crime de ódio

PT no Senado denuncia ao MP ataques contra deputada

Senadores do Partido dos Trabalhadores repudiam ataques de apresentador Ratinho contra a deputada Natália Bonavides (PT-RN) em plena concessão pública de rádio. Além da solidariedade, senador Humberto Costa denunciou o cometimento de crimes e pediu investigação ao Ministério Público Federal
PT no Senado denuncia ao MP ataques contra deputada

Foto: Câmara dos Deputados

A onda de solidariedade recebida pela deputada Natália Bonavides (PT-RN) – vítima do ódio bolsonarista externado pelo apresentador Ratinho – contou não apenas com o apoio da bancada do PT no Senado como também resultou em pedido para que o Ministério Público apure a ocorrência de crimes de ódio, incitação à violência e ameaça a parlamentar.

“Isso não é opinião. É crime e você vai pagar”, disparou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), autor de moção de solidariedade a Natália. “É necessário denunciar cada vez mais o que estamos vivendo no Brasil: uma deputada federal ameaçada por uma pessoa que diz ser comunicador. Jornalista este senhor não é. Só resta a Justiça mandá-lo para trás das grades”, afirmou.

Os ataques foram feitos em programa de rádio ao vivo e transmitido em rede nacional pela Rádio Massa FM, uma concessão pública controlada por Ratinho, conhecido por conduzir programas apelativos, carregados de preconceito, grosseria e ataques a adversários.

Nesta quarta-feira (15), ao criticar projeto de lei da deputada, afirmou: “Natália, você não tem o que fazer? Vá lavar roupa, costura a calça do teu marido, a cueca dele. Isso é uma imbecilidade. A gente tinha que eliminar esses loucos. Não dá para pegar uma metralhadora?” Ele se referia à proposta (PL 4004/2021) que altera o termo “vos declaro marido e mulher” por “firmado o casamento” em cerimônias de casamento civil, atendendo a pleito de casais LGTB.

Natália Bonavides reagiu com veemência aos ataques, denunciou o vídeo nas redes sociais e recebeu uma avalanche de apoios e mensagens de solidariedade. “Ele sugeriu que eu fosse metralhada em programa visto por milhares de pessoas. Incitar homicídio é crime! Ele coloca a minha vida e minha integridade física em risco. Essas ameaças e ataques covardes não ficarão impunes. O apresentador utilizou uma concessão pública para cometer crime. Vamos acioná-lo judicialmente e criminalmente”, afirmou a deputada, que também é advogada.

O senador Humberto Costa (PT-PE) foi além e, após repudiar as agressões, ingressou com pedido de investigação dos crimes no Ministério Público Federal de São Paulo, que tem à frente o procurador Márcio Schusterschitz da Silva Araújo. O mesmo pedido foi endereçado a Carlos Alberto Vilhena, chefe da Procuradoria Federal dos Direitos dos Cidadãos.

“Estou oficiando para que apurem o cometimento de crime por parte de Ratinho contra a deputada. Milhares de mulheres são agredidas dessa forma todos os dias. Não podemos aceitar esse tipo de comportamento, principalmente de alguém que se diz comunicador. Repudio totalmente essa agressão”, afirmou

O pedido aponta que, além de incitar o ódio “em plena transmissão a partir de concessão pública”, Ratinho promove uma “exortação ao homicídio, ao linchamento público” de uma parlamentar federal apenas por divergir da sua opinião. “A discordância é legítima e o debate de ideias é base da nossa democracia. No entanto, nada justifica a agressão física e moral; nada justifica a violência política”, afirma a ação.

Para o líder da Minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), o agressor misógino e preconceituoso demonstra “que não está capacitado para controlar uma concessão estatal” e anunciou que irá propor ao Congresso que reconsidere as concessões.

“Ratinho incita a violência e ofende a democracia quando fala em metralhar uma deputada eleita. Ataca todas as mulheres quando insinua que o lugar de uma delas não é no Congresso Nacional, mas num tanque de lavar roupas. É hora de um basta. O Brasil já não suporta essa violência. Lugar de mulher é onde ela quiser e o Congresso Nacional é um espaço delas. Vamos mover todos os recursos para que as concessões de TV de posse desse apresentador possam ser reconsideradas pelo Congresso”, disse Jean Paul.

Já o senador Rogério Carvalho (PT-SE) classificou o episódio como repugnante.
“A violência do Ratinho mostra o desprezo que este comunicador tem pelas mulheres. Inadmissível! A trajetória dele também revela o quão estreita é a empatia que tem pelos mais necessitados. Repugnante. Mal sabia ele que o ataque que fez tornaria a deputada ainda mais forte!”, afirmou.

“Ratinho extrapolou qualquer limite do direito de opinião e cometeu crime. Ele colocou a vida e a integridade física da deputada em risco. Em uma sociedade democrática e em pleno século 21, não se podem naturalizar ameaças, violência e ataques misóginos. Aberrações como a que foram cometidas, alcançando milhares de pessoas, devem ser punidas com o rigor da lei. O ódio não irá vencer”, afirmou em nota o líder do PT na Câmara, deputado Elvino Bohn Gass.

Também se manifestou a Secretaria Nacional de Mulheres do PT, que publicou nota de solidariedade e destacou que, “quando uma mulher assume espaços de poder, ela enfrenta ainda mais o peso do machismo da sociedade”.

“Não deve haver mais espaço na sociedade para silenciamento, opressão e intimidação de mulheres em espaço algum, sobretudo no espaço da política e da democracia. A covardia e a ameaça não devem ser o motor que guia os debates fundamentais para o país, ainda mais em um espaço de concessão pública”, diz a nota.

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