Gabriel dos Santos lembrou que, mesmo antes da MP, o Flamengo mudou estatuto para punir gestões temeráriasNa última audiência pública realizada pela Comissão Mista que analisa a Medida Provisória (MP 671/15), que refinancia a dívida dos clubes de futebol e exige contrapartidas para que as entidades não voltem a se afundar em dívidas, deputados e senadores ouviram representantes de torcidas organizadas acerca do que pensam os torcedores sobre a Medida Provisória e do momento atual do futebol no Brasil.
“O que vemos hoje é um estádio sem graça, sem jovens, sem pobres, com uma composição de pessoas mais velhas e com mais dinheiro. Estamos aqui para tentar travar esse tipo de política”, disse Gabriel dos Santos Garcia Namam, presidente da Torcida Organizada do Flamengo, Urubuzada.
Para ele, essa criminalização das torcidas organizadas passa pelo caráter econômico – afastar quem tem menos dinheiro dos estádios significa poder cobrar ingressos mais caros – e é por isso que talvez exista esse padrão FIFA nos estádios brasileiros que luta pelo extermínio das torcidas organizadas.
Sobre a Medida Provisória, o representante de uma das organizadas do Flamengo lembrou que, ano após ano, o clube carioca vem reduzindo suas dívidas e, mesmo antes da aprovação da MP, o Flamengo aprovou uma lei de responsabilidade própria que pune dirigentes por gestão temerária.
“O Flamengo já pune os seus dirigentes que não cumprirem o orçamento. Essa é uma medida que deveria ser estendida a todos os dirigentes do País. É muito triste você pagar caro no valor do ingresso, ter essa problemática da criminalização das torcidas e estádio vazio, sem graça e um time muito ruim em campo”, apontou. “Essa lei é muito importante no sentido da moralização. Além de você dar a possibilidade de os clubes terem uma vida econômica mais saudável ao longo do tempo, traz uma maior eficácia administrativa. Acredito que qualquer torcedor deseja que seu clube tenha esse tipo de gestão”, emendou.
Gabriel apontou uma preocupação com um ponto crucial da MP 671. A taxa de juros a ser aplicada no refinanciamento da dívida dos clubes. Para ele, não adianta refinanciar a dívida tendo como parâmetro a taxa Selic (taxa básica de juros da economia), pois isso tornaria a dívida impraticável após alguns anos.
Rodrigo Fonseca, presidente da Gaviões da Fiel, uma das torcidas organizadas do Corinthians, mostrou preocupação com confusão que tem sido feita com a modernização de gestão e responsabilidade fiscal que tem resultado na exclusão das populações menos favorecidas. “É importante analisar o fato de as médias de público cairem na mesma proporção em que sobem os valores dos ingressos no País. Também é clara a diferença de perfil de torcedor que frequenta os estádios nos dias atuais. Não achamos vantajosa a política de encarecimento dos ingressos, mesmo que apresente números de arrecadação que os dirigentes considerem satisfatórias”, apontou.
Preços populares
Para ele, uma forma de garantir renda aos clubes e estádios com melhores índices de lotação, seria que as arenas e estádios do País tivessem reservado, ao menos, 50% dos lugares a preços populares.
Para o vice-presidente do colegiado, deputado Andrés Sanchez (PT-SP), a culpa pelo esvaziamento dos estádios nos últimos anos, não é exclusivamente do preço dos ingressos. “O evento tem que ser atrativo. Deve se discutir um monte de coisa. O estádio tem mesmo que ser fatiado, mas deve existir um limite para meia-entrada, limite para entrada popular. E deixar isso tudo nas costas do clube é muito complicado”, disse.
O deputado Vicente Cândido (PT-SP) disse que as torcidas organizadas tem muita responsabilidade no processo de criação de uma nova cultura nos estádios e nas ruas do País. “Acredito que, a partir desse gesto, desse simbolismo, dessa sinergia, consigamos fazer esse gesto pedagógico, mais construtivo e exemplar. Sobretudo com a mídia. A Rede Globo deveria ser chamada para essa roda de debates para ajudar a colocar no ar os bons gestos”, apontou.
André Azevedo, presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil (Anatorg), destacou que tudo o que tem sido discutido pelos parlamentares para a melhoria do futebol em torno da Medida Provisória 671, apesar de não parecer na primeira leitura, impacta diretamente nos torcedores. “Tudo isso é para nós torcedores. Para que possamos ter um produto melhor”, disse.
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