garimpo ilegal

Sem mantimentos, garimpeiros fogem das terras yanomami

Espaço aéreo fechado impede despejo de carga pelos aviões do crime; governo prioriza saúde indígena e prepara ataque aos campos de garimpo
Sem mantimentos, garimpeiros fogem das terras yanomami

Foto: Reprodução

Numa prova incontestável de que era possível acabar com o garimpo ilegal em terras Yanomami, vídeos espalhados pelas redes sociais mostram centenas de invasores em fuga nos últimos dias. Nesta segunda-feira (6), o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, disse esperar que 80% dessas pessoas deixem a região até o fim desta semana.

Nas imagens, invasores reclamam do fim dos voos de aeronaves usadas pelo garimpo ilegal, uma consequência da restrição do tráfego aéreo determinada pelo presidente Lula há uma semana. Sem esses sobrevoos, agora restritos a agentes públicos, os criminosos pararam de receber mantimentos para abastecer os pontos de garimpo. Alimentos e remédios, agora, só são despejados sobre as aldeias, onde equipes trabalham para recuperar a saúde da população.

“Após a ação do governo Lula, garimpeiros estão deixando o território yanomami. Uma tragédia humanitária abate indígenas da região que estão sob o cerco do garimpo e convivendo com problemas como a desnutrição. Desde que Lula assumiu, 75 toneladas de alimentos foram enviadas ao local”, comemorou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Ofensiva próxima
De acordo com Flávio Dino, o governo federal não vai fornecer resgate aos mais de 15 mil invasores de terras indígenas em Roraima. Por outro lado, o ministro da Defesa, José Múcio, recebeu apelos para que haja ajuda federal no resgate dos garimpeiros que se voluntariaram para sair das terras yanomamis. Os pedidos vieram do governador de Roraima, Antonio Denarium, e de congressistas.

A saída espontânea de envolvidos nessa atividade ilegal agradou a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que vê no êxodo um alívio para a operação militar de desocupação, preparada para ocorrer nos próximos dias. O cerco será feito por 500 homens da Polícia Federal (PF), Força Nacional de Segurança e Forças Armadas. Eles vão reforçar ações de combate ao garimpo ilegal e ajudar na apreensão e abate de máquinas e equipamentos utilizados pelos criminosos, assim como na destruição de pistas clandestinas.

O novo comportamento dos militares pode surpreender os yanomami, que nos últimos 4 anos se acostumaram a assistir ao Exército inerte diante dos invasores.

“Eles [militares] estão vendo os garimpeiros voando, pousando. Os pelotões não coíbem e não fazem vistoria”, denunciou Dário Kopenawa, filho mais velho do líder histórico yanomami, Davi Kopenawa, em entrevista há poucos dias para o jornal Brasil de Fato.

Junto com a varredura nas Terras Indígenas (TI) Yanomami, Flávio Dino comentou a apuração sobre os financiadores e donos do garimpo ilegal. “As investigações estão sendo feitas e continuarão. É uma situação de alta complexidade e é preciso planejamento […] O uso da força sem planejamento poderia piorar o problema em Roraima e não desejamos isso”, ponderou.

Crise humanitária
Problema histórico entre os yanomami, o garimpo ilegal explodiu no governo anterior. Em 2022, último ano de Bolsonaro, chegou a crescer 54%, de acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), em pesquisa conjunta com a Hutukara Associação Yanomami (HAY). E o desmatamento provocado por essa atividade criminosa aumentou 309%. A situação encontrada na região provocou a decretação de calamidade pública, há duas semanas, pelo governo Lula, que estima a presença de mais de 15 mil garimpeiros próximos ou dentro de terras yanomami. Junto com eles, vieram doenças, contaminação de água pelo mercúrio, além de vício em álcool, prostituição e estupros de meninas indígenas. Hoje, desnutrição e doenças como pneumonia e malária dizimam a população yanomami, que, atualmente, é de cerca de 28 mil indígenas.

Alternativas
A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, defende a adoção de um plano que ofereça alternativa econômica, uma ocupação aos garimpeiros ilegais. A saída de homens e mulheres da região dos yanomami vai aumentar o contingente de pessoas desocupadas nas cidades próximas, o que pode agravar um quadro que já é dos mais difíceis.

A região Norte é a que concentra o maior número de jovens entre 18 e 25 anos sem perspectiva, ou seja, que não estudam nem trabalham. Em entrevista recente à Folha de S. Paulo, a advogada Brenda Brito, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), reforçou uma preocupação que havia exposto em setembro em audiência pública no Senado: é preciso haver “investimento em escolas profissionais, escolas técnicas, alinhadas com a questão de bioeconomia, economia de baixo carbono. Isso pode ser um ganha-ganha para todo mundo”.

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