corrupção no mec

Presidente do FNDE nega que tenha participado de irregularidades

Em audiência, presidente de autarquia ligada ao Ministério da Educação negou ter presenciado negociatas feitas pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos para facilitar acesso de prefeitos a recursos públicos. "É constrangedor termos que estar aqui tratando de desvios do dinheiro sagrado da educação", criticou Paulo Paim
Presidente do FNDE nega que tenha participado de irregularidades

Foto: Alessandro Dantas

A Comissão de Educação (CE) ouviu nesta quinta-feira (7) o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional (FNDE), Marcelo Ponte acerca das denúncias de irregularidades publicadas na última semana e que levaram à queda do ministro da Educação, Milton Ribeiro.

Também estavam convidados a prestar esclarecimentos aos senadores, os pastores Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil. Mas ambos se recusaram a comparecer ao colegiado. Os dois são alvos de denúncias de corrupção ao cobrarem propina para facilitar o acesso de prefeitos aos recursos do órgão.

O presidente do FNDE afirmou aos senadores que ele e o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro tiveram, pelo menos, quatro agendas com os pastores dentro do MEC. Segundo ele, a participação era uma definição do próprio cerimonial do Ministério. “Às vezes fazia alguma fala, alguma oração. Foi o que eu percebi, que eu tive entendimento. Nada além disso que eu tenha percebido. Eram o que eles geralmente faziam”, justificou apontando que não presenciou os pastores fazendo negociatas em nome do órgão.

Segundo Marcelo Ponte, os pastores que faziam negociações e cobravam propinas de prefeitos em troca da liberação de recursos públicos devem ter utilizado seu nome e o nome do ex-ministro Milton Ribeiro sem autorização.

Durante a audiência, o presidente do FNDE também argumentou que não encontrou com prefeitos a pedidos dos pastores e afirmou que os repasses empenhados para as prefeituras citadas nas denúncias tiveram o repasse suspenso.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN) escancarou a morosidade do governo Bolsonaro no processo de liberação, até mesmo, de recursos obrigatórios para a educação. Ele cobrou do presidente do FNDE a entrega de ônibus escolares que o próprio senador custeou com emenda parlamentar ainda no ano de 2019.

Foto: Alessandro Dantas

Para Jean Paul, o fato de recursos terem sido empenhados em obras suspeitas de corrupção, até mesmo com a entrega de documentos em branco para burlar o sistema do governo, faz com que municípios que agem corretamente acabem prejudicados pelo direcionamento de recursos para fins indevidos.

“A gente precisa discutir, de fato, a superfície do processo que é esse sintoma final que acaba aparecendo no jornal com denúncias aqui e ali. É muito grave que a gente tenha intermediários, de qualquer tipo, no Ministério [da Educação] intermediando verbas. E o que sobra [de recursos] de um lado, falta do outro. Isso aqui é uma República. Todo mundo precisa ser atendido. Eu não preciso ir quatro vezes pedir pelo amor de Deus para ter liberação de emenda impositiva. A explicação [para a não liberação desses recursos] está nesse esquemão”, destacou Jean Paul.

Reportagens veiculadas pela imprensa na última semana trazem informações de que os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos formavam um gabinete paralelo junto ao então ministro da Educação, Milton Ribeiro, facilitando o acesso aos recursos do FNDE. Prefeitos relataram aos senadores na última terça-feira (5) que os pastores cobravam propina em ouro, dinheiro e até compra de Bíblias para destravar recursos públicos.

“É constrangedor termos que estar aqui tratando de desvios do dinheiro sagrado da educação. É triste estarmos aqui discutindo propina, superfaturamento. Enquanto isso, temos escolas sem as mínimas condições de funcionamento. [Temos] escolas sem cadeiras, sem material de limpeza, sem biblioteca, sem espaço para recreio e atividade física e sem água. Dói na alma”, lamentou o senador Paulo Paim (PT-RS).

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