feira (13/11), o senador Rogério Carvalho protocolou o relatório favorável à proposta apresentada pelo senador Paulo Paim. Agora, o texto aguarda a definição do senador Davi Alcolumbre (União-AP) para entrar na pauta de votações do colegiado.

Rogério defende redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais

Na própria Câmara dos Deputados, outra proposta apresentada pelo PT propõe a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais. A PEC 221/2019, apresentada pelo deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), aguarda a designação de um novo relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados após o deputado Tarcísio Mota (Psol-RJ) sair do colegiado.

“Enxergo na redução da jornada de trabalho não apenas uma evolução social, mas também um impulso econômico, gerando oportunidades e fortalecendo a sustentabilidade. Reduzir a jornada de trabalho é gerar mais empregos, diminuir a informalidade e precarização, aumentar salários e produtividade, e impulsionar o consumo, criando um ciclo virtuoso na economia onde todos ganham”, defende Reginaldo Lopes.

Atualmente a CCJC da Câmara dos Deputados, onde se encontra a proposta de Reginaldo Lopes, é presidida pela bolsonarista Caroline di Toni (PL-SC). Obrigatoriamente, todas as propostas de mudança constitucional devem passar pelo colegiado para terem aceita a sua admissibilidade.

Maior bancada da Câmara dos Deputados, com 93 parlamentares, até o momento, o PL tem apenas um deputado subscrevendo a proposta de redução da jornada encabeçada por Erika Hilton.

Luta histórica do PT

Antes de todas as propostas em tramitação atualmente, a pauta foi discutida em 1987. Durante a Assembleia Constituinte, parlamentares defenderam, na discussão do trecho que trata dos direitos do trabalhador na Constituição, que o limite de horas semanais fosse reduzido de 48 horas para 40 horas.

O senador Paulo Paim e o atual presidente Lula, membros da Assembleia Constituinte, foram alguns dos defensores. A tese acabou rejeitada e foi vencida pelo texto atualmente em vigor, que limita o trabalho a 44 horas por semana.

Na Constituinte, o então deputado Lula (à dir.) brigou pela aprovação das 40 horas semanais Foto: Arquivo/Senado Federal

Fim da escala 6×1: PEC de Reginaldo Lopes propõe redução da jornada para 36h semanais

Apoio nas redes

Os senadores do PT usaram as redes sociais para dar apoio à deputada Erika Hilton na coleta de assinaturas para a proposta e destacar os benefícios para os trabalhadores da adoção de uma jornada reduzida.

A senadora Augusta Brito (PT-CE) lembrou da dupla jornada enfrentada por muitas mulheres brasileiras, que, além de trabalharem, precisam também cuidar – muitas vezes, sozinhas – de todos os afazeres domésticos.

“Nós somos totalmente contra essa jornada 6 por 1. Sabemos como é cansativa essa jornada de trabalho, especialmente, para nós mulheres. Além de ter essa jornada cansativa de seis dias de trabalho seguidos, ainda precisa chegar em casa e ter outra jornada com os cuidados de casa. Estamos aqui para dar total apoio a essa PEC, que tramitará inicialmente na Câmara dos Deputados”, disse.  

Já o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo Lula no Congresso Nacional, disse que essa é uma excelente oportunidade para atualizar a legislação trabalhista em benefício dos trabalhadores.  

“Ao contrário da máxima, ensinada após a Revolução Industrial, tempo não é dinheiro. Isso é uma brutalidade. É como se o dinheiro fosse o dono do nosso tempo. Como diz o professor Antônio Cândido, ‘Tempo é o tecido da nossa vida’. Sempre é dito que a CLT tem que ser atualizada. Sempre a atualizam aos interesses patronais. É chegada a hora de atualizá-la ao tempo presente, conforme o interesse de milhões de trabalhadores que são explorados. Por isto, apoio o fim da escala 6 por 1”, afirmou.

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) falou da necessidade de se garantir uma jornada de trabalho mais digna e disse confiar na sensibilidade dos deputados para que a proposta apresentada pela deputada Erika Hilton possa iniciar sua tramitação.

“Sou a favor da PEC que pretende acabar com a escala 6 por 1. Precisamos garantir uma jornada de trabalho mais justa e humana para todas as brasileiras e todos os brasileiros. Por ora, a PEC, de iniciativa da deputada Erika Hilton, está em análise na Câmara dos Deputados. Confio na sensibilidade dos deputados para que a proposta tramite e seja aprovada. E, quando ela chegar ao Senado, podem contar comigo”, disse.

A senadora Teresa Leitão (PT-PE) afirmou ser necessário unir esforços, neste momento, para que a jornada de trabalho seja, efetivamente, reduzida e o trabalhador possa ser beneficiado com mais tempo fora do ambiente laboral.  

“O PT sempre foi favorável à uma jornada digna de trabalho. Desde a Constituição nós conseguimos reduzir de 48 para 44 horas semanais. A jornada 6 por 1 é desumana. Esse é o momento de juntarmos forças, agregarmos conteúdos que já estão em discussão para que o objetivo principal seja alcançado. Os trabalhadores e trabalhadoras estão adoecendo, estão sem vida além do trabalho”, disse a senadora.

Experiências pelo mundo e teste no Brasil

Reportagem da Agência Senado apresenta dados da Organização das Nações Unidas (ONU) com experiências com a redução da jornada de trabalho. Países como Holanda, Bélgica, Dinamarca e Alemanha começaram a aplicação de uma jornada de trabalho reduzida, chegando a cerca de 32 horas semanais em algumas dessas nações, com média de horas trabalhadas ainda menor. Na Alemanha, por exemplo, a média de horas trabalhadas semanalmente é de 25,94 horas.

O Congresso do Chile aprovou, no ano passado, uma lei que diminui a semana de trabalho para 40 horas. Antes, o trabalhador fazia uma jornada de 45 horas semanais. Neste ano, a jornada de trabalho será reduzida para 44 horas. Após três anos, o limite será de 42 horas, e após cinco anos, chegará a 40 horas. 

Na Espanha, o governo destinou 9,6 milhões de euros (o equivalente a R$ 52,4 milhões) para empresas que reduzirem a jornada de trabalho para quatro dias semanais sem alteração no salário. 

Jilmar Tatto: “Fim da escala 6 x 1 é luta histórica da classe trabalhadora e bandeira do PT”

A semana de trabalho de quatro dias está sendo testada no 4 Day Week Brazil, versão brasileira do projeto criado por uma entidade neozelandesa sem fins lucrativos, a 4 Day Week Global, para incentivar a adoção da jornada reduzida por todo o mundo. O Brasil é o primeiro país da América do Sul a testar o programa, com 21 empresas participantes, em parceria com a Reconnect Happiness at Work, consultoria especializada em bem-estar no trabalho. A experiência teve início em janeiro deste ano e foi finalizada em julho.

No piloto entre empresas brasileiras, foi adotado o modelo de trabalho chamado de 100-80-100, que consiste em produzir 100% do tempo, reduzindo a jornada de trabalho em 80%, com 100% do salário. Os colaboradores do programa passaram por workshops e palestras durante quatro meses antes de começarem a implementar a redução da jornada.

Dados coletados em parceria com a FGV-EAESP revelaram que 61,5% dos participantes observaram melhorias na execução de projetos, 44,4% relataram uma capacidade aumentada de cumprir prazos, 82,4% sentiram um aumento de energia para realizar tarefas, e 62,7% experimentaram uma redução no estresse no trabalho.

Além disso, 85,4% notaram um incremento na colaboração entre colegas, enquanto 65% relataram uma redução na exaustão e 74% observaram uma melhoria na saúde física. Em termos financeiros, 72% das empresas participantes relataram um aumento na receita durante o período do piloto.

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