Pesquisa mostra preconceito contra jovens nas escolas

Pesquisa mostra preconceito contra jovens nas escolas

Foto: Alessandro DantasRafael Noronha

22 de novembro de 2016 | 14h20

Uma pesquisa inédita no Brasil apresentada, nesta terça-feira (22), durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH), mostra dados preocupantes e alarmantes sobre o ambiente enfrentado pelos jovens LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) nas escolas do País.

A pesquisa foi respondida pela internet por cerca de mil estudantes, com idades entre 13 e 21 anos, sobre que as experiências vividas nos ambientes educacionais durante o ano letivo de 2015.  A avaliação foi feita entre dezembro de 2015 e março de 2016.  O levantamento foi realizado em conjunto com outros cinco países da América Latina – Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Colômbia.

Os principais resultados da Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil – coordenada pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) – apontam que 60% dos participantes se sentiam inseguros na escola por se definirem como LGBTTT.

Outros 73% dos estudantes disseram ter sido agredidos verbalmente. 36% afirmaram ter sofrido agressões físicas. Índice igual, 36%, enfatizaram ter sido ineficaz a resposta dos profissionais das escolas para impedir tais agressões. Desses que sofreram agressão física, 39% afirmaram que ninguém da família falou com membros da equipe de profissionais da escola quando o estudante sofreu agressão ou violência.

Intolerância e preconceito
Para a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que presidiu a audiência, a pesquisa é extremamente importante por dar voz aos que, de fato, são atingidos por atos de intolerância e preconceito dentro das escolas do País. “Infelizmente, esse cotidiano ainda está presente no Brasil e no ambiente escolar. As crianças e adolescentes não devem ir à escola com medo. Devem ir para se desenvolverem como seres humanos completos e receberem as ferramentas adequadas para exercer sua cidadania em toda a sua plenitude”, apontou.

Júlio Dantas, presidente da Fundação Todo Mejora, localizada no Chile, e que trabalha na prevenção ao suicídio de jovens LGBT, disse que a pesquisa, realizada em diversos países da América Latina, tem o objetivo de auxiliar na construção e execução de políticas públicas voltadas para a área da educação.

Além disso, a pesquisa mostrou um conjunto de realidades bem distintas. No Chile, por exemplo, 68% dos estudantes que 31061507191 a69f3bc511 kFoto: Alessandro Dantassofrem algum tipo de violência na escola, ao chegar em casa e relatar a situação aos pais, não recebem nenhum tipo de apoio. “Percebemos a normalização da violência. E essa normalidade é algo que estamos tentando mudar”, disse.

Toni Reis, coordenador da pesquisa, explicou que a questão da violência contra os jovens LGBTT está diretamente ligada com o rendimento escolar dos alunos. Assim, segundo o estudo, quanto maior a agressão sofrida pelo aluno, pior é o seu rendimento escolar. “Ao discutir o Ideb – Índice de Desenvolvimento Básico da Educação -, temos de analisar essa questão. Discutir a questão do respeito dentro da escola também melhora qualidade do ensino”, apontou. “O que queremos se resume a respeito e tolerância”, resumiu.

A deputada federal Érika Kokay (PT-DF) lamentou que, no momento de uma ruptura democrática, haja uma construção de segmentos dentro do Congresso Nacional que trabalham no intuito de caçar direitos adquiridos. De acordo com a parlamentar, o crescimento da lógica fundamentalista é ameaçador à diversidade característica da população brasileira.

“A ruptura democrática sempre ameaça os direitos. Direitos e democracia têm uma relação umbilical. São os direitos que potencializam a democracia e a transformam numa democracia de alta intensidade. Se há uma ruptura, passamos a viver um processo de ameaça de todos esses direitos”, analisou.

A senadora Fátima Bezerra, membro da Comissão de Educação do Parlamento do Mercosul (Parlasul), prometeu levar a pesquisa para discussão nas próximas reuniões daquele colegiado.

 

Assista ao depoimento de uma jovem bissexual, narrado por Toni Reis:

Acesse a íntegra da pesquisa

Confira a apresentação de Toni Reis

Confira a apresentação de Júlio Dantas 

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